domingo, 27 de setembro de 2009

Chocolate no hospício – Jayme Copstein

Pois a 2ª Cúpula América do Sul – África, encerrada ontem à noite em Ilha Marguerita, na Venezuela, dava a impressão de ser um bando de malucos, daqueles que a gente encontra em todo o hospício, cada qual fingindo que é diretor da casa.

Alguns até acham que são de verdade, porque podem explicar tudo sobre os demais loucos, sobre o funcionamento do hospício e só não conseguem convencer porque, em determinado momento, tiram uma barra de chocolate do bolso, jogam fora o chocolate e começam a comer a embalagem.

Começou com Hugo Chaves, democrático presidente da Venezuela, interferindo na política interna do Brasil. Abriu a Cúpula, com discurso, revelando que Dilma Roussef é sua candidata preferencial nas eleições de 2010: "Dilma será a próxima presidente do Brasil", ordenou Chavez, esperando ser obedecido sem discussão. Arrematou dizendo que Dilma será apenas um fantoche, como Cristina Kirchner: "Lula não irá embora, ele ficará, como Nestor Kirchner que se foi, mas não foi".

Lula, em seguida, preocupado com a política interna de Honduras – todos os problemas brasileiros já foram resolvidos – tirou a relevância do Conselho de Segurança da ONU, ao qual havia recorrido na quinta-feira, para repor Manuel Zelaya na presidência. O Conselho de Segurança só atua diante de ameaça real à paz mundial, mas como para ser presidente do Brasil não se precisa saber de muitas coisas, o Conselho condenou em linguagem cortês as tentativas de intimidação à embaixada brasileira em Tegucigalpa, esclarecendo, porém, que o problema é da alçada da OEA, a Organização dos Estados Americanos. Celso Amorim quis forçar a barra, tentando impor uma referência explícita de apoio à recondução de Zelaya. Acabou criticado pelo "tom do discurso".

Lula terá agora de explicar porque, em troca de uma fictícia cadeira no Conselho, passou quase sete anos de governo concedendo desde o status de nação de livre comércio à China comunista ao voto a um egípcio racista, sabotando a candidatura do brasileiro Márcio Barbosa à direção-geral da Unesco.

Alguém ou alguma coisa na reunião do G20 deve ter convencido Lula que a causa era perdida. Fez concessões demasiadas, e de graça, e agora desdenha do Conselho como as mulheres que se deixam seduzir com facilidade para serem abandonadas com a mesma facilidade pelos seus gigolôs.

Coisando

Fora da 2ª Cúpula, mas completando a hospício do fim-de-semana, a explicação de Hervé Morin, ministro de Defesa da França, para a queda de dois caças franceses Rafale: "O que sabemos, com base no depoimento do piloto, é que, a princípio, o avião não tem nada a ver com tudo isso". Ou como diria nosso irrevogável senador Aloizio Mercandante: "Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa."

Convocado o professor Enro Loll, catedrático da Sleevetea University of Big River e reputado especialista mundial na Teoria Geral das Coisas, em duas frases lapidares ele esclareceu a dúvida: "O avião só estava voando – isso é uma coisa. Caiu? – isto é outra coisa. E revoguem-se as irrevogáveis revogações em contrário."