O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva meteu-se em camisa de onze varas nesta questão da iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani, condenada a ser apedrejada até a morte por "crime" de adultério. Lula, homem de pequena instrução formal, incapaz de perceber e manter a conexão que as ideias devem guardar entre si, não tem condições de assimilar o intrincado labirinto das Relações Internacionais. Deixa-se levar pelos arroubos de Marco Aurélio Garcia que também não percebe a diferença entre uma sala de diretório acadêmico, onde reinou como agitador, e o mapa mundi, no qual não passa de figura hilariante.
O resultado desta salada mal temperada foi o erro crasso de o Presidente do Brasil dirigir-se diretamente ao Presidente do Irã ("companheiro Ahmadinejad"), para oferecer asilo a Sakineh, contra todas as regras da diplomacia, e descabidamente por não se tratar de crime político, nem a interessada o ter solicitado.
Ahmadinejad, para conter a gafe nos limites da descortesia e não ter de reagir diante da clara interferência em negócios internos de seu país, sequer se dignou a responder ao "companheiro" Lula. Incumbiu um aspone de terceiro escalão, porta-voz do Ministério de Relações Exteriores do Irã, Ramin Mehmanparast, de mostrar-se indulgente porque o emotivo "senhor Lula (...) não recebeu informações suficientes". De maneira mais sutil, repetiu o "Por que não te callas?" do Rei da Espanha a Hugo Chaves, porém acrescentado de um " não sabe do que está falando".
Segundo avaliação do Governo brasileiro – leia-se do cérebro privilegiado de Marco Aurélio Garcia, o Meternich da Azenha – a culpa é da imprensa. Se as "negociações" entre Brasil e Irã tivessem ocorrido nos bastidores, Lula traria Sakineh para cá e fecharia com "chave de ouro" os cinco meses que lhe restam de mandato. O fato de Lula ter conclamado o "companheiro Ahmadinejad" em comício eleitoral mostra que os repórteres são uns asnos. Como não perceberam que era tudo segredo de estado, apesar dos milhares de pessoas que estavam assistindo ao comício?
Lula, por sua vez, ficou feliz por ser considerado um homem emotivo e humanitário. Mas o aspone iraniano tem razão: ele não sabe do que está falando. Se soubesse estaria se juntando a milhões e milhões de vozes indignadas que se levantam em todo mundo, protestando contra mais este crime da feroz ditadura dos aiatolás.
Sakineh Mohammadi Ashtiani foi condenada inicialmente a 99 chibatadas por manter "relações sexuais" fora de casamento, crime segundo o fundamentalismo islâmico. A pena foi aplicada publicamente, testemunhada pelo seu filho.
Um dos homens com quem Sakineh manteve o relacionamento "ilícito" era o assassino de seu marido. Ao ser julgado, alegou já ser amante da mulher antes de cometer o homicídio, com a clara intenção de convencer os juízes que fora induzido por ela para fazer o que fez. Com isso, atenuou sua culpa naquele mundo de fanatismo medieval.
Sakineh foi julgada novamente, desta vez por adultério. Não há provas fora de sua participação, fora do alegado pelo assassino, tanto assim que dois juízes a absolveram. Três a condenaram à morte por lapidação. A imprensa tem noticiado "apedrejamento". Ainda que não seja incorreta, a palavra é insuficiente para descrever a crueldade do suplício: as pedras são desbastadas para ter bordas afiadas. Machucam, cortam, maceram a vítima, como se ela fosse submetida a um lento moedor de carnes.
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