Não se precisa falar das estroinices de Pedro I, imperador do Brasil, mas para melhor entendimento, é preciso considerar que era muito jovem quando se tornou personagem da História. Com apenas 24 anos, proclamou a Independência. Morreu aos 36, após governar o Brasil durante nove anos, ter abdicado do trono Português, onde foi Pedro IV, em favor da filha Maria II, e liderado uma revolução para repô-la no trono usurpado pelo irmão D Miguel.
Segundo filho de D. João e Calota Joaquina, D. Pedro só se tornou herdeiro da coroa portuguesa após a morte do irmão mais velho, D. Antônio. Repelido pela mãe, que não escondia preferências por D Miguel, criou-se no convívio de criados, crescendo como uma planta selvagem, vigorosa e ouriçada de espinhos. Nele, tudo era instinto, e impulso. Quando se enfurecia. Explodia em palavrões de arrepiar, sem olhar onde estava ou quem estivesse por perto. Em compensação, derramava-se em versos e também em música quando se sentia enternecido ou motivado pelas pessoas e pelos fatos.
A bem da verdade, seus versos eram muito ruins. Poucos dias após a Independência, já completamente apaixonado por Domitilia de Castro e Canto Melo, enfureceu-se ao saber dos comentários de damas paulistas sobre a vida leviana da amante. Escreveu um soneto: " "Filha dos Césares / Imperatriz Augusta / Tu abateste altiva soberbia,/ Com que tuas damas de raça ímpia / Abater queriam quem deles não se assusta. // Vede, aristocratas cafres quando custa / Espezinhar aquela cuja alegria / Consiste em amar a Pedro e a Maria. / Titilia bela, a tua causa é justa, // O mérito, a verdade, em todos os países, / Apareceram sempre em grande resplendor / Sustentem-nos os soberanos:são suas raízes. // Conta com Pedro, pois ele é defensor / Do pobre, do rico, do Brasil, dos infelizes. / Ama a justiça, para seus amigos é vingador.
Se como poeta não podia ser levado em conta, já sua música era melhor. É dele a melodia do nosso Hino à Independência, executado na mesma noite de 7 de setembro, no Teatro Ópera de São Paulo, onde se comemorava o grande acontecimento. Como o Grito do Ipiranga foi proferido às 4 e meia da tarde, não haveria tempo para compô-la. Já estava elaborada há algum tempo.
O fato tem sido usado como argumento para defender a tese de que D; Pedro tivesse premeditado a Independência, proclamando-a tão logo a oportunidade se ofereceu. A verdade é que, à noite, no Teatro, só havia a melodia. O alferes Thomaz de Aquino e Castro, pior poeta que o Imperador, tentou preencher o vazio com esta bajulação: "Será logo o Brasil mais do que Roma / Sendo Pedro seu primeiro imperador".
Logo em seguida, o secretário pessoal do Príncipe, Souza Chichorro, declamou um poema, com destaque para os versos: "Ou ficar a pátria livre / Ou morrer pelo Brasil". Como não foi dito na ocasião quem era o autor, julgou-se ter sido escrito por D. Pedro. Como casava bem com a melodia, o poema acabou incorporado como letra ao Hino da Independência. Só muito anos mais tarde, já depois de 1831, quando D Pedro já abdicara do trono e saíra do Brasil, a verdade veio à luz: era letra de outro hino – Brava gente brasileira – composto pelo jornalista Evaristo da Veiga.