quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Além do cipó – Jayme Copstein

Quando um homem é contemporâneo da vida e não apenas uma relíquia do passado? A indagação me veio à mente, ontem, no Plaza São Rafael, participando de café da manhã oferecido pelo empresário Paulo Vellinho à imprensa, para conversar sobre a atualidade brasileira e também falar de seu mais recente entusiasmo: um rotor que aproveita a tecnologia da levitação magnética, a mesma que faz aquele trem japonês andar a 450 Km/hora, suspenso sobre os trilhos.

Vellinho, ao longo dos anos, fez nome como empresário, líder de classe e executivo, graças à visão de que, além do horizonte, está o infinito. O novo rotor o remete de volta à área da refrigeração, onde iniciou a carreira nos idos de 1950, com a Springer-Admiral, cujos modelos de refrigeradores, aparelhos de ar condicionado e televisores se notabilizaram pela robutez e durabilidade. Apresentou o rotor magnético, invenção de um dinamarquês, como a revolução que vai remeter aos museus os motores tradicionais.

O novo rotor elimina o desgaste produzido pelo atrito entre as peças e dispensa a lubrificação, o recurso até agora disponível para atenuá-lo. Nós, leigos, de maneira geral, não nos damos muito conta que apenas pequena parte da energia despendida é utilizada para mover um motor. A maior parte é desperdiçada para vencer o atrito. Segundo Vellinho, o novo rotor reduz em 70 por cento o consumo de energia.

A conversa não se limitou ao rotor magnético. Uma das manchetes de O Sul, ontem, sobre o "Relatório Educação Para Todos", da Unesco, mostrava que em matéria de educação, o Brasil fica atrás do Paraguai e da Bolívia, países consideravelmente mais pobres e que destinam verbas significativamente menores. Ora, se gastamos mais e obtemos menos, gastamos mal.

Há várias abordagens do problema, mas na origem o que parece sobressair-se é uma certa cegueira, miopia que impede a visão do infinito além do horizonte. Se quem descobriu a utilidade do cipó e com ela ficou satisfeito, deixou para outro a invenção e os royalties da escada.e, sucessivamente, da rampa, do elevador e da escada rolante.

A tecnologia da levitação magnética está nos jornais há mais de 10 anos. E também, há mais de cinco anos, a Assembleia Legislativa gaúcha aprova emenda no orçamento, destinando 200 mil reais a estudos de "viabilidade" da implantação do trem bala para as praias do Litoral Norte. Não sei 200 mil reais seriam suficientes para um de nossos inventores desenvolver algo como esse rotor magnético, mas mesmo que fracassassem, seriam dinheiro mais bem empregado. Porque, confortáveis no alto do cipó, sonhando com o trem bala, logo estaremos pagando royalties para ter o rotor em nossos refrigeradores, automóveis, aparelhos de ar condicionado, enfim, onde houver um motor.

E claro, gastando mal na educação.

O escritor e a política

De George Orwell, em 1948: "Em nossa época, o escritor sério não pode ignorar a política, tal como faria no século 19. Os eventos políticos afetam-no intimamente, e ele tem plena consciência do fato de que seus pensamentos aparentemente individuais são um produto de seu ambiente social. Ele, por isso, procura, como muitos escritores dos últimos 20 anos fizeram, interferir diretamente na política, apenas para descobrir que entrou em um mundo no qual a honestidade intelectual é considerada um crime. Caso siga a linha partidária, ele destruirá a si mesmo como escritor, caso se recuse a fazê-lo, será denunciado como um renegado".