A propósito da polêmica em torno do Cordoba Center, que a comunidade islâmica deseja construir em Nova York, nas proximidades do World Trade Center (WTC), Lucy Miriam escreve, sobre caso de gratuita intolerância religiosa, envolvendo um brasileiro no Egito. Ele é guia turístico. Foi preso na quarta-feira da semana passada com duas mulheres, também brasileiras, sob acusação de proselitismo religioso.
A identidade dos envolvidos não foi divulgada. As mulheres já foram libertadas. A Embaixada do Brasil no Cairo desenvolve esforços para que o homem também seja solto.
Qual foi o crime do brasileiro? Subiu no topo de uma pirâmide e começou para pregar a "sua" Salvação? Invadiu um minarete para proclamar que Allah é Allah, mas Maomé tem de disputar o ouro olímpico com Moisés, Paulo de Tarso ou Buda?
Nada disso. O brasileiro em questão é evangélico. Carregava no automóvel exemplares da Bíblia e alguns folhetos com textos religiosos. É crime em um país islâmico, mesmo no Egito onde o fundamentalismo não predomina.
Lucy Miriam mandou a notícia sem a intenção de incluí-la no debate sobre a construção do Cordoba Center, mas "para assinalar a hipocrisia com que o jornalismo internacional trata questões de liberdade de expressão, quando se trata dos Estados Unidos".
"Parece que o mundo vem abaixo", acrescenta Lucy Miriam. "Nem uma palavra mais severa é dita quando a conveniência política faz descer a venda e a mordaça da ideologia sobre o martírio dos bonzos tibetanos, sob o tacão da China, ou dos Bahá'is, sufocados pelos xiitas do Irã."
A leitora tem razão. Particularmente no que diz respeito aos Baha'is do Irã, há noticiário nos jornais, porém sem a veemência com que se trata agora o caso do Cordoba Center, em que ninguém foi preso por ser contra ou a favor. Em agosto passado, sete líderes Baha'is foram condenados no Irã, acusados de "espionagem para Israel, blasfêmia contra o Islã e corrupção na terra".
De fato, o centro místico da Fé Bahá'i (6 milhões de adeptos em 176 países, 57 mil no Brasil) foi erigido em Akko, cidade do Norte de Israel, quase na fronteira com o Líbano, onde está sepultado seu fundador, Mirzá Hussein Ali, conhecido como Bahá'u'lláh (título religioso). O santuário, porém, foi ali construído ainda no século 19, ao tempo do Império Otomano, quando perseguido pelos clérigos islâmicos, Mirzá Hussein Ali foi banido sucessivamente de Teerã, Bagdá, Constantinopla e Adrianópolis, até ser confinado em Akko, cidade-prisão, na qual faleceu.
Já, então, Bahá'u'lláh também era acusado de blasfêmia contra o Islã e corrupção na terra ao pregar a origem divina de todas as religiões, a igualdade para o homem e a mulher (em pleno Século 19!!!) e abolição dos dogmas e do clero, para tornar a devoção ao Criador exercício da liberdade de ser e de sentir de cada um. Só para os leitores terem ideia das terríveis blasfêmias de Mirzá Hussei Ali, eis alguns de seus pensamentos:
A luz é boa, não importa em que lâmpada brilhe (...) uma flor é bela, não importa em que jardim floresça.
Somos as folhas e os ramos de uma mesma árvore (...) as gotas de um único mar. A humanidade assemelha-se a um pássaro, uma asa é o homem e a outra, a mulher. O pássaro não pode alçar voo sem o equilíbrio dessas duas asas...
Deus é um, a religião é uma, a humanidade é uma... o objetivo da criação humana é conhecer e adorar a Deus... Todas as religiões provêm de um mesmo Deus.
Caro Jayme,
ResponderExcluirParabéns pela lucidez e clareza de seu artigo! Como bahá'í brasileiro sinto serem fundamentais manifestações como a sua para que possamos criar massa crítica na opinião pública de nosso país para que assim a voz da liberdade e da eliminação dos preconceito religioso brade bem alto para que as autoridades iranianas percebam que não iremos nos silenciar face as cruéis injustiças cometidas no Irã contra os bahá'ís e todas as minorias lá perseguidas, sejam elas étnicas, religiosas, homossexuais, e tantos outros.
Abraços,
Iradj