Moisés Mendes, dono de texto que se lê com prazer, referiu-se ontem em Zero Hora aos antigos programas de mensagens, em moda no rádio da década de 1960. Fui produtor de um desses programas – Alô, Rio Grande! – transmitido diariamente pela Rádio Farroupilha, de segunda a sábado.
O “Alô, Rio Grande” fora criado e era apresentado por Cândido Norberto, em rápida passagem pelos Diários Associados, logo após ter saído da Rádio Guaíba. por inspiração do superintendente Nelson Dimas de Oliveira, replicando um “Repórter Campineiro”, da Rádio Campina Grande, da Paraíba, de onde ele viera para o Rio Grande do Sul. Quando Cândido retornou à Rádio Gaúcha, seu lar de verdade, o programa coube a mim e se manteve no ar mais algum tempo até o Dentel (Departamento Nacional de Telecomunicações) o proibir por infringir o monopólio das comunicações que pertencia aos Correios.
Programas como “Alô, Rio Grande!” logo se disseminaram por todas as emissoras do Interior, gerando folclore, aproveitado com inteligência por Moisés Mendes. para dissecar as conversas cifradas dos “detrões”, neologismo cujo significado os leitores não terão a menor dificuldade em decifrar, se tiverem em mente a gatunagem do Detran.
Nada disso, porém, tem a ver com o sucesso daqueles programas que prestavam excelente serviço à população, suprindo a precariedade das comunicações no país. Dificilmente alguém nascido nos últimos 30 anos, capaz de falar instantaneamente com Tóquio pelo Skype, poderá imaginar a dificuldade de ligar de Porto Alegre para a Ilha da Pintada por razão bem simples: escassez dos telefones na Ilha da Pintada. Naquele tempo de telefonia estatizada, o telefone mais barato no chamado mercado negro custava 2,500 dólares, uma ligação para o Rio de Janeiro demorava de seis horas de a ser completada através da telefonista.
Imaginem vocês um seu Simplício, de Picada da Vaca, operado na Santa Casa de Porto Alegre, precisado mandar notícias para a família. Hoje, liga o celular e na hora mostra que está ao vivo e a cores. Naquela época só lhe restava o rádio: “Seu Simplício avisa que saiu tudo bem e pede para mandar a carroça esperá-lo na terça, à tardinha, no bolicho do seu Nagib”.
Naquela época, os salvadores da pátria ostentavam com grande orgulho o “nosso patrimônio”. Sempre fiquei em dúvida da abrangência deste “nosso”, pois além da multidão que não tinha acesso a telefone, conhecia uma senhora que era dona de 500 linhas telefônicas. Recebera um bom dinheiro do seguro, quando enviuvara e um consultor de negócio lhe indicou os telefones. Alugava o uso de cada linha a preços que variavam entre 150 a 500 cruzeiros, cabendo ao inquilino, é claro, pagar a conta da CRT.
Contudo, ela era lambaria em um mar de tubarões. É só ler os jornais da época, que eles estão coalhados de anúncios oferecendo a locação de telefones. Naquele tempo, que como hoje gerava sinecuras para gente do poder, tive de tirar empréstimo para conseguir arrematar uma linha em leilão judicial, por valor equivalente a 2500 dólares.
Santolin em Paris
De hoje até dia 30, horário comercial, no Press Café do Moinhos Shopping, Nilton Santolin expõe a Paris que enxergou através de sua câmera fotográfica. É um artista talentoso, capaz de descobrir o detalhe surpreendente na própria mesmice da rotina. Arte em preto e branco, rara nos dias de hoje. Vale à pena dar uma olhada.