O incidente gerou manchetes em jornal pelos seus paradoxos: o assaltante, por ser perigoso – e justamente por ser perigoso não podia ser levado à audiência em uma viatura comum, com acompanhamento de apenas um ou dois agentes, para que não fugisse. Então, por isso, foi posto em liberdade.
Com o perdão do trocadilho, justiça seja feita ao Judiciário do Rio Grande do Sul porque a moda não foi inventada aqui. Nasceu no Supremo Tribunal Federal quando integrantes da chamada "tropa de choque" do PCC, sob o mesmo fundamento, também soltos, após prisão por planejar assalto, não a bancos ou carros fortes, mas à Penitenciária 2 de Franco da Rocha. Segundo o apurado em escutas telefônicas da polícia paulista, a ação pretendia soltar 1.279 presos. Com o grupo, após cerrado tiroteio, foram apreendidos 5 submetralhadoras, 5 fuzis, 6 pistolas, 3 granadas, 2 revólveres e 5 coletes à prova de bala.
O ministro Carlos Ayres Britto fundamentou seu voto com estas palavras textuais: "falta de efetivo estatal para apresentação de presos ao juízo criminal, tendo em vista a alta periculosidade dos agentes". Acendeu-se o debate e sobreveio a indagação lógica: por que a Justiça brasileira não adota de um vez por todas a teleaudiência, já em uso na Europa, Estados e Canadá, que poupa os deslocamentos dos delinquentes perigosos e apressa os julgamentos? Pode-se fazer idéia da necessidade e até da urgência em adotá-la com os quase 200 milhões de reais gastos anualmente no Brasil para conduzir delinqüentes aos Foros.
Há magistrados argumentando que, sem a presença física do criminoso, é impossível detectar se ele não está coagido por algum agente penitenciário, ou até por outros detentos, a assumir culpas que não tem. Na prática, contudo, essa "ausência física" não tem impedido os próprios ministros do Supremo Tribunal Federal a conversarem nas redes sociais da Internet durante julgamentos, como já foram surpreendidos.
Houve até um magistrado que preferiu jogar xadrez com o computador,o que já nos enche de esperanças. Como todos sabemos, xadrez é um jogo que ajuda a abrir a mente, a ampliar as idéias e também a lembrar que há um população ordeira e indefesa, que não pode ficar à mercê de elucubrações bizantinas mais perigosas que os próprios delinqüentes que delas se beneficiam.