Não vou repetir a velha piada, perguntando se comprariam o carro usado de Zé |Sarney. Mas preparem-se para coisa igual pois se anuncia pressa no Senado, na aprovação da reforma política sob a impoluta presidência do seu caráter sem jaça.
Um dos pontos em debate, que, aliás, interrompeu o andamento da reforma na semana passada, trata do preenchimento de cargos executivos – presidente da República, governador e prefeito - quando o titular fica impedido de exercê-lo. As coisas corriam bem até alguém lembrar que Zé Sarney, o Santo do Brasil, realizara mais um milagre, demonstrando cabalmente na prática que os últimos serão os primeiros: conseguiu fazer a amada pimpolha Roseana governadora do Maranhão outra vez, apesar de ter perdido a eleição para Jakson Lago.
Incréus, não duvidem da santidade de Zé Sarney. Se São Francisco levitava e falava com os pássaros, Sarney tem o dom da ubiqüidade: vive no Maranhão, mora no Amapá e multiplica os pães do genro padeiro, isso sem falar nas bolachinhas da netinha.
Honra ao mérito
No alarde em torno da emenda constitucional que aumenta o número de vereadores, estão cometendo baita injustiça: omite-se o nome do deputado federal gaúcho Pompeu de Mattos (PDT), autor do projeto. Até é bom o deputado se alertar e pôr seu nome em todas as esquinas do Rio Grande do Sul, com a indicação – "Fui eu!". Só assim o eleitor poderá recompensá-lo com uma votação avassaladora em 2010.
A propósito
O projeto do deputado Pompeu de Matos foi tão bem feito que a partir da sanção, o TSE e o STF trabalharão em dobro. Juízes eleitorais que aceitarem a vigência retroativa da emenda, terão de recalcular o quociente eleitoral, mudando a composição das respectivas câmara municipais. Vereadores eleitos que perderem seus mandatos vão estrilar. Onde a retroatividade não for admitida, os "vereadores suplentes (?!?) reclamarão o mandato que o eleitor lhes negou, mas tão generosamente o deputado Pompeu de Matos lhes presenteou.
O dono da bola
Está com tudo e não está prosa o deputado Pompeu de Mattos: um cabo eleitoral em cada "vereador suplente". Deve bater recorde de votação em 2010.
"A Política é arte. E arte difícil que requer longo aprendizado além de alguma sensibilidade. Tomando um eminente militar que nunca fora político e entregando-lhe o poder unipessoal, praticamente absoluto, apesar da aparente manutenção do Congresso, condenou-o a praticar erros graves que, se não por patriotismo, pelo menos por habilidade, os políticos mais ordinários não perpetrariam. (...) Apesar da pouco estima que geralmente se lhes vota, por causa, principalmente do infeliz sistema de governo que não só não sabe formá-los, mas também os deseduca e perverte, os políticos são indispensáveis ao funcionamento do Estado democrático". Raul Pilla, discurso de despedida da vida pública, em 31 de agosto de 1966.
Vai acontecer
David Raskin lança hoje "Três Deuses e uma Trindade", às 7 da noite, na Livraria Cultura (Bourbon Country), edição de autor. O livro investiga fatos históricos de três monoteísmos – judaísmo, cristianismo e islamismo – procurando desmitificar conceitos religiosos tradicionais que fazem parte da cultura da sociedade.