terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Comício sem fim – Jayme Copstein

Ontem de manhã, conversando com jornalistas, José Antônio Fernandes Martins, presidente da Associação do Aço do Rio Grande do Sul, mostrou-se otimista diante das previsões de 5 a 6% de crescimento da economia brasileira em 2010. Se elas se confirmarem, o consumo de aço no Rio Grande do Sul deverá superar o recorde de 2008 – um milhão e quatrocentos mil toneladas.

Oxalá seja assim. O aço é espelho fiel da economia. Reflete com a precisão que exige para ser produzido e também com a dureza de sua têmpera, os números da realidade, sem permitir maquiagens.

Os efeitos da crise mundial do fim de 2008 na economia brasileira, estiveram longe do que o Presidente Lula pretendeu ser uma "marolinha". O aço acusou o golpe, com o setor amargando o encolhimento de 26,93% das vendas no ano passado. O crescimento da demanda, de 23,87%, registrado em outubro, novembro e dezembro, em consequência dos estímulos do governo à indústria automobilística e à construção civil, não foi suficiente para recuperar a queda de 43,81%, 38,10% e 34,11% nos 1º, 2º e 3º trimestres, respectivamente.

Uma das dificuldades do setor – aliás, de todo a nossa indústria – tem a ver com a valorização do real diante do dólar, por diminuir a competitividade de seus preços no mercado internacional. Mas, se o dólar está desvalorizado em todo o mundo, como a China e a Ucrânia podem oferecer o mesmo aço a preços 30% menores que os nossos? Algum prodígio? Não, apenas diferença de cargas tributárias: meros 18% nos dois países, 38% no Brasil.

As coisas não são tão simples, portanto, como aparentam, e esse foi o tema da conversa que José Antônio Fernandes Martins manteve com a imprensa. Vieram à tona, também, outros fatores que emperram a nossa atividade econômica, como, por exemplo, a falta de uma política de transportes. Comparativamente, os custos da produção agrícola norte-americana são maiores do que a brasileira, mas a redução do valor dos fretes, graças à oferta e integração de hidrovias e ferrovias, faz com que chegue ao mercado em igualdade de condições, senão em condições mais vantajosas.

Este exemplo já é suficiente para evidênciar o grande problema do país: falta de planejamento e consequente ausência de políticas públicas que abram caminho para os dias melhores que tanto almejamos. Que o Brasil tem potencial para tornar-se uma das nações mais ricas do planeta, está completamente fora de dúvida.

O que ele não tem, são governantes competentes e idôneos. Aliás, nunca teve. Desde priscas eras, revezam-se na administração pública políticos com projetos de perpetuação no poder, que a isso se dedicam de corpo e alma, em tempo integral, sem outro planejamento que não seja o de ganhar as próximas eleições. Daí porque vivemos em um comício sem fim.

Dilma e Chávez

A Sociedade Interamericana de Imprensa, a Organização dos Estados Americanos, Repórteres Sem Fronteiras, o Governo da França e o Governo dos Estados Unidos criticaram ontem Hugo Chaves pela suspensão da RCTV, emissora de tevê a cabo que criticava o regime. A nossa ministra Dilma Roussef justificou Chávez: "Não cabe a mim criticar ou não. Se ele [Chávez] faz isso, é em função da problemática dele. O governo Lula jamais pensou em controlar a mídia".

O presidente Lula já declarou que assinou sem ler o decreto do 3º Plano Nacional de Direitos Humanos, que pretende restabelecer a censura no Brasil. Será que a ministra, por cujo gabinete o decreto transitou, também o encaminhou sem saber do que se tratava?

Que estranho...