domingo, 17 de janeiro de 2010

Os confrontos de outubro – Jayme Copstein

Pois vem agora o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, depois de decretar "sem ler", o Programa Nacional de Direito Humanos (PNDH), dizer que os opositores estão botando chifre em cabeça de cavalo. "Não há porque ninguém ter medo da gente apurar a verdade da história do Brasil. Você pode fazer da forma tranquila e pacífica que estamos fazendo. Não se trata de caça às bruxas", declarou à TV Mirante, do Maranhão..

Ou o Presidente continua sem ler o PNDH ou está tentando esconder o chifre do rinoceronte que tentaram impingir à Nação, disfarçado de cavalo. Em parte, ele tem razão: a verdade pode ser apurada de forma tranquila e pacífica. Onde ele a perde é escamoteando da opinião pública que não o faz por que não quer. Sequer tem necessidade de decreto. Basta uma simples portaria de poucas linhas para liberar o acesso a todos – porém, a todos – os documentos referentes à ditadura militar. A não ser que, segundo a sua ótica, para esconder certas coisas, os direitos humanos devam ser classificados em politicamente corretos e politicamente incorretos, como ocorreu na entrega servil e vexatória dos dois boxeadores cubanos, sem nenhuma pendência com a Justiça, aos quais foi negado o asilo defendido encarniçadamente para Cesare Battisti, condenado por vários homicídios em julgamento regular na Itália.

Seja o que o Governo e seus aloprados têm em mente, o bolivaresco PNDH será obrigatoriamente o debate central da próxima campanha eleitoral. Mauro Chaves, em recente artigo no jornal O Estado de Estado, refere-se aos dois grupos que se opuseram à ditadura militar, agindo de acordo com suas concepções de democracia.

De um lado, pelo restabelecimento da democracia, sem recorrer à luta armada, usando da arma poderosa que é a palavra, o próprio Luiz Inácio Lula da Silva, Fernando Gasparian, dom Paulo Evaristo Arns, Chico Buarque e outros mais, entre eles, José Serra e José Fogaça.

Do outro, recorrendo à violência, com o intuito claro de substituir uma ditadura de direita por outra de esquerda, Carlos Marighella, Carlos Lamarca, José Dirceu, Franklin Martins e outros mais, entre eles Dilma Roussef e Tarso Genro.

São os confrontos de outubro. A decisão caberá ao eleitor.

Ditos e achados

Demétrio Magnoli, em "Direitos humanos recicláveis", (O Estado de S.Paulo, ontem): "A perseguição à imprensa independente, nas ditaduras e nos regimes de caudilho, adquire a forma da proteção de direitos sociais contra o "poder midiático". A introdução de plataformas ideológicas no sistema educacional é envernizada com a cera dos direitos culturais. O mesmo pretexto propicia um discurso legitimador para a implantação de políticas de preferências étnicas ou religiosas no acesso aos serviços públicos, ao ensino superior e ao mercado de trabalho".

Gaúcho também chora

João de Almeida Neto, nome consagrado da música regional gaúcha, está no Teatro do CIEE (Dom Pedro II, 861), a partir de amanhã, 9 da noite,
com
espetáculo de choros e sambas "Gaúcho também chora", mostrando que seu talento não se limita apenas às fronteiras do pago. Boêmio da melhor estirpe, não há dentro da música popular território onde João de Almeida Neto não incursione com tranquilidade seu talento de intérprete e compositor. No repertório, Lupicínio Rodrigues, Telmo de Lima Freitas, Pixinguinha, Mário Barbará, Aldir Blanc, Carlos Gardel, Le Pera, Paulo Cezar Pinheiro, João Nogueira, Herivelto Martins.