segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O maganão – Jayme Copstein

Manoel, o filósofo português que não vê necessidade de inventar piada de brasileiro pergunta se a notícia é verdadeira. É verdadeira, sim.

Portaria do Ministério do Trabalho, de 2009, obriga as empresas brasileiras com mais de dez funcionários, a adotar máquina de ponto eletrônico que emitam recibo impresso toda a vez que o funcionário sair ou entrar. Bem mais de 20 milhões de papéis terão de ser emitidos por dia, "para evitar possíveis fraudes", segundo justificativa do Ministro Carlos Lupi.

Mas este não é o maior problema para se cumprir a exigência, em vigor a partir de 25 de agosto. Há necessidade de substituir um milhão de máquinas. Como a capacidade atual de produção do Brasil é de 100 mil unidades por ano, seriam necessários dez anos, no mínimo, para dar conta do recado.

Quando o Manoel soube que ainda não foram criados, em nenhum país do mundo, modelos que atendam às exigências inventadas pelo Ministro Carlos Lupi, ele deu aquela risadinha sarcástica e acrescentou: "Vosso ministro é um maganão, pois, pois."

Falta de cadeia

Com essa falta de cadeia que assola o país – vergonha na cara não se exige mais já há muito tempo – qual a estranheza que vereadores torrem 15 milhões de reais em diárias, para "cursos de qualificação" nas praias de Fortaleza ou no camelódromo de Foz de Iguaçu?

Houvesse um pingo de seriedade neste país, e o objetivo fosse mesmo qualificar vereadores, bastaria trazer os professores para ministrar os tais cursos nos próprios municípios dos interessados, sem ter de sangrar os cofres públicos.

No fundo, mesmo, o que falta é cadeia. Como em toda a corrupção sempre há um corruptor e um corrompido, fossem os mentores de tais "cursos" e os vereadores que os frequentam, postos a capinar as ruas e a recolher o lixo, certamente nasceriam todos muito qualificados, para proveito de todos nos.

A propósito

Por falar em falta de cadeia, artigo do promotor e jornalista Cláudio Brito, publicado ontem na Zero Hora, alerta sobre as benesses que os mentores do novo Código de Processo Penal estão engendrando para ampliar a já oceânica impunidade oferecida a toda a espécie de criminoso no Brasil.

Poderia repetir aqui as estarrecedoras revelações do Cláudio Brito, colhidas no convívio com seus colegas durante o Encontro Nacional dos Promotores de Justiça do Tribunal do Júri. Mas apenas faço um resumo do novo Código: "Artigo 1º - É terminantemente proibido e considerado crime hediondo, ser honesto no Brasil. Artigo 2º - Revogam-se as disposições em contrário".

E agora, Zé Sarney?

Zé Sarney, aquele do governo de triste memória que pôs na lata do lixo vários anos da História deste país, deve ter feito alguma coisa que desagradou seu parceiro, Luiz Inácio Lula da Silva. Não há outra explicação para o súbito reaquecimento das denúncias contra a milagrosa multiplicação dos pães e bolachinchas do Casal Murad – Roseana Sarney e seu marido, o padeiro Jorge Murad.

Desta vez, não dá para acusar Fernando Henrique Cardoso, como Zé Sarney fez da outra vez, quando foram flagrados esses mesmos "dinheiros não contabilizados". Naquela ocasião com o "coração de pai dilacerado pelas ofensas à sua inocente pimpolha" correu para ios braços de Lula que o esperava de braços abertos, para vesti-lo com uma "biografia de respeito".

E agora, Zé Sarney, que ficou claro quem é quem nessa história, vai correr para onde? Já não há mais braços tão abertos como antigamente.

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