Falou em fim de mundo (Mundo Louco", coluna de 05.01), as pessoas ficam alvoroçadas. Algumas se zangam, outras se alarmam. Ariel me diagnostica uma hipertensão porque acha que ando "comendo sal demais em festinhas de aniversário" e me deixa sem saber se ficou irritado por eu achar que o mundo não vai acabar tão cedo ou pelo protesto da minha neta contra o "homo retratandicus", a nova espécie de bípede implume (obrigado, Platão) que de câmera digital em punho dedica-se a perturbar a alegria da criançada nas festas infantis.
Não entendi bem se Ariel pretende salvar o planeta ou apenas a sua própria alma, pois ele não esclareceu. Para me convencer, indicou as provas eloquentes, acabadas, irrefutáveis e retratadas no You Tube que, como todos sabemos, é o repositório irrevogável da inteligência e da cultura universal. A propósito: não sofro de hipertensão e informo isso para que ele deixe de se preocupar com a minha saúde e se dedique de corpo e alma à sua relevante missão.
Já dona Cora Raquel é mais apocalíptica. Ela me adverte: "Fique brincando com as coisas sérias e depois não se queixe". Ela me fala que, quando o "Grande Lingam unir-se à Grande Yoni", o mundo termina segundo profecia dos Vedas, os livros sagrados dos hindus.
A primeira vez que ouvi isso foi em Rio Grande, na década de 1950, na pregação de um profeta de calamidades, que tentava acabar com o consumo de bebidas alcoólicas na Dalila, a confeitaria onde as moças e os rapazes da cidade se juntavam para trocar olhares (naquele tempo era só assim).
Foi meu primeiro contato com a Teoria Geral das Coisas, tão do agrado do senador Aloísio Mercadante. O tal profeta me explicou que o "lingam" era "aquela coisa" e a "Yoni", "aquela outra coisa" , e esta conversa sempre me vem à mente quando recebo pela Internet receitas miraculosas para aumentar um e estreitar a outra.
Sei não, mas acho que dona Cora Raquel não tem muitos motivos para se preocupar. Desde aquele obscuro episódio da maçã do Eden, protagonizados por Adão, Eva & Cobra, o Lingam e a Yoni unem-se com assiduidade e o mundo não acabou. Pelo contrário, disso só resultou, com a ajuda da Medicina, nos mais de 6 bilhões de habitantes do planeta.
Mural
Cleber Palone comenta "De FHC a Lula": "Gostaria de lembrar que fui um dos afortunados que leu tuas referências a Roubini. Absolutamente não quero (nem posso) aproximar-me da competência dele, mas desejo apenas entabular uma pequena comparação: se Roubini previu o "estouro da bolha imobiliária americana que mergulhou o mundo na crise" (sic) não seria o caso de acreditarmos que a advertência "sobre a nova bolha que está se formando nas chamadas economias emergentes" (sic), incluindo o Brasil, é real? E, salvo melhor juízo, não seria tão catastrófica para os investidores das economias em crise quanto foi a catastrófica virada de ano para os turistas paulistas e moradores locais na tragédia que se abateu sobre Angra dos Reis e Ilha Grande no Estado do Rio de Janeiro?"
Comentário: Não se trata realmente de previsão, mas de advertência de Roubini. Gente séria não faz profecias, apenas chama a atenção para os riscos de uma situação. Os dólares em questão "viajam" pelo mundo em busca de maior rendimento. Assim como entram, saem. O problema é que falsa sensação de prosperidade que trazem. O nosso governo está financiando seus esbanjamentos com esses dólares. Até pode dar certo, se algum milagre acontecer na economia. O risco, porém, é muito grande.