quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Além da demência – Jayme Copstein

Apesar de ser emérito prestidigitador, criando ilusões sobre o que lhe convém e fazendo desaparecer o que o incomoda, desta vez, em relação ao Programa Nacional dos Direitos Humanos, o presidente Lula não poderá alegar que a turma dos aloprados entornou o caldo. Foi o seu secretário nacional de Direitos Humanos, Paulo Vanucchi, o autor do texto, e foi pelas lentes supostamente atentas e minuciosas de sua herdeira presuntiva, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, que a coleção de demências passou incólume.

Alguém, em nome do Presidente – Lula nada disse a respeito – alega que ele assinou o decreto sem ler. Já era por demais conhecida a sua ojeriza por livros e jornais, tanto assim que se vangloria de falta de intimidade com os primeiros e cultiva particular obsessão de controlar e censurar os últimos. Mas como justificar a irresponsabilidade de quem acende o estopim de uma bomba, alegando não ter percebido que tinha o fósforo em uma das mãos e o pavio na outra?

O nó de toda a questão não é apenas a parte referente à revogação da anistia, absolutamente inócua e sem nenhum efeito prático por já terem prescrito os crimes que remeteu ao esquecimento quando foi decidida com a concordâncias das partes envolvidas. É mero engodo para dissimular a subordinação aos chamados "conselhos populares" da liberdade de expressão, da atividade econômica, do direito de propriedade, do Legislativo e do Judiciário. Na prática, é a extinção do estado de direito e do regime democrático, substituindo-os por uma destas tiranias, cujos pecados não foram mais leves do que esses que pretendem perpetuar.

A tática foi utilizada com êxito por Hugo Chávez na Venezuela e redundou em retumbante fiasco quando tentada por Zelaya em Honduras, com o apoio descarado dos que agora querem impingi-la ao povo brasileiro. É bom que o eleitor se alerte. Tem quem, espertamente, se faça de louco para passar melhor.

Ditos e achados

Sabiam que "Saci Pererê tem uma perna só, é negro, mas tem sempre os pés descalços"? Esta sensacional descoberta é de um candidato aos vestibulares deste ano, só suplantada pelo coleguinha que afirma peremptório: "Os negros não-oriundos do Brasil acabaram se aderindo a literatura". Vai ver que é por isso que "Emília (...) seria apenas a boneca da personagem se não fosse pelo fato de seu autor dá-la vida", conforme um terceiro sábio às portas da universidade.

Enfim, como nos ensina ainda outro vestibulando, "Impossível seria viver obsoleto a apenas uma escolha". Ao que um coleguinha acrescenta: "A pessoa, todo o dia, apenas revezaria seu estado de espírito". Não se desiludam, pois ainda houve quem nos legasse o sábio exemplo: "A esperança ajudou muito o que me fez acreditar mais em si próprio"    .

Mural

Ralph J. Hofmann escreve: "A combinação endêmicos/epidêmicos (coluna de 12/01), lembra um erro em prova de escola há uns 40 anos: "Os romanos conquistaram as regiões em torno do Mediterrâneo e o chamaram de Nostradamus".

James Dressler, sobre "Duas tragédias e uma certeza": "Discordo do fato de só rico escapa da lei. Pobre também. Pode matar um, detonar outro, causar danos irreparáveis... Depois diz que é pobre e não pode indenizar... E fica por isso mesmo. Para a cadeia não vai também. Se for, fica aí dois, três anos e tá livre, se não for convertido para "trabalhos comunitários" ou outra bobagem parecida".