quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Carnaval e política – Jayme Copstein

Já que o carnaval se aproxima, volta a indagação: por que no Brasil o povo se interessa tanto pelo carnaval e tão pouco pela política?

A razão salta aos olhos tanto no texto dos livros de história como no noticiário dos jornais. Enquanto o Carnaval é o mesmo desde o século 19, quando o Brasil deixou de ser colônia e adquiriu o status de vice-reinado, as instituições políticas mudaram inúmeras vezes. Em resumo: apesar da informalidade, o Carnaval é algo muito sério, enquanto a política apesar do seus formalismos e dos discursos patriótico, não passa de desvairada orgia.

Algumas poucas comparações demonstram a diferença. O Carnaval é um delírio de três dias, com a mucama se transformando em rainha e o assaltante da esquina se travestindo de cowboy do faroeste. Na política, o ano inteiro os gatunos e os assassinos se fantasiam de gente honesta e de salvadores da pátria. De vez em quando, fazem sua quarta-feira de cinzas, que chamam de CPI, mas não vai além da quaresma dos holofotes. Logo, todos caem na gandaia porque a decência é pequena e a impunidade é grande neste Brasil brasileiro.

Lula no diapasão

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não consegue fazer exceção à imprudência dos políticos brasileiros em relação à sua própria saúde. Justiça seja feita, a única exceção, nos últimos tempos, é o vice-presidente José Alencar, cuja luta contra o câncer comove à Nação.

Lula afina pelo diapasão de outros protagonistas da nossa vida pública, aferrados à ideia de que cuidar da saúde é admitir fragilidade incompatível com a força e a energia de um líder. De pouco adianta citar o exemplo de Franklin Delano Roosevelt, cuja saúde fragílima não impediu de ser um dos maiores presidentes da História dos Estados Unidos. Petrônio Portella, em 1980, morreu por recusar hospitalização em Florianópolis para tratar adequadamente o infarto que o acometera em um quarto de hotel. Também Tancredo Neves, já sentindo com razoável antecedência as dores do divertículo infectado, recusou a cirurgia que o salvaria para não adiar sua posse na Presidência da República, caminhando para o trágico desfecho que afora enlutar o Brasil, por pouco não nos devolveu à ditadura. .

Os exemplos são muitos. É público e notório que o presidente Lula, fora do período eleitoral, quando cuida da sua "imagem", não cultiva nenhum tipo de comedimento em relação à comida, à bebida, e a isso tem acrescentado a agenda saturada de atividades, 24 horas do dia, para tentar eleger Dilma Roussef e preparar o retorno em 2014. A crise de hipertensão que o acometeu no Recife é uma advertência. É bom que ele a leve na conta e acate as recomendações de seus médicos para não sacrificar o futuro com que tanto sonha.

Ditos e achados

Andrés Lama, político uruguaio, sobre os caudilhos que já infestavam a América Latina em 1851: "Os homens de nossos campos não são mais que pedaços de carne destinados a manter esses abutres que chamamos caudilhos.Para eles não há regra nem proteção nas leis; a toda hora podem ser arrancados de sua casa e levados a viver essa vida 'montonera', verdadeira escola de vandalagem, verdadeira vida nômade. É assim que se é aclamado, é assim que se chega à presidência da República, ou à ditadura, ao poder de fato. A América Espanhola desonrou-se conferindo os títulos à suprema magistratura pela voz do motim ou nos campos da guerra civil. O crime que nas sociedades regulares leva à forca, na América Espanhola leva à presidência. É forçoso acabar com isso."