quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Palavra contra palavra – Jayme Copstein

Lula, Celso Amorim e Marco Aurélio Garcia insistem na pergunta: "Vocês acreditam mais na palavra de um golpista do que na minha?", ao negar que sabiam dos planos de Manuel de Zelaya, de voltar a Tegucigalpa.

A primeira dificuldade é identificar o golpista em um quadro político que se tornou nebuloso quando Manuel Zelaya decidiu, contra decisão do Congresso e da Suprema Corte, convocar plebiscito para revogar cláusula pétrea da Constituição hondurenha, impeditiva de reeleição. A partir deste desacato, perdem-se as referências.

Celso Amorim foi ao nosso Congresso, demonstrar aos senadores que Zelaya apanhou o Brasil desprevenido. Não sabia de nada. De repente, Zelaya surgiu na embaixada. O Brasil teve de abrigá-lo – por cortesia...

Quando questionado com mais vigor por Álvaro Dias, do Paraná, Celso Amorim repetiu o bordão: "Se Vossa Excelência acredita mais na palavra de um golpista do que da minha, nada posso fazer." Logo em seguida, para mostrar que é bom menino e não faz xixi na cama, Amorim revelou que Zelaya pediu um avião para voltar a Tegucigalpa, mas o Brasil lhe negou. Amorim repetiu que o Brasil negou avião pedido por Zelaya. Por que negou? Nem perguntou para que ele queria o avião? Sequer quis saber o que ele pretendia fazer em Tegucigalpa? Simplesmente disse não? – que descortesia...

Lição antiga

"Mendaci claudus non cítius cápitur" = Mais depressa se pega um mentirosdo do que um coxo. Nada sei de latim, mas faço alkgumas exibições de preciosismo lingüístico para mostrar o valor de uma extraordinária, o "Dicionário de Expressões e Frases Latinas", do professor Henerik Kocher, obra que permanece inédita, o que é uma aberração se considerarmos as inutilidades e porcarias publicadas às toneladas no Brasil. Elaborado a partir de vasta bibliografia, o "Dicionário" tem 890 páginas e nele encontra-se tudo o que se procura em matéria de citação. Por exemplo: "Utque in corpóribus sic in império gravíssimus est morbus, qui a cápite diffúnditur". Traduzindo: "Como no corpo humano, assim também no governo, é mais grave a doença que se difunde a partir da cabeça". O autor da frase é Plínio, o Moço, que viveu no primeiro século da Era Cristã.

Esmola demais

Fico desconfiado de tanta e tão súbita popularidade. O Bradesco, do qual nunca fui cliente, preocupa-se com a minha segurança e me remete mensagem pela Internet, mandando instalar um não-sei-quê no meu computador, para evitar que fechem a conta que não tenho. Um bondoso desconhecido, cujo pai, ao que tudo indica, usufruiu de algum mensalão quando participou do Governo da Nigéria, deseja dividir comigo a fortuna herdada, mas como fiz votos de pobreza, apesar de não ser franciscano, sou forçado a recusar a generosa dádiva.

Até um delegado da Polícia Federal, em vez de me pôr logo na cadeia, certamente por suspeitar que sou um bom sujeito, resolver me avisar que vai me re-investigar, seja lá o que isto significa. Finalmente uma senhora tomada de ardente paixão, me remete fotos de uma orgia de que não participei e diz que sou muito bom de cama – imaginem, eu que estou nesta quadra da vida em que Viagra não eleva nem pensamento.

Não é de desconfiar de tanta popularidade, tão subitamente assomada? Nossos delinquentes realmente não têm nenhuma criatividade. Em plena era da informática, tentam golpes da Idade da Pedra.