terça-feira, 8 de setembro de 2009

O ovo e a galinha – Jayme Copstein

A necessidade de repor e atualizar os equipamentos das Forças Armadas, ninguém discute. Pergunta-se: não há outros setores clamando por investimentos mais urgentes, sem serem atendidos para evitar o endividamento? O presidente Lula, antes tão orgulhoso por ter reduzido a dívida externa a insignificâncias, deve estar contando com o ovo no oviduto da galinha para atrelar o país a uma nova conta de 24 bilhões de dólares que exigirá o desembolso de mais de um bilhão por ano nas próximas duas décadas.

O Presidente justificou as compras bilionárias de armamento francês com a necessidade de defender a riqueza do pré-sal. "Deve sempre passar pela nossa cabeça a idéia de que o pré-sal já foi motivo de muitas guerras e conflitos, e nós não queremos guerra nem conflito". Como a nossa própria Marinha prevê que o primeiro submarino brasileiro com tecnologia francesa só deve ficar pronto em 2015, cria-se a dúvida: o pré-sal não será "atacado" antes de 2015 ou não produzirá nada, antes desta data, que desperte a cobiça das forças ocultas?

Segundo o diretor financeiro da Petrobrás, Almir Rabassa (JB Online 1º de setembro de 2009), a exploração do pré-sal vai exigir nos próximos cinco anos investimento adicional de outros 10 bilhões de dólares, ou seja, mais dois bilhões por ano. Com o bilhão e meio dos franceses, a conta sobe para três bilhões e meio. De onde vai se tirar tanto dinheiro?

Não haverá nenhum problema, é claro, se o ovo sair do oviduto da galinha. Do contrário, todo o sacrifício dos anos 1990, para que o Plano Real desse certo, terá o mesmo destino da história brasileira sob o governo de triste memória, chefiado por Zé Sarney: - a lata do lixo.

Em 2008, tão logo surgiram as primeiras evidências do pré-sal, engenheiros da Petrobrás, falando sobre obre a viabilidade econômica da extração do petróleo àquela profundidade, não se intimidavam com cotação do barril despencando de 120 para 60 dólares. Profetizavam cotação de 200 dólares, em 15 anos no máximo. A Petrobrás tinha investido 200 milhões de dólares, a produção do pré-sal custaria apenas 25 dólares por barril, era um alto negócio, seríamos felizes para sempre – apenas precisávamos mudar a regulamentação do setor.

Veio a contradita: os 200 milhões de dólares tinham sido gastos na descoberta do pré-sal. O desenvolvimento do sistema de exploração era outra etapa, custaria bilhões de dólares, não havia – como não há até agora – saber quanto custará.

Em suma: gastar por conta deste ovo, é uma temeridade. Oxalá o Presidente saiba do que está falando. Se a galinha estiver sofrendo de prisão de ventre, que Deus tenha pena do Brasil.


Carla não veio

Notícias de Brasília dão conta de fila e pistolão na disputa de convites ao palanque para assistir o desfile de Sete de Setembro. Demonstração de civismo como "jamais aconteceu na história deste país", como nos ensinou nosso deslumbrado Guru. Depois, sabido que a modelo Carla Bruni, consorte do ilustre presidente Sarkozy não vinha, sobrou convite porque houve até devolução. Sorte nossa. Se com a Carla ausente, Lula comprou o que comprou, com ela presente os franceses teriam conseguido até indenização por terem sido expulsos do Rio de Janeiro em 1567. Aliás, talvez Sarkozy nem precisasse de tanto – era só pedir aos dadivosos Marco Aurélio Garcia e Celso Amorim, que levava. Como fez o "companheiro" Lugo em relação a Itaipu.