domingo, 31 de janeiro de 2010

Diana e os “alemães” – Jayme Copstein

A Princesa Diana arrependeu-se de ter "casado em uma família alemã". A surpreendente declaração lhe foi atribuída por Anthony Julius, seu advogado em duas questões rumorosas, obviamente uma delas o divórcio do Príncipe Charles. .

Diana conheceu Julius em 1994, quando o contratou para processar o "paparazzi" que secretamente a fotografara exercitando-se em uma academia de ginástica. A questão foi resolvida fora dos tribunais, no início de 1995. Satisfeita com o trabalho do advogado, no ano seguinte ela lhe pediu, apesar de não ser especializado em Direito de Família, que a representasse no processo que marcou o fim oficial de seu casamento com o Príncipe Charles.

A alusão depreciativa à "germanidade" da Família Real Inglesa pode sugerir aspectos obscuros da personalidade do Príncipe Philip, caturrão proverbial que tem entre seus antepassados o alemão Cristiano, Conde de Oldemburgo, origem de algumas casas reinantes europeias. A menção, porém, insere-se no contexto do livro de Julius sobre o antissemitismo inglês ("Trials of the Diaspora"), recém editado em Londres, porque, por ser o advogado de Diana no processo de divórcio, a sua condição de judeu, afora ser enfatizada por toda a imprensa britânicas, foi também objeto de grosserias de parte do jornal "The Daily Telegraph" (que depois se desculpou) e num panfleto neonazista, de Nick Griffin, líder do Partido Nacional Britânico.

Foi nesta ocasião que Diana solidarizou-se com Julius e lhe falou do arrependimento. De alguma forma, ela se identificava com os judeus pela hostilidade que sofria por parte da Família Real e da nobreza britânica. Julius atribui esta empatia não ao conhecimento maior que Diana tivesse sobre as vicissitudes judaicas, mas por ter ouvido falar que os homens judeus tratavam as mulheres com mais decência que aqueles com quem ela convivia.

Apesar da intenção de "The Trials of Diaspora" ser a de dissecar o antissemitismo inglês, Anthony Julius acabou resgatando uma Diana soterrada pelo terremoto dialético que tem idiotizado, com modelos politicamente corretos, a imprensa mundial desde os tempos da Guerra Fria. Segundo Paul Donovan, em matéria no Sunday Times de ontem, o livro a descreve como uma mulher frágil, despreparada para as exigências da sua classe social, interessada em tudo que estivesse fora do seu próprio mundo, com tendência a valorizar algo só porque não fizesse parte do seu mundo, e por isso mesmo vivendo no vazio, por não identificar a que mundo ela própria pertencia.

Diana se conduzia pela intuição e estava sempre aberta a novas experiências. Movida mais por uma curiosidade infantil que por ambições de grandeza, era obcecada pelo desejo de agradar a todos sem exceção, mas incapaz de detectar as intenções dos interlocutores. Por isso, sujeita a fantasias estranhas, foi vítima de erros grotescos em suas decisões, fossem grandes ou pequenos os dilemas que enfrentasse. Como diz Julius, conforme trechos transcritos por Paul Donovan no Sunday Times, "deu a impressão de viver em um estado geral de alienação, mas isso não a impediu de operar com sucesso em muitos ambientes diferentes."