Leitores escreveram à coluna, manifestando-se sobre o problema de Honduras. Mas, ao contrário do que se lê nos jornais, não manifestaram maiores simpatias por Zelaya, o presidente deposto de Honduras. Muitos até chamaram a atenção para a figura escarrapachada na embaixada brasileira de Tegucigalpa, com o chapelão que ora lembra um rancheiro texano, ora sugere um caipira mexicano. Mesmo havendo divergências sobre quem é ou deixa de ser golpista, há maioria significativa de críticas à intromissão do Itamarati.
O fato é que o desdobramento da situação hondurenha conduziu a um beco sem saída, no tocante a uma solução imediata. Provavelmente, o conflito se prolongará até o fim de novembro quando eleições regulares escolherão o novo presidente para os próximos quatros anos, esgotando-se formalmente o mandato de Zelaya. Analistas comentam que tudo poderia ter sido evitado se tivesse sido aceita a proposta de mediação, do presidente da Costa Rica, Oscar Arias,.formulada um semana depois da deposição de Zelaya.
Era uma solução sensata. Previa o restabelecimento do mandato de Zelaya e a formação de um governo a unidade nacional. Zelaya se comprometia a abandonar seus planos de reeleição, não praticaria represálias contra seus oponentes e as eleições se realizariam na data prevista, sob supervisão internacional. O Congresso, o Judiciário e os militares hondurenhos recusaram, alegando que não podiam confiar em Zelaya, dada a obsessão que demonstrara em conseguir reeleger-se, desrespeitando a Constituição..
Lula e o Conselho de Segurança
Com toda a pompa e circunstância, talvez por sugestão da dupla Amorim&Garcia, o presidente Luiz Inácio Lula da |Silva não perdeu a oportunidade para deixar a sua digital na crise: anunciou em Nova York que o Brasil pediria convocação urgente da Conselho de Segurança da ONU para resolver a situação em Honduras. Alguém deve ter dito ao Presidente que maneirasse, pois o Conselho de Segurança só se reúne para decidir sobre ameaças à paz mundial – daí o nome. Honduras não se encaixa nem remotamente na hipótese. Ao fazer o discurso de abertura da Assembléia Geral da ONU, conforme a tradição que dá ao Brasil esta primazia, Lula deve ter atendido à ponderação. Enfatizou a posição brasileira em favor de Zelaya, mas deixou de fora a convocação do Conselho de Segurança.
Sarney e o trabalho
Um turista foi ao Maranhão especialmente para conhecer o memorial que, como o nome está dizendo, foi erigido em memória do ainda vivo – e muito vivo – José Sarney. O visitante, impressionado com a organização do histórico museu que pode fornecer, a qualquer momento, em rigorosa ordem cronológica, tudo o que diga respeito à vida de tão ilustre e inefável personagem, pensou em escrever uma biografia e perguntou por um documento importante: a carteira de trabalho. Surpreendeu-se com a resposta: não existe. Zé Sarney, condestável do Maranhão, Amapá e circunvizinhanças, dono de respeitável biografia segundo Luiz Inácio Lula da Silva, nunca precisou deste documento. E é só examinar sua trajetória que a pergunta se impõe: para que mesmo ele haveria de querê-la, heim?