Mr. Bruce Bueno de Mesquita, professor de Política da Universidade de Nova York, faz prognósticos com base em sofisticado programa de computador. Fica difícil de entender por que os jornais o comparam a Nostradamus. É preciso separar prognósticos e previsões das profecias, dos vaticínios e das adivinhações.
Não há nada no labor de Mesquita a sugerir consultas à posição dos astros, à disposição das cartas ou aos fantasmas que habitam a antimatéria. É matemática pura, segundo um algoritmo desenvolvido a partir da teoria dos jogos que já deu vários Prêmios Nobel de Economia a seus experts.
Mesquita não ganhou nenhum Nobel. Escreveu um livro, "The Predictioneer's Game" (O Jogo do Prognosticador), lançado com promoção publicitária que não vai bater os recordes de "As profecias de São Malaquias", mas arrecadará direitos autorais mais compensadores que o dinheiro pago aos detentores do próprio Nobel. Não é sucesso difícil de enxergar para um manual prático da arte da previsão. E vejam como é bom o algoritmo de Mesquita, pois as reportagens nos jornais do Centro do País sobre as suas certeiras previsões encomendadas pela CIA (60 a 90% de acertos) já permitem adiantar que tradução do livro será lançada em breve no Brasil.
O que vai acontecer com o livro é difícil de prever. Prognósticos não podem ser politicamente corretos se pretenderem a equidistância e a imparcialidade. Em entrevista à Folha de São Paulo ontem, Mesquita opinou que Dilma Roussef não é a "vencedora mais provável" das eleições presidenciais, e uma predição desta ordem pode lhe valer dissabores. Ele trabalha, raciocinando que o "populismo nacionalista" da ministra em certas questões tende a marginalizá-la por ser muito custoso e pôr em risco o crescimento da economia. "Os eleitores perceberão isso, e ela cairá nas pesquisas. Pessoalmente, acho que isso será bom para o Brasil. O vencedor não será tão nacionalista e contra investimentos estrangeiros como ela tem se mostrado", ressalvando em seguida que esta é "minha visão pouco informada e ligeira sobre o Brasil".
Provavelmente, a previsão de Mesquita seja menos predição e mais advertência, levando-se em conta que o Brasil tem sua economia financiada pelos investimentos externos e qualquer posição menos clara a esse respeito pode significar o desastre. A comprovação está lá atrás, em 2002, quando Luiz Inácio Lula da Silva, que as pesquisas já indicavam como o vencedor da eleição presidencial, para estancar a sangria que ameaçava falir o País precisou acalmar os investidores estrangeiros, assustados com o "populismo nacionalista" apregoado por ele e seus correligionários desde longa data.
Nem se precisa recuar tanto no tempo. Basta olhar para o exemplo de Hugo Chaves, cujos delírios políticos estão levando a Venezuela ao caos e é forte candidato a um confortável exílio na França, particularmente generosa com ditadores depostos em países do Terceiro Mundo.
O que tira, porém, a certeza de todas essas análises são fatores que o italiano Alfonso Asturaro batizou de psicossociais no início do século 20, mas já simplificados bem antes por Maquiavel, como "emoção". Se vale para os povos frios do Hemisfério Norte, que dirá para as multidões passionais dos trópicos? Sei não, mas basta uma vitória da seleção na Copa da África do Sul para queimar os chips do computador em que o algoritmo de Mr. Mesquita é processado.