Amanhã, 19 de setembro, sendo lua nova, e porque é a lua nova mais próxima – antes ou depois – do começo do outono no Hemisfério Norte, o calendário judaico marca o primeiro dia de Tschiri, seu sétimo mês. E sendo assim, os judeus de todo mundo comemoram o inicio de um novo ano - 5770 - com a festa de Rosh Hashaná.
Pode parecer estranho que uma religião comece o seu ano pelo sétimo mês, não pelo primeiro. Não há nenhuma novidade nisso. Todos os povos têm dois calendários, o civil, de origem agrícola, e o religioso, nascido do período de inatividade e de reflexão, imposto pelos rigores do gelado inverno do Norte.
O cristianismo também é assim: o primeiro dia de seu ano litúrgico é o primeiro Domingo do Advento, que inicia o período de preparação para o Natal. É o quarto domingo antes de 25 de dezembro e pode ser cair entre 28 de novembro e 3 de dezembro, dependendo do dia semana, de segunda a domingo, em que o Natal for celebrado em determinado ano.
As semelhanças não param aí. O Advento é período de reflexão, reconhecimento dos pecados (confissão) e expiação (orações), como preparação para comemorar a vinda de Jesus.
O Rosh Hashaná também marca período de reflexão, de dez dias, chamado Yamin Noraim, ao fim do qual está o Yom Kippur, o Dia do Perdão, quando o crente presta conta de seus pecados a Deus e d'Ele obtém perdão, com seu nome escrito no Livro da Vida.
Segundo o judaísmo, por seus méritos ou deméritos, o homem tem seu nome inscrito no Livro da Vida ou no Livro da Morte. Mas vida e morte aí não têm sentido físico e sim o de estado de graça, junto a Deus.
Para o judeu este estado de graça é a razão de viver e também de morrer. A sua relação com Deus é a própria essência do judaísmo. Ela se faz diretamente, sem intermediários. O rabino não é um sacerdote. Sua palavra, acatada quando sábia, não tem força de lei e a nada obriga.
Esta relação pessoal se estabeleceu quando Deus, depois do dilúvio, firmou aliança eterna com toda a carne vivente do planeta, prometendo não mais exterminá-la. É a primeira vez na história da cultura humana, que o Direito prevalece sobre a Força. Naquele momento, o próprio Deus renunciava ao seu poder de matar para submeter-se ao direito de viver dos homens e dos animais.
Há mais direitos e deveres no judaísmo. As relações de um homem com Deus só pertencem a ele e a Deus. Daí porque os judeus não tentam converter ninguém a sua fé e relutam em aceitar conversos: seria interferência indevida nas relações deste homem com Deus.
Da mesma forma que um homem não pode interferir nas relações de seu semelhante com Deus, não pode Deus interferir nas relações entre dois homens. Cria-se, então, situação peculiar: Deus pode perdoar o pecado que alguém cometa contra Ele, mas não tem o direito (força tem porque onipotente Ele é) de perdoar o pecado que um homem comete contra outro homem.
Daí porque, nestes dez dias, que começaram amanhã com o Rosh Hashaná, os judeus examinam não só as suas faltas em relação a Deus, mas também contra seus semelhantes, judeus ou não judeus. Os que não as repararem, não obtendo a reconciliação, não terão seus nomes inscritos no Livro da Vida.
Shaná Tová Tikateiv – que os seus nomes sejam inscritos no Livro da Vida, leitores deste blog.