quarta-feira, 2 de setembro de 2009

A porta da geladeira – Jayme Copstein

O presidente Lula, em manifestação anteontem, criticou o que chama de "oposição" pela ameaça de obstruir o projeto do pré-sal. O primeiro equívoco é incluir no mesmo chavão quem deseja tempo para examinar com mais profundidade o modelo proposto, cujos eventuais defeitos demandarão décadas para serem corrigidos, tal como aconteceu no próprio setor energético, isso sem falar na telefonia e nos transportes, cujas mazelas ainda estão patentes em nossa memória.
Na sua simploriedade, Lula, apesar das espertezas eleitoreiras, é incapaz de distinguir, na chamada "base aliada", quem não sofre da mercadântica carneirice que consegue revogar até o irrevogável, e deseja saber se o modelo é realmente o mais adequado. Por ter diante dos olhos apenas a eleição presidencial de 2014, quando espera regressar triunfalmente ao Planalto, Lula tem dificuldade de separar a riqueza do pré-sal do céu mais azul e das matas mais verdes ostentados orgulhosamente em nosso Hino. Daí comportar-se como o torcedor de futebol, com o rádio no ouvido, que abre a porta da geladeira para ajudar o goleador do seu time a converter um pênalti e acusa o juiz de ladrão porque deixou o goleador nervoso com a exigência das regras.
Não é outra a fonte da acusação de Lula, de que opositores estão sempre "achando que as coisas não devem dar certo porque acham que quem perde é o governo." No Sul temos um provérbio a calhar sobre as preocupações do Presidente: praga de urubu não mata cavalo gordo. Se a viabilidade econômica torna o pré-sal tudo isso que estão dizendo, não será a reflexão mais demorada sobre o modelo de exploração que nos impedirá de sermos felizes para sempre. É bem o contrário do que pensa e deseja quem tem pressa de se tornar o Rei do Brasil.
Eduardo Weiss escreve: "Na fábula de Esopo, A Lebre e a Tartaruga, a lebre subestima a tartaruga e resolve dar uma cochilada. Acaba perdendo a corrida. Moral: 'quanto mais devagar estamos, mais rápido chegamos à linha de chegada'. Alguém pressupõe que os engenheiros e demais especialistas da Petrobras vão dormir ao invés de pesquisar e planejar? A pecuária leiteira evoluiu bastante desde o século V a.C. Já as questões políticas, estas são inevitáveis, pois a empresa é hoje a 6ª mais lucrativa do mundo e a 34ª em porte (algumas fontes variam). Envolve e envolverá grandes emoções e interesses nos próximos 200 anos, época em que o petróleo se manterá como principal matriz energética. Política a parte, interessa-me muito mais o que os engenheiros da empresa têm a dizer, seja no contexto do governo atual ou dos próximos, independente dos resultados das eleições. Particularmente, prefiro opinar sobre a escalação da Seleção Brasileira: fatores de risco em prospecção de petróleo no pré-sal ainda é assunto que me foge ao intelecto, inclusive apenas para especular hipóteses. Sendo a Petrobras empresa de capital aberto, qualquer projeto mal engendrado ou falacioso causaria quedas vertiginosas nas ações. É pagar pra ver."