Faz alguns dias a OAB gaúcha zangou-se com a opinião de um professor que atribuía aos advogados a responsabilidade pelo caos jurídico onde o país se atolou. É evidente que o professor tomou a parte pelo todo – se a legislação libertina não permitisse todos os descabimentos, a carruagem andaria sobre as rodas e seria bem mais fácil separar quem é quem de que não é muito "quem".
Todavia, folheando o "Almanak Literário e Estatístico do Rio Grande do Sul, editado por Alfredo Ferreira Rodrigues em 1895, quando a legislação ainda não tinha sofrido os acréscimos que a transformaram no cipoal de hoje, já se falava da esperteza dos nossos bacharéis.
Foi o caso de certo advogado, "homem de juízo e talento", conforme a notícia, que disputava com um capitão o amor de uma donzela. Quarenta anos depois, Noel Rosa retratou estas disputas antigas em "Quando o samba acabou" (1933), contando a história de dois malandros que também disputavam o amor de uma cabrocha, mas resolveram a diferença civilizadamente, versejando numa roda de samba. "E como em toda façanha/ Sempre um perde e outro ganha - canta Noel – "Um dos dois parou de versejar/ E perdendo a doce amada/ Foi fumar na encruzilhada/ Passando horas em meditação".
Mas em 1893, o samba ainda não tinha sido inventado e o capitão da nossa historinha, pensando em intimidar o advogado, o desafiou para um duelo. Ou batia-se com ele, ou renunciava à donzela. O bacharel não se intimidou. Aceitou o desafio na hora. No dia combinado, apresentou-se com os padrinhos e duas pistolas já carregadas – lhe cabia escolher as armas, como desafiado. Propôs ao rival: "Concedo-lhe a primazia de atirar primeiro". E o alertou que o sobrevivente deveria guardar absoluto segredo, para não ser acusado de homicídio. O militar aceitou a deferência – era homem de pontaria precisa, não tinha por que recusar a vantagem. Mas, para não duvidarem da sua valentia, não perguntou que história era aquela de ser acusado de homicídio. Caminhou os dez passos, voltou-se e atirou no bacharel que estava com a pistola na mão abaixada e com quem ambos queriam casar.tombou com o tiro certeiro. No momento seguinte, deu-se conta de que: atirara em um homem que não estava lhe apontando a arma. Temendo pelas consequências, tratou de ir embora para longe, onde não pudesse ser localizado. Passado algum tempo, o "defunto" casou-se com a donzela. Tinha carregado a pistola com bala de festim e fingira-se de morto para afugentar o rival.
Se a história é verdadeira, não dá para saber. Fica a certeza, porém: se desde 1893 a OAB ou seus antecessores se zangassem com cada comentário sobre espertezas de advogados, a entidade teria uma história bem mais comprida, porém não tão rica nem com tantos e relevantes serviços à sociedade, como a que ostenta hoje.
Otimismo na borracha
No jantar anual do Sindicato das Indústrias de Artefatos de Borracha do Rio Grande do Sul, o presidente Geraldo Pinto Rodrigues da Fonseca – um gentleman – expôs as dificuldades impostas ao setor em 2009 pela crise mundial, felizmente superadas nos últimos meses do ano com o valor das exportações suplantando o do mesmo período correspondente em 2008. As perspectivas para 2010 são excelentes. As previsões moderadas sugerem 17% de crescimento nas exportações, criação de mais 5,9% de postos de trabalho, e arrecadação do ICMS subindo em 12%.