terça-feira, 22 de setembro de 2009

Chimarrão em Honduras – Jayme Copstein

Ao abrigar em sua embaixada o presidente cassado de Honduras – e ele o foi pelo Congresso, com ratificação do Judiciário, por desrespeito à Constituição – o Brasil meteu-se em bela enrascada, graças à inconseqüência, incompetência e irresponsabilidade do ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, e do auto-intitulado perito em Assuntos Internacionais, assessor do presidente Lula, jornalista e militante político Marco Aurélio Garcia.

A alegação de Celso Amorim que, de repente, não mais que de repente, Manoel Zelaya surgiu na embaixada brasileira de Tegucigalpa para pedir refúgio é inspiradora. Dá para imaginar, ainda sob os eflúvios da recém-finda Semana Farroupilha, Zelaya batendo palmas na porteira, gritando "Ó, de casa!!" e sendo atendido por Marco Aurélio Garcia:

- Ué, índio velho, tu por aqui?

"Iba pasando, pensé: me voy a tomar un mate con mis amigos de Brasil.

- Entre que a casa é sua, vivente!

Deixemos Simões Netto em paz. Por que alguém haveria de procurar uma embaixada nas condições em que Zelaya o fez, a não ser para pedir refúgio? Celso Amorim diz que não: Zelaya está lá instalado como presidente legal de Honduras, para reaver seu mandato, o que significa clara intervenção em assuntos internos de outro país, se não típico ato de guerra. Diplomatas veteranos do Itamaraty enfatizam que refúgio em representações estrangeiras é direito de quem se sinta em perigo, para lhe permitir a saída do país. Alguém já exilado, retornando a uma situação de risco e sendo acolhido, é inédito nos anais da diplomacia internacional.

O incidente de Havana no máximo deve resultar em vexame, mas é preciso dar uma basta nesta charlatanice ideológica, antes que nos conduza a algtum desastre. O general da reserva Luiz Eduardo Rocha Paiva, antigo comandante da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, está denunciando os equívocos da política indianista e em relação à Amazônia , graças à diplomacia brasileira. Em "Ideologia, bases colombianas e terras indígenas", cuja íntegra pode ser lida em www.jaymecopstein.com.br, graças à gentileza de Dagoberto Godoy Lima que propiciou o acesso ao documento, Rocha Paixa diz:

"Há, nitidamente, o fator ideológico na posição adotada pelo País. (...) É incoerência preocupar-se com as bases em tela [Colômbia] e não ver ameaça na demarcação de imensas terras indígenas (TI) na faixa de fronteiras, onde o índio é liderado por ONGs estrangeiras financiadas por potências alienígenas, inclusive os EUA. Nessas terras, haverá grandes populações indígenas em algumas décadas, que não se sentirão brasileiras por não estarem integradas à Nação. Há 18 anos, quando foi demarcada a TI Ianomâmi, quem alertava para o risco à soberania nacional era ridicularizado. Hoje, ONU, OEA, ONGs, líderes e povos estrangeiros já não reconhecem o indígena como brasileiro e defendem a autonomia das TI com base em Declaração aprovada na ONU com voto favorável do Brasil. Essas TI desnacionalizadas estão dentro do Brasil, ao contrário das bases colombianas."

Rocha Paiva conclui: "A reação brasileira no episódio das bases, ainda que impedisse a concretização do acordo entre a Colômbia e os EUA, pouco contribuiria para a segurança da Amazônia. O Brasil supervalorizou o periférico em detrimento do fundamental, demonstrou falta de percepção da real ameaça e desnudou seu alinhamento ideológico. A rigor, as bases e os índios, em si, não são ameaças à soberania, mas sim a miopia estratégica, a indigência militar e a ultrapassada orientação ideológica socialista-internacionalista de nossa liderança."