terça-feira, 29 de setembro de 2009

Morrer por Zelaya? – Jayme Copstein

Quem deseja morrer por Zelaya? A pergunta absurda nasce de uma idiotice levantada por alguém nos bastidores do Governo, transpirada e por fim abafada prontamente pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, com a declaração peremptória de que o Brasil "não pretende intervir militarmente em Honduras".

Durante todos esses anos, desde o fim da ditadura, redemocratizar significou para os patriotas de plantão sucatear as |Forças Armadas, como se a farda e não a insaciável fome de poder dos políticos fosse o obstáculo para normalizar a vida da Nação. Com alguns quartéis limitando o expediente à parte da tarde porque falta verba para o rancho, alguém falar em mandar tropas para a América Central é de rir.

O trágico em tudo é que há jornalista brasileiros brincando de correspondente de guerra, tentando impressionar leitores e ouvintes com as suas dificuldades de fazer a cobertura porque não conseguem entrar no prédio onde funcionava a nossa Embaixada. Funcionava,sim, hoje foi transformada em palanque de Manuel Zelaya, graças à trapalhada em que Marco Aurélio Garcia e seu obediente acólito, Celso Amorim, enfiaram Luiz Inácio Lula da Silva.

Seja qual for a evolução do quadro, as consequências para a imagem do Brasil são as mais desastrosas. Se Manuel Zelaya conseguir retornar à presidência, volta como ditador. A esta altura dos acontecimentos, excluindo-se uma improvável renúncia imediata de Roberto Micheletti para que o Judiciário assuma o poder, não há condições de se realizarem as eleições de novembro. O papel desempenhado pelo Itaramarti – sórdido, triste – terá sido o de contribuir para instalar uma ditadura na América Central.

Há, ainda, outra hipótese: que a crise hondurenha descambe para o confronto armado. Neste caso o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, terá deixado a marca da sua irresponsabilidade, manchando de sangue, como nenhum outro, a história brasileira.

Mural

Flávio L escreve sobre "A Reprise", coluna de ontem, em que é manifestada a falta de esperança em uma reforma política de fato. Repete sugestão que, de vez em quando, assoma entre os eleitores brasileiros e corre pela Internet: votar em branco ou anular o voto para protestar contra os corruptos. Não duvido das boas inteções de Flávio nem de muitos dos que propagam este duplo equívoco. Em primeiro lugar, voto em branco e voto anulo não anulam eleição. Apenas não são contados. Só existe uma possibilidade legal de se anular eleição no Brasil: fraude comprovada em mais de metade das urnas. Segundo equívoco: deixando de votar em candidatos honestos para castigar os corruptos, o eleitor está castigando os candidastos honestos e recompensando os corruptos.

Vamos supor que ocorresse a hipótese impossível, por tão remota, que todos os eleitores anulassem seus votos e só os candidatos votassem em si mesmos. Todos chegariam empatados com um voto cada um. Assim mesmo a eleição teria validade e estariam eleitos os mais velhos, pois a idade é o critério para o desempate. Será que as pessoas conseguem perceber a arapuca em que vão cair se derem ouvidos a esta sugestão? E só para terminar: vou deixando de votar, para protestar contra Hugo Chaves que a oposição venezuelana lhe deu maioria absoluta no Congresso, permitindo mudar a Constituição, ara se perpetuar no poder. Alguém quer fazer isso no Brasil?