Como no Brasil véspera de eleição começa no dia seguinte ao da eleição anterior, nossos parlamentos – da Câmara Federal em Brasília à Câmara Municipal de São João do Passa Quatro – não passam de meros palanques onde fazer oposição significa não deixar governar.
Quem nos ensina esta magistral lição é o atual presidente da República, Luiz Lula da Silva, com prática comprovada: foi oposição durante 16 anos, é governo há dois mandatos. Ele só tem uma queixa – que a oposição faça o que ele fazia com o Governo quando era oposição, ressalvada pequena diferença: os gatunos que acusava antes, agora o apóiam e foram recompensados com biografias de respeito.
O Rio Grande do Sul não podia fugir à regra. Mas, como não somos muito jeitosos para fazer as coisas, acabamos pondo os pés pelas mãos. Comissões parlamentares de inquérito são procedimentos para apurar desvios de conduta. Aplicam sanções às infrações da ética e denúnciam à Justiça, se comprovado, crime previsto pela legislação penal.
Pois inventaram uma CPI na Assembléia Legislativa do Estado, buscando na Justiça, antes mesmo da conclusão do procedimento judicial que apura responsabilidades penais no escândalo do Detran, elementos para depor a Yeda Crusius, cujo afastamento já foi negado pela juíza do processo. Em outras palavras: nossos ilustres deputados vão duplicar as mais de mil páginas do processo, paralisar a Assembléia e torrar uma verba montanhosa, só para acossar a governadora.
Não é mesmo uma beleza? Faz jus à sigla: Chanchada Para Incautos.
Coerência
Não acusem o ministro da Justiça, Tarso Genro, de incoerência. Está zangado com os ministros do STF que votaram pela extradição de Cesare Battisti, autor de vários homicídios na Itália. Tarso concedeu asilo ao terrorista porque, naturalmente, julgou que os crimes foram cometidos por uma boa causa. E quando extraditou os dois inofensivos boxeadores cubanos que também pediram asilo ao Brasil, foi porque não contribuíam para demonstrar que não era tão boa assim. Sempre pela causa.