O que é a Anac, a Agência Nacional de Aviação Civil, não se precisa dizer. Bastam trechos das primeiras informações passadas aos jornais pelos auditores que tentam responsabilizar a TAM pela crise da aviação civil.
Segundo a Folha de São Paulo, foi “excesso de ousadia” como se, por comparação, uma mulher pudesse estar excessivamente grávida. O que chama a atenção na arremetida contra a TAM é que repete a campanha para liquidação da Varig, como se a bruxa tivesse se trasladado de uma empresa a outra.
Os auditores, apesar de não terem feito ainda o levantamento, portanto sem dados concretos para afirmar o que quer que seja, acusam a TAM de overbooking, a venda de assentos acima da capacidade. Ou se trata de ignorância pura ou de malícia deslavada. O overbooking existe há muito tempo em todo o mundo, para prevenir perdas das empresas e poupar despesa adicional aos passageiro que se atrasam para os seus vôos. Nunca foi causa de balbúrdia como esta a que assistimos no Brasil.
O que paira no ar é uma pergunta: por que a investigação só se ocupa da TAM que hoje detém mais de 50% do mercado? Acaso a Gol, a menina dos olhos, o ai-jesus de José Dirceu, não faz overbooking e seus passageiros não sofrem, como os demais, o desconforto da bagunça dos aeroportos?
Ou será que a Gol nasceu filha amada, empelicada de capitais colombianos, enquanto as gatas borralheiras Varig e Transbrasil foram trucidadas pelos sucessivos governos, a partir de Zé Sarney, que inaugurou a lata do lixo onde jaz hoje o melhor da história deste país?
Terá chegado a vez da TAM?
quarta-feira, 27 de dezembro de 2006
terça-feira, 26 de dezembro de 2006
Quem paga, manda - Jayme Copstein
Não é só através de regulamentações manhosas, com fingidos moralismos que se estrangula a liberdade de expressão. Há uma outra velhacaria na qual se especializaram os governantes brasileiros – o suborno dos meios de comunicação, dissimulado sob a capa de propaganda.
É o jornalista Carlos Brickmann, de São Paulo, quem chama a atenção sobre o assunto, em artigo para o Observatório da Imprensa.
Brickmann pergunta:
“Qual o maior anunciante do Brasil? Será a Coca-Cola, a Ambev? Talvez a Unilever, com todas as suas marcas? Ou as onipresentes Casas Bahia, com seu ‘quer pagar quanto?’ Seriam as campanhas eleitorais, caso os horários fossem pagos? Só a que levou Lula à reeleição custou mais de R$ 100 milhões!”
Brickmann responde. Prestem, a atenção no restante do artigo:
“Nada disso: o maior anunciante do Brasil, por incrível que pareça, é o Governo Federal. Em 2007, a verba a ser torrada em publicidade é de R$ 412 milhões! E, considerando-se que o Governo não tem concorrentes nem vende nada, para que irá gastar tanto dinheiro – seu, meu, nosso dinheiro - em propaganda?
“Não, não estamos esquecendo as empresas estatais que disputam o mercado. Estas têm verbas próprias, além dos R$ 412 milhões. O Banco do Brasil tem quase R$ 200 milhões para gastar, muito mais do que o Bradesco – e o Bradesco, consistentemente, ano após ano, tem conseguido resultados melhores. Há meio milhão para o Conselho Nacional de Justiça; há R$ 400 mil para o Senado - como diria o poeta Ascenso Ferreira, “para que? Para nada.
“Que é que podem propagandear o Senado, ou o Conselho Nacional de Justiça? O Ministério da Defesa terá verba publicitária de meio milhão de reais. Seu principal problema, no momento, é a crise dos aeroportos. De que adianta gastar dinheiro, o nosso dinheiro, para explicar o inexplicável?
“As publicações sempre tiveram de conquistar o público, para depois conquistar anunciantes. A coisa parece agora mais simples: circulação, qualificação do público, número de leitores por exemplar, custo por telespectador, nada disso é muito importante. Com toda essa verba, basta apoiar o Governo e seus políticos preferidos. A gente paga. E eles mandam.”
Os artigos de Carlos Brickmann são encontrados também em sua página na Internet – www.brickmann.com.br. Leitura obrigatória para quem deseja mergulhar mais fundo nos bastidores da mídia, são remetidos, por e-mail, a quem solicitar para brickmann@brickmann.com.br.
É o jornalista Carlos Brickmann, de São Paulo, quem chama a atenção sobre o assunto, em artigo para o Observatório da Imprensa.
Brickmann pergunta:
“Qual o maior anunciante do Brasil? Será a Coca-Cola, a Ambev? Talvez a Unilever, com todas as suas marcas? Ou as onipresentes Casas Bahia, com seu ‘quer pagar quanto?’ Seriam as campanhas eleitorais, caso os horários fossem pagos? Só a que levou Lula à reeleição custou mais de R$ 100 milhões!”
Brickmann responde. Prestem, a atenção no restante do artigo:
“Nada disso: o maior anunciante do Brasil, por incrível que pareça, é o Governo Federal. Em 2007, a verba a ser torrada em publicidade é de R$ 412 milhões! E, considerando-se que o Governo não tem concorrentes nem vende nada, para que irá gastar tanto dinheiro – seu, meu, nosso dinheiro - em propaganda?
“Não, não estamos esquecendo as empresas estatais que disputam o mercado. Estas têm verbas próprias, além dos R$ 412 milhões. O Banco do Brasil tem quase R$ 200 milhões para gastar, muito mais do que o Bradesco – e o Bradesco, consistentemente, ano após ano, tem conseguido resultados melhores. Há meio milhão para o Conselho Nacional de Justiça; há R$ 400 mil para o Senado - como diria o poeta Ascenso Ferreira, “para que? Para nada.
“Que é que podem propagandear o Senado, ou o Conselho Nacional de Justiça? O Ministério da Defesa terá verba publicitária de meio milhão de reais. Seu principal problema, no momento, é a crise dos aeroportos. De que adianta gastar dinheiro, o nosso dinheiro, para explicar o inexplicável?
“As publicações sempre tiveram de conquistar o público, para depois conquistar anunciantes. A coisa parece agora mais simples: circulação, qualificação do público, número de leitores por exemplar, custo por telespectador, nada disso é muito importante. Com toda essa verba, basta apoiar o Governo e seus políticos preferidos. A gente paga. E eles mandam.”
Os artigos de Carlos Brickmann são encontrados também em sua página na Internet – www.brickmann.com.br. Leitura obrigatória para quem deseja mergulhar mais fundo nos bastidores da mídia, são remetidos, por e-mail, a quem solicitar para brickmann@brickmann.com.br.
Desfaçatez - Jayme Copstein
O problema dos aeroportos brasileiros é apenas ser a bola da vez. Quando for resolvido, e o será, como sempre, com improvisos e jeitinhos, jogos de cintura e quebradores de galho, virão outros, e outros, e outros, como os muitos que já ficaram lá para trás.
O que parece existir aí é a nossa absoluta falta de modéstia. Deus é brasileiro e somos todos seus maiores profetas. É a semente de tragédias como a da nova governadora do Rio Grande do Sul, perdida em um beco sem saída, mesmo antes de assumir o Piratini, ou de comédias, como a do presidente da República, que agora promete comparar-se consigo mesmo, como se houvesse alguma utilidade em forçar a mão direita contra a mão esquerda, a não ser em antigos manuais de ginástica, hoje completamente fora de moda.
A desculpa mais calhorda desta crise do transporte aéreo é o crescimento da demanda. Terá sido o Brasil o único país do mundo em que a demanda por transporte aéreo cresceu ou onde mais ela cresceu? Terá acontecido da noite para o dia, tão inesperadamente como um tsunami que leva tudo de roldão?
O que desejavam os sucessivos governos que jamais planejaram o atendimento da multidão deslocada das rodoviárias para os aeroportos? Que não os usassem, mas apenas os mostrassem às crianças, nos passeios de domingo, como monumentos nacionais, enquanto era contada a história gloriosa de Santos Dumont?
É muita desfaçatez discursar grandiloqüências para enfeitar a realidade. Cães e gatos de apartamento arranham o soalho, simulando esconder os dejetos sob uma camada fictícia de terra. Mas eles são apenas animais irracionais.
terça-feira, 26 de dezembro de 2006
O que parece existir aí é a nossa absoluta falta de modéstia. Deus é brasileiro e somos todos seus maiores profetas. É a semente de tragédias como a da nova governadora do Rio Grande do Sul, perdida em um beco sem saída, mesmo antes de assumir o Piratini, ou de comédias, como a do presidente da República, que agora promete comparar-se consigo mesmo, como se houvesse alguma utilidade em forçar a mão direita contra a mão esquerda, a não ser em antigos manuais de ginástica, hoje completamente fora de moda.
A desculpa mais calhorda desta crise do transporte aéreo é o crescimento da demanda. Terá sido o Brasil o único país do mundo em que a demanda por transporte aéreo cresceu ou onde mais ela cresceu? Terá acontecido da noite para o dia, tão inesperadamente como um tsunami que leva tudo de roldão?
O que desejavam os sucessivos governos que jamais planejaram o atendimento da multidão deslocada das rodoviárias para os aeroportos? Que não os usassem, mas apenas os mostrassem às crianças, nos passeios de domingo, como monumentos nacionais, enquanto era contada a história gloriosa de Santos Dumont?
É muita desfaçatez discursar grandiloqüências para enfeitar a realidade. Cães e gatos de apartamento arranham o soalho, simulando esconder os dejetos sob uma camada fictícia de terra. Mas eles são apenas animais irracionais.
terça-feira, 26 de dezembro de 2006
sexta-feira, 22 de dezembro de 2006
Sem medo de ser feliz - Jayme Copstein
O primeiro canhonaço coube à imprensa – sempre ela. Segundo o grande perito em aviação civil, companheiro Milton Zuanazzi, não tinha nada, era tudo invenção dos contumazes fofoqueiros que as democracias teimam em chamar de jornalistas.
No seguimento, entrou no pelourinho o mau tempo, com toda a certeza “como nunca se viu na história deste país”. Como os aviões, por mais de meio século, flanaram como garças, por esses céus de anil, com amor varonil etc. etc., foge à compreensão dos pobres mortais.
Generalizada a bagunça, a culpa passou às empresas aéreas. Como a velha Varig, com todas as mazelas, dava conta do recado?
Pura ilusão. Éramos alienados, pensávamos todos ser passarinhos. Voávamos sem consciência – que perigo! – sem ter asas de nascença. Já viram coisa mais politicamente incorreta do que esta?
Ainda bem que o nosso grande líder devolveu nossos pés ao chão. Bem verdade, andamos trocando caneladas no tumulto dos aeroportos congestionados, mas, ora que insignificância, mera penitência, por termos sido conduzidos ao paraíso.
Ou será que vocês ainda não perderam o medo de ser felizes?
No seguimento, entrou no pelourinho o mau tempo, com toda a certeza “como nunca se viu na história deste país”. Como os aviões, por mais de meio século, flanaram como garças, por esses céus de anil, com amor varonil etc. etc., foge à compreensão dos pobres mortais.
Generalizada a bagunça, a culpa passou às empresas aéreas. Como a velha Varig, com todas as mazelas, dava conta do recado?
Pura ilusão. Éramos alienados, pensávamos todos ser passarinhos. Voávamos sem consciência – que perigo! – sem ter asas de nascença. Já viram coisa mais politicamente incorreta do que esta?
Ainda bem que o nosso grande líder devolveu nossos pés ao chão. Bem verdade, andamos trocando caneladas no tumulto dos aeroportos congestionados, mas, ora que insignificância, mera penitência, por termos sido conduzidos ao paraíso.
Ou será que vocês ainda não perderam o medo de ser felizes?
quinta-feira, 21 de dezembro de 2006
Mágica besta - Jayme Copstein
A notícia de que o novo salário mínimo, de R$ 380, terá reflexos sobre as aposentadorias, é correta apenas em parte e induzirá beneficiários da Previdência Social a erro. Os magnânimos 8,5% por cento de aumento, a vigorar a partir de abril do ano que vem, só aumentam também os benefícios menores, os de 350 reais, correspondentes ao salário percebido por trabalhadores sem qualificação, assim mesmo em áreas onde a miséria seja feroz. Fora disso é difícil encontrar quem queira trabalhar por tão pouco dinheiro..
Todos os demais benefícios da Previdência Social ganharão apenas os 5% anunciados pelo Governo em fins de novembro. É que a reforma da Previdência de 1998 desvinculou aposentadorias e pensões do salário mínimo. Desde então, os benefícios têm sido corrigidas por índices para supostamente compensar ao menos à inflação.
No Brasil, entretanto, existe uma mágica besta chamada “O gato comeu”, criada pelo grande prestidigitador Luiz Carlos Bresser Pereira. Disso resulta, oito anos depois da reforma, em 40% de perdas – quase a metade – para os aposentados da classe média.
E aí vem o governo com gabolices de justiça social, argumentando com o aumento do rendimento médio das classes D e E. De novo a mágica besta: não foram as classes D e E que tiveram tão substancial ganho de seus proventos. Foi a transferência, pelo empobrecimento, de grande parte da classe B e de toda a classe C para D e E, que gerou a ilusão de enriquecimento dos mais pobres.
É pura mágica besta dos salvadores da pátria.
Todos os demais benefícios da Previdência Social ganharão apenas os 5% anunciados pelo Governo em fins de novembro. É que a reforma da Previdência de 1998 desvinculou aposentadorias e pensões do salário mínimo. Desde então, os benefícios têm sido corrigidas por índices para supostamente compensar ao menos à inflação.
No Brasil, entretanto, existe uma mágica besta chamada “O gato comeu”, criada pelo grande prestidigitador Luiz Carlos Bresser Pereira. Disso resulta, oito anos depois da reforma, em 40% de perdas – quase a metade – para os aposentados da classe média.
E aí vem o governo com gabolices de justiça social, argumentando com o aumento do rendimento médio das classes D e E. De novo a mágica besta: não foram as classes D e E que tiveram tão substancial ganho de seus proventos. Foi a transferência, pelo empobrecimento, de grande parte da classe B e de toda a classe C para D e E, que gerou a ilusão de enriquecimento dos mais pobres.
É pura mágica besta dos salvadores da pátria.
quarta-feira, 20 de dezembro de 2006
A copa dos deuses - Jayme Copstein
Que este mundo é uma bola, está decidido. O cardeal Tarcísio Bertone, secretário do Vaticano, sugeriu a possibilidade de a Santa Sé ter a sua própria equipe de futebol, à altura do Roma ou a Inter de Milão. Como não acrescentar aí o Inter de Porto Alegre, que ao contrário do xará italiano, é macho, sim senhor, e ainda por cima campeão do mundo?
Fica-se imaginando que, para equilibrar a disputa, a Fifa teria de modificar suas regras, tal como a Federação de Automobilismo faz quando alguém inventa um carro milagroso. Já pensaram vocês em uma seleção que tivesse São Pedro e São Paulo na zaga, Cosme e Damião no meio- de-campo, isso se o técnico São Baladão decidisse pelo velho dois-dois-quatro-dois, ainda no goal com São Judas Tadeu, o santo das impossíveis?
O problema estaria colocado quando essa seleção do Vaticano enfrentasse a seleção da Bahia com Xangô, Exu, Oxalá e Ogum no meio-de-campo, se o técnico Caboclo Ventania optasse pelo antigo dois-quatro-dois-dois. Quem venceria este encarniçado encontro das esquadras celestiais?
Nunca ficaremos sabendo. Tão logo o cardeal Bertone anunciou a boa nova, o Vaticano divulgou desmentido formal, com a clássica desculpa de que ele tinha sido mal interpretado. Jamais veremos São Genaro dar seus chapéus em Oxossi nem Oxumaré marcar seu gol de placa em São Brederodes.
Que pena!
Fica-se imaginando que, para equilibrar a disputa, a Fifa teria de modificar suas regras, tal como a Federação de Automobilismo faz quando alguém inventa um carro milagroso. Já pensaram vocês em uma seleção que tivesse São Pedro e São Paulo na zaga, Cosme e Damião no meio- de-campo, isso se o técnico São Baladão decidisse pelo velho dois-dois-quatro-dois, ainda no goal com São Judas Tadeu, o santo das impossíveis?
O problema estaria colocado quando essa seleção do Vaticano enfrentasse a seleção da Bahia com Xangô, Exu, Oxalá e Ogum no meio-de-campo, se o técnico Caboclo Ventania optasse pelo antigo dois-quatro-dois-dois. Quem venceria este encarniçado encontro das esquadras celestiais?
Nunca ficaremos sabendo. Tão logo o cardeal Bertone anunciou a boa nova, o Vaticano divulgou desmentido formal, com a clássica desculpa de que ele tinha sido mal interpretado. Jamais veremos São Genaro dar seus chapéus em Oxossi nem Oxumaré marcar seu gol de placa em São Brederodes.
Que pena!
terça-feira, 19 de dezembro de 2006
Onde mora o pecado - Jayme Copstein
Não é só o código de porta de cadeia, feito para garantir impunidade a quem possa pagar especialistas na endoidecida legislação de execuções criminais, que afoga o Brasil em inaudita violência. É o feudalismo político que transforma áreas vitais –a segurança, por exemplo – em latifúndios a serem distribuídos como quinhão eleitoral.
Resulta daí uma Polícia sem comando, dividida em seus próprios feudos, mal equipada, mal treinada e tão mal-paga em seus escalões inferiores, que empurra os mais humildes servidores ao convívio dos criminosos, em vilas periféricas onde a Polícia não chega.
Ali, eles não podem dizer que são policiais. Haverá cena mais patética que a de um PM obrigado a envergar a farda longe de casa, para não ser morto pelos marginais da vizinhança?
Se ele, “a autoridade”, é obrigado a tão humilhante agachamento, o que resta aos demais vileiros, que só existem para votar e pagar os impostos cobrados até mesmo de uma fatia de pão dormido, tudo para sustentar a malta de gatunos de alto coturno que refocilam em mensalões, sanguessugas e outras grossas bandalheiras sem batismo?
É só conferir a lista de protagonistas de latrocínios, seqüestros e tudo o mais que está nos apavorando. São insuspeitos empregados domésticos, vigias, biscateiros, desempregados, gente humilde, desprotegida e acossada no dilema de matar para não ser preso ou morrer por desobediência ao bandido do morro.
Aí, sobrevêm indignados clamores pela pena de morte ou de prisão perpétua. De acordo. Mas, quem a merece?
Resulta daí uma Polícia sem comando, dividida em seus próprios feudos, mal equipada, mal treinada e tão mal-paga em seus escalões inferiores, que empurra os mais humildes servidores ao convívio dos criminosos, em vilas periféricas onde a Polícia não chega.
Ali, eles não podem dizer que são policiais. Haverá cena mais patética que a de um PM obrigado a envergar a farda longe de casa, para não ser morto pelos marginais da vizinhança?
Se ele, “a autoridade”, é obrigado a tão humilhante agachamento, o que resta aos demais vileiros, que só existem para votar e pagar os impostos cobrados até mesmo de uma fatia de pão dormido, tudo para sustentar a malta de gatunos de alto coturno que refocilam em mensalões, sanguessugas e outras grossas bandalheiras sem batismo?
É só conferir a lista de protagonistas de latrocínios, seqüestros e tudo o mais que está nos apavorando. São insuspeitos empregados domésticos, vigias, biscateiros, desempregados, gente humilde, desprotegida e acossada no dilema de matar para não ser preso ou morrer por desobediência ao bandido do morro.
Aí, sobrevêm indignados clamores pela pena de morte ou de prisão perpétua. De acordo. Mas, quem a merece?
segunda-feira, 18 de dezembro de 2006
O padroeiro do eleitor - Jayme Copstein
Há poucos dias, um leitor de Zero Hora deu resposta contundente à outro leitor que perguntava – “Quando vai terminar tudo isso?” – referindo-se à esbórnia em que se transformou o nosso parlamento, com a falta de escrúpulos de uns e a cumplicidade de outros, que escondem sua própria imoralidade em conveniente silêncio.
A resposta contundente do leitor era: no dia em que as pessoas como a que fazia a perguntava, votassem com mais critério e consciência. Pois esta semana, ainda fervendo a indignação pelo assalto ao Tesouro, praticado pelas mesas do Senado e da Câmara, mas com o calado consentimento de todos os parlamentares, exceto alguns poucos do PT, a revista Veja publica a malandragem de um deputado do PSB de Alagoas, Oswaldo Carimbão, para ganhar a presidência da Comissão de Minorias da Câmara Federal.
Deve haver qualquer privilégio para que cargos assim sejam disputados com tanto entusiasmo. No caso, Carimbão defrontou-se com Luíza Erundina, que desejava o posto para a sua minoria, ou seja, a das mulheres. Ao que, de bate-pronto, Carimbão argumentou ainda com uma minoria bem menor. “Eu sou gay” – ele trovejou no recinto.
Como todo o mundo ficou bestificado – ou todos estavam de camanga para passar para trás Luíza Erundina, o machão Carimbão agora representa os gays na Comissão de Minorias. Como a quem alega cabe a prova, o ilustre representante socialista das Alagoas deveria ser intimado a comprovar a sua preferência sexual na prática. Sempre haveria alguns halterofilistas dispostos a contribuir a moralização, se não de todo o parlamento nacional, ao menos da presidência da Comissão de Minorias da Câmara.
A propósito: sabem quando o eleitor brasileiro vai votar com critério e consciência? No dia de São Nunca.
A resposta contundente do leitor era: no dia em que as pessoas como a que fazia a perguntava, votassem com mais critério e consciência. Pois esta semana, ainda fervendo a indignação pelo assalto ao Tesouro, praticado pelas mesas do Senado e da Câmara, mas com o calado consentimento de todos os parlamentares, exceto alguns poucos do PT, a revista Veja publica a malandragem de um deputado do PSB de Alagoas, Oswaldo Carimbão, para ganhar a presidência da Comissão de Minorias da Câmara Federal.
Deve haver qualquer privilégio para que cargos assim sejam disputados com tanto entusiasmo. No caso, Carimbão defrontou-se com Luíza Erundina, que desejava o posto para a sua minoria, ou seja, a das mulheres. Ao que, de bate-pronto, Carimbão argumentou ainda com uma minoria bem menor. “Eu sou gay” – ele trovejou no recinto.
Como todo o mundo ficou bestificado – ou todos estavam de camanga para passar para trás Luíza Erundina, o machão Carimbão agora representa os gays na Comissão de Minorias. Como a quem alega cabe a prova, o ilustre representante socialista das Alagoas deveria ser intimado a comprovar a sua preferência sexual na prática. Sempre haveria alguns halterofilistas dispostos a contribuir a moralização, se não de todo o parlamento nacional, ao menos da presidência da Comissão de Minorias da Câmara.
A propósito: sabem quando o eleitor brasileiro vai votar com critério e consciência? No dia de São Nunca.
Fronteiras - Jayme Copstein
Não se trata de contestar a sentença dos jurados de Novo Hamburgo, condenando um marido acusado pelo assassinato da mulher, com requintes de premeditação que incluíram a incineração do cadáver em algo comparável a um ritual viking. A jornalistas, não cabe aprovar ou reprovar decisões judiciais.
Cabe, porém, análise das contradições da lei penal brasileira, tão cheia de vírgulas e rituais que descambariam para o pastelão puro e simples, não as marcassem como tragicomédia os lances dramáticos.
Já não se fala na aberração que reduz a pena do réu a menos de 20 anos, para evitar novo julgamento, imposto auto0maticamente pela lei. É a leniência, feita sob medida para beneficiar quem possa pagar bons advogados. Foi o caso, entre muito outros assemelhados, daqueles jovens de Brasília que trucidaram Galdino, o índio pataxó, e escaparam lampeiros e fagueiros de qualquer punição, pagando cestas básicas.
Houve uma tentativa, originada na indignação popular, para corrigir a aberração através do conceito de “crime hediondo”. Mas o Supremo Tribunal Federal, após longos anos da vigência, considerou a lei inconstitucional, o que faz réus, condenados já com brandura a menos de 20 anos de prisão, a cumprirem pouco mais de três anos de sentença.
Tudo para mostrar que este é um país justo, civilizado e humanitário. A começar pelos magistrados e parlamentares, que aumentam seus salários sem nenhuma modéstia, enquanto o resto da população rói o toco das unhas. Como todos sabemos, a justiça começa por casa. Só que, no Brasil, ela nunca ultrapassa essas fronteiras.
Cabe, porém, análise das contradições da lei penal brasileira, tão cheia de vírgulas e rituais que descambariam para o pastelão puro e simples, não as marcassem como tragicomédia os lances dramáticos.
Já não se fala na aberração que reduz a pena do réu a menos de 20 anos, para evitar novo julgamento, imposto auto0maticamente pela lei. É a leniência, feita sob medida para beneficiar quem possa pagar bons advogados. Foi o caso, entre muito outros assemelhados, daqueles jovens de Brasília que trucidaram Galdino, o índio pataxó, e escaparam lampeiros e fagueiros de qualquer punição, pagando cestas básicas.
Houve uma tentativa, originada na indignação popular, para corrigir a aberração através do conceito de “crime hediondo”. Mas o Supremo Tribunal Federal, após longos anos da vigência, considerou a lei inconstitucional, o que faz réus, condenados já com brandura a menos de 20 anos de prisão, a cumprirem pouco mais de três anos de sentença.
Tudo para mostrar que este é um país justo, civilizado e humanitário. A começar pelos magistrados e parlamentares, que aumentam seus salários sem nenhuma modéstia, enquanto o resto da população rói o toco das unhas. Como todos sabemos, a justiça começa por casa. Só que, no Brasil, ela nunca ultrapassa essas fronteiras.
sexta-feira, 15 de dezembro de 2006
A próxima vítima - Jayme Copstein
Os assaltantes porto-alegrenses trucidaram mais um inocente – desta vez uma professora amada por seus alunos. Zero Hora publica entrevista do provável secretário de Segurança da governadora Yeda Crusius, deputado Enio Bacci, propondo resolver o problema da violência com diplomas e medalhas de estímulo aos policiais.
Na mesma página Zero Hora noticia a investigação do assassinato de dois policias, um em Canoas, outro em Gravataí, um dos quais, com toda a certeza, vai receber o clássico reconhecimento do “cumprimento do dever”, pois foi morto em ação, ao tentar identificar criminosos. De que lhe valerá a honraria é uma pergunta sem resposta.
Entrevistado por Zero Hora, o deputado Ênio Bacci mostrou-se entusiasmado. Disse que o time está montado e que tem coragem de matar um leão por dia. Mas como Esporte Clube São Paulo, da cidade do Rio Grande, conhecido como o Leão do Parque, já está na segunda divisão, um castigo no futebol do Rio Grande do Sul, só restam os leões do circo. Esses, coitados, só freqüentam o noticiário mortos de fome, abandonados pelos cirquinhos falidos.
Enquanto isso, as pessoas se entreolham. Não pelos leões e medalhas do deputado Ênio Bacci, mas pela certeza de que seguirão tombando nas ruas se a Secretaria da Segurança Pública continuar um quinhão político.
As pessoas se entreolham, sim, em muda interrogação.
Quem será a próxima vítima?
Na mesma página Zero Hora noticia a investigação do assassinato de dois policias, um em Canoas, outro em Gravataí, um dos quais, com toda a certeza, vai receber o clássico reconhecimento do “cumprimento do dever”, pois foi morto em ação, ao tentar identificar criminosos. De que lhe valerá a honraria é uma pergunta sem resposta.
Entrevistado por Zero Hora, o deputado Ênio Bacci mostrou-se entusiasmado. Disse que o time está montado e que tem coragem de matar um leão por dia. Mas como Esporte Clube São Paulo, da cidade do Rio Grande, conhecido como o Leão do Parque, já está na segunda divisão, um castigo no futebol do Rio Grande do Sul, só restam os leões do circo. Esses, coitados, só freqüentam o noticiário mortos de fome, abandonados pelos cirquinhos falidos.
Enquanto isso, as pessoas se entreolham. Não pelos leões e medalhas do deputado Ênio Bacci, mas pela certeza de que seguirão tombando nas ruas se a Secretaria da Segurança Pública continuar um quinhão político.
As pessoas se entreolham, sim, em muda interrogação.
Quem será a próxima vítima?
Recordes - Jayme Copstein
Festejemos, irmãos: em Cachoeira do Sul acabam de descobrir um fóssil de 228 milhões de anos o que, segundo a Zero Hora, pode mudar a história dos dinossauros na face da Terra.
Pranteemos, irmãos. O Congresso brasileiro acaba de sacramentar mais uma indecência, dobrando sua remuneração. Daqui a 228 milhões de anos, os arqueólogos ao remexerem em ossadas, dirão que jamais houve na história do mundo políticos tão imorais quanto os do Brasil, e por isso jamais mudou o destino deste país.
Festejemos irmãos. Os arqueólogos só precisaram de meia dúzia de fragmentos de ossos, para concluir que o dinossauro descoberto era um dos elos perdidos entre formas mais primitivas e formas mais evoluídas da espécie.
Pranteemos, irmãos. A absolvição de praticamente todos os mensaleiros e sanguessugas são provas demasiadas que qualquer elo que acaso houvesse entre o “politicus brasiliensis” e o mínimo de decência que se exige de qualquer ser vivo, perdeu-se irrecuperavelmente, se é que existiu algum dia.
Festejemos, irmãos. Se a importância desta descoberta em Cacheira do Sul for confirmada, o Brasil vai para o Livro dos Recordes do Ginness como detentor do fóssil mais antigo de toda a história da humanidade.
Pranteemos, irmãos. Não se precisa mais de comprovação. Os números são eloqüentes: passando ganhar a quase 30 vezes o que percebe um congressista norte-americano e mais de 30 vezes o que ganha um parlamentar inglês, em um país onde a renda média da população é 15 vezes menor do que a dos habitantes dos Estádios Unidos ou da Inglaterra, já estamos no Guinness: trata-se do Congresso mais imoral da história do planeta.
Pranteemos, irmãos. O Congresso brasileiro acaba de sacramentar mais uma indecência, dobrando sua remuneração. Daqui a 228 milhões de anos, os arqueólogos ao remexerem em ossadas, dirão que jamais houve na história do mundo políticos tão imorais quanto os do Brasil, e por isso jamais mudou o destino deste país.
Festejemos irmãos. Os arqueólogos só precisaram de meia dúzia de fragmentos de ossos, para concluir que o dinossauro descoberto era um dos elos perdidos entre formas mais primitivas e formas mais evoluídas da espécie.
Pranteemos, irmãos. A absolvição de praticamente todos os mensaleiros e sanguessugas são provas demasiadas que qualquer elo que acaso houvesse entre o “politicus brasiliensis” e o mínimo de decência que se exige de qualquer ser vivo, perdeu-se irrecuperavelmente, se é que existiu algum dia.
Festejemos, irmãos. Se a importância desta descoberta em Cacheira do Sul for confirmada, o Brasil vai para o Livro dos Recordes do Ginness como detentor do fóssil mais antigo de toda a história da humanidade.
Pranteemos, irmãos. Não se precisa mais de comprovação. Os números são eloqüentes: passando ganhar a quase 30 vezes o que percebe um congressista norte-americano e mais de 30 vezes o que ganha um parlamentar inglês, em um país onde a renda média da população é 15 vezes menor do que a dos habitantes dos Estádios Unidos ou da Inglaterra, já estamos no Guinness: trata-se do Congresso mais imoral da história do planeta.
quinta-feira, 14 de dezembro de 2006
O tédio de ser vice - Jayme Copstein
É só examinar a relação dos vices desta república, desde que lhes foi permitida a carona na votação do titular, para surgir a interrogação: quantos deles conseguiriam se eleger síndicos do prédio onde moram, se tivessem de enfrentar as urnas.
A legislação é clara. O papel do vice é substituir o titular nos impedimentos. Mas como esses impedimentos são poucos e pífios, os vices acabam sempre sofrendo da mais incurável das moléstias, a do tédio. Desandam a falar do que não sabem e até do que não lhes cabe.
Getúlio Vargas dizia ser necessário manter os vices muitos ocupados para que não preenchessem seus ócios com conspirações. Sua experiência com eles não era nada boa. Ao longo dos 18 anos de poder, só teve dois: João Neves da Fontoura, vice quando Getulio presidia o Rio Grande do Sul e com ele brigou por não entender que lhe estava sendo reservado papel maior na Revolução de 30; e Café Filho, que conspirou para depô-lo em 1954.
Tem gente a propor a volta do sistema antigo, em que o vice dispute o cargo com seus próprios méritos. Também não vai solucionar o problema. Se caroneiros, já perturbam tanto, imaginem com o apoio das urnas. Aí mesmo é que não ficariam quietos.
A legislação é clara. O papel do vice é substituir o titular nos impedimentos. Mas como esses impedimentos são poucos e pífios, os vices acabam sempre sofrendo da mais incurável das moléstias, a do tédio. Desandam a falar do que não sabem e até do que não lhes cabe.
Getúlio Vargas dizia ser necessário manter os vices muitos ocupados para que não preenchessem seus ócios com conspirações. Sua experiência com eles não era nada boa. Ao longo dos 18 anos de poder, só teve dois: João Neves da Fontoura, vice quando Getulio presidia o Rio Grande do Sul e com ele brigou por não entender que lhe estava sendo reservado papel maior na Revolução de 30; e Café Filho, que conspirou para depô-lo em 1954.
Tem gente a propor a volta do sistema antigo, em que o vice dispute o cargo com seus próprios méritos. Também não vai solucionar o problema. Se caroneiros, já perturbam tanto, imaginem com o apoio das urnas. Aí mesmo é que não ficariam quietos.
Segurança e demagogia - Jayme Copstein
A governadora eleitas Yeda Crusius enfrenta, no preenchimento da Secretaria da Segurança, o seu grande problema. Ela deseja um técnico para liderar a Pasta, em um Estado cuja capital, apesar de ostentar invejável renda per capita, a maior do país, exibe também índices de criminalidade e violência, nada invejáveis mesmo para quem vive no conturbado Oriente Médio.
Neste contexto sócio-econômico é fácil deduzir-se que a pobreza e a miséria tem menos a ver com a delinqüência do que a desorganização, o espírito corporativista e a inércia de uma burocracia que impede a modernização e conseqüente eficiência do aparto da segurança pública.
Não se necessita de uma lupa similar ao telescópio espacial Hubbie, para catar as miudezas que infernizam a vida do porto-alegrense. Elas não estão a anos-luz de distância. É só olhar para uma das muitas insignificâncias como a área de habilitação de motoristas. O Centro de Formação de Condutores da Restinga, por exemplo, é alvo de reclamações de usuários mal atendidos, inclusive com dados bloqueados para impedi-los de buscar solução em outros centros mais eficientes. Afora o rei na barriga que se instalou no CFC da Restinga, esses usuários não conseguiram sequer que o Detran lhes ouvisse a reclamação.
A governadora Yeda Crusius tem razão em querer um técnico para a Segurança. Os políticos que por lá passaram, até agora, sem exceção, não conseguiram resolver sequer as quinquilharias. Parece que consideram apenas um lugar para arrecadar votos. Feito isso, o eleitor que se arranje.
Neste contexto sócio-econômico é fácil deduzir-se que a pobreza e a miséria tem menos a ver com a delinqüência do que a desorganização, o espírito corporativista e a inércia de uma burocracia que impede a modernização e conseqüente eficiência do aparto da segurança pública.
Não se necessita de uma lupa similar ao telescópio espacial Hubbie, para catar as miudezas que infernizam a vida do porto-alegrense. Elas não estão a anos-luz de distância. É só olhar para uma das muitas insignificâncias como a área de habilitação de motoristas. O Centro de Formação de Condutores da Restinga, por exemplo, é alvo de reclamações de usuários mal atendidos, inclusive com dados bloqueados para impedi-los de buscar solução em outros centros mais eficientes. Afora o rei na barriga que se instalou no CFC da Restinga, esses usuários não conseguiram sequer que o Detran lhes ouvisse a reclamação.
A governadora Yeda Crusius tem razão em querer um técnico para a Segurança. Os políticos que por lá passaram, até agora, sem exceção, não conseguiram resolver sequer as quinquilharias. Parece que consideram apenas um lugar para arrecadar votos. Feito isso, o eleitor que se arranje.
terça-feira, 12 de dezembro de 2006
De Bismarck a Orestes Quércia - Jayme Copstein
Nada de novo sob o Sol, diz o Eclesiastes. Os jornais de hoje dão destaque à espirituosa declaração do presidente Lula Inácio Lula da Silva, renegando sua militância à esquerda.
É plágio mal-feito de um chiste de Bismarck, o chanceler alemão do século 19, que dizia com menos palavras e mais contundência: quem não foi socialista aos 18 anos ou continua sendo aos 60, é um tolo.
Mas comparar Lula a Bismarck é uma demasia. Mais apropriado seria falar-se em Orestes Quércia, que confessadamente faliu o Banespa para reeleger seu sucessor, Luiz Fleury, no governo de São Paulo. Naquele tempo não havia reeleição, caso contrário os paulistas teriam Quércia em dose dupla.
Se Lula bagunçou a economia para se reeleger é uma interrogação ainda sem resposta. Quebrar o Brasil ele não quebrou porque é tarefa impossível por mais que o roubem tão desbragadamente os seus políticos. Mas os primeiros sinais de alarma, que algo começa a se deteriorar, estão em pesquisa da Federação do Comércio de São Paulo, mostrando elevada taxa 76% de endividamento entre trabalhadores que percebem de um e três salários mínimos. Sessenta por cento deles estão com as contas em atraso. Nas faixas salariais superiores, o endividamento cai, mas o média geral é de 43%. Ou seja, quase a metade da população assalariada enfrenta dívidas, como o resultado do crédito fácil, com fins nitidamente eleitoreiros, propagado quase como aumento de salário, pois não vinha acompanhado da advertência que o dinheiro teria de ser devolvido mais adiante.
A frase espirituosa pode ser de Bismarck. O espírito da coisa, entretanto, é de Quércia.
É plágio mal-feito de um chiste de Bismarck, o chanceler alemão do século 19, que dizia com menos palavras e mais contundência: quem não foi socialista aos 18 anos ou continua sendo aos 60, é um tolo.
Mas comparar Lula a Bismarck é uma demasia. Mais apropriado seria falar-se em Orestes Quércia, que confessadamente faliu o Banespa para reeleger seu sucessor, Luiz Fleury, no governo de São Paulo. Naquele tempo não havia reeleição, caso contrário os paulistas teriam Quércia em dose dupla.
Se Lula bagunçou a economia para se reeleger é uma interrogação ainda sem resposta. Quebrar o Brasil ele não quebrou porque é tarefa impossível por mais que o roubem tão desbragadamente os seus políticos. Mas os primeiros sinais de alarma, que algo começa a se deteriorar, estão em pesquisa da Federação do Comércio de São Paulo, mostrando elevada taxa 76% de endividamento entre trabalhadores que percebem de um e três salários mínimos. Sessenta por cento deles estão com as contas em atraso. Nas faixas salariais superiores, o endividamento cai, mas o média geral é de 43%. Ou seja, quase a metade da população assalariada enfrenta dívidas, como o resultado do crédito fácil, com fins nitidamente eleitoreiros, propagado quase como aumento de salário, pois não vinha acompanhado da advertência que o dinheiro teria de ser devolvido mais adiante.
A frase espirituosa pode ser de Bismarck. O espírito da coisa, entretanto, é de Quércia.
Depois da vírgula - Jayme Copstein
Quem especula com a rejeição das contas de campanha pelo TSE, para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em seu segundo mandato, tomou bonde errado. O Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo já antecipou em parte a decisão sobre uma das irregularidades apontadas, a das contribuições de concessionárias do serviço público.
A irregularidade maior nas contas de Lula são 10 milhões de reais doados oito empresas vinculadas concessões públicas. Contudo, ontem, ao julgar as contas do governador eleito José Serra, cujo balanço acusa 700 mil reais de doações desta natureza, concluiu pela legalidade, porque a legislação não é muito clara em suas definições.
Serra não foi também o primeiro beneficiado com esta interpretação. Já antes dele, o deputado José Mentor, do PT, o ex-prefeito Paulo Maluf (PP) e, mais recentemente, o governador Aécio Neves (PSDB) foram favorecidos por essas acrobáticas interpretações.
Quem tinha razão era um empresário poderoso dos anos 60, 70, que pedia aos seus advogados a leitura das proibições de determinada lei. Quando os bacharéis começavam a recitar a lengalenga, ele cortava: “Comecem daquele ponto que diz – porém...”
O grande problema da Justiça brasileira é que, aqui, todas as leis começam com letra maiúscula, como devem, mas só valem de fato a partir de alguma virgulazinha perdida logo adiante.
A irregularidade maior nas contas de Lula são 10 milhões de reais doados oito empresas vinculadas concessões públicas. Contudo, ontem, ao julgar as contas do governador eleito José Serra, cujo balanço acusa 700 mil reais de doações desta natureza, concluiu pela legalidade, porque a legislação não é muito clara em suas definições.
Serra não foi também o primeiro beneficiado com esta interpretação. Já antes dele, o deputado José Mentor, do PT, o ex-prefeito Paulo Maluf (PP) e, mais recentemente, o governador Aécio Neves (PSDB) foram favorecidos por essas acrobáticas interpretações.
Quem tinha razão era um empresário poderoso dos anos 60, 70, que pedia aos seus advogados a leitura das proibições de determinada lei. Quando os bacharéis começavam a recitar a lengalenga, ele cortava: “Comecem daquele ponto que diz – porém...”
O grande problema da Justiça brasileira é que, aqui, todas as leis começam com letra maiúscula, como devem, mas só valem de fato a partir de alguma virgulazinha perdida logo adiante.
segunda-feira, 11 de dezembro de 2006
A igualdade das ditaduras - Jayme Copstein
Nada mais igual a uma ditadura que outra ditadura, seja qual for o pretexto erigido como doutrina para justificar seus crimes. O pensamento me veio à cabeça nos idos de 1980, em Santiago do Chile, aonde eu fora como editor de turismo do velho Correio do Povo. Na rua, um policial me avisou dos minutos que faltavam para ser preso se não atendesse ao toque de recolher, à meia-noite.
Seis anos antes eu visitara Berlim Oriental, capital da Alemanha comunista. Era notável a semelhança da ladainha ideológica, recitada pelos dois jovens guias, o alemão e o chileno. O alemão só apontava monumentos construídos para lembrar os crimes cometidos pelos alemães contra a União Soviética, apesar dos quase 30 anos decorridos do fim da Segunda Guerra Mundial. O chileno passava versões sobre a conspiração comunista para escravizar os povos livres da América, apesar de Salvador Allende ter sido eleito legalmente em um pleito sem contestações.
Não consegui passar uma noite em Berlim Oriental. Era proibido. Fora incluído em uma excursão pela Internaziones, de quem era hóspede em Berlim Ocidental. Tudo cronometrado, a passagem pela fronteira marcada pelo Muro, após identificação com fotografia de frente e perfil, para ser conferido o retorno também na hora marcada. Ao entrar em Santiago, fui obrigado a comparecer a um departamento do governo, onde me fotografaram de frente e perfil e me forneceram uma carteira de identidade, confiscada na saída.
Todas essas coisas me voltam à lembrança com a morte do ditador fascista Augusto Pinochet, sem nunca ter sido julgado pelos seus crimes. Há alguns anos, o ditador alemão comunista Erich Honecker foi também indultado por sofrer de câncer e veio morrer no Chile.
Não é coincidência. Nada mais igual a uma ditadura que outra ditadura, seja qual for o pretexto erigido como doutrina para justificar seus crimes.
Seis anos antes eu visitara Berlim Oriental, capital da Alemanha comunista. Era notável a semelhança da ladainha ideológica, recitada pelos dois jovens guias, o alemão e o chileno. O alemão só apontava monumentos construídos para lembrar os crimes cometidos pelos alemães contra a União Soviética, apesar dos quase 30 anos decorridos do fim da Segunda Guerra Mundial. O chileno passava versões sobre a conspiração comunista para escravizar os povos livres da América, apesar de Salvador Allende ter sido eleito legalmente em um pleito sem contestações.
Não consegui passar uma noite em Berlim Oriental. Era proibido. Fora incluído em uma excursão pela Internaziones, de quem era hóspede em Berlim Ocidental. Tudo cronometrado, a passagem pela fronteira marcada pelo Muro, após identificação com fotografia de frente e perfil, para ser conferido o retorno também na hora marcada. Ao entrar em Santiago, fui obrigado a comparecer a um departamento do governo, onde me fotografaram de frente e perfil e me forneceram uma carteira de identidade, confiscada na saída.
Todas essas coisas me voltam à lembrança com a morte do ditador fascista Augusto Pinochet, sem nunca ter sido julgado pelos seus crimes. Há alguns anos, o ditador alemão comunista Erich Honecker foi também indultado por sofrer de câncer e veio morrer no Chile.
Não é coincidência. Nada mais igual a uma ditadura que outra ditadura, seja qual for o pretexto erigido como doutrina para justificar seus crimes.
A morte de Castello Branco - Jayme Copstein
De volta ao noticiário as especulações sobre a morte do marechal Castello Branco, primeiro chefe da ditadura militar instaurada em abril de 1964. A revista IstoÉ desta semana traz reportagem de cinco páginas, com suspeitas do procurador da República no Ceará, Alessander Wilson Cabral Sales, manifestadas em ação civil contra a União, para obter “informações mais detalhadas”.
Tenho uma pequena contribuição ao caso, colhida acidentalmente ao entrevistar Rachel de Queiroz para a Rádio Gaúcha, em 1989, quando a Editora José Olímpio reuniu sua obra adulta em cinco volumes. O nome de Castello Branco surgiu na entrevista porque eles eram primos distantes. O marechal tinha ido visitá-la, em Quixadá, no interior do Ceará. Foi de lá que partiu para a morte.
A hipótese de assassinato político já era rumor corrente, então. Rachel refutou a versão. Contou que, ao partir para Fortaleza, Castello pediu ao piloto do avião para sobrevoar, no trajeto, um conjunto habitacional, construído na região em seu tempo de presidente.
Tal como ocorrera com Salgado Filho, muitos anos antes, e iria acontecer com Ulysses Guimarães, poucos anos depois, o piloto se opôs, mas foi vencido pela teimosia de Castello. Diferente do caso de Salgado e Ulysses, em que havia problemas de mau tempo, o piloto alertou Castello que a área era reservada ao treinamento dos caças da FAB, portanto, vedada a aviões civis pelo alto risco de acidentes.
Não confere, também, com as informações que se tinha na época, suposto pronunciamento de Castello contra o regime para cuja instauração contribuíra como líder, não como figura secundária. Discordava do grupo de Costa e Silva e defendia a volta à democracia. Para tanto, desejava concorrer a uma cadeira no Senado. Era por isso que estava no Ceará.
Tenho uma pequena contribuição ao caso, colhida acidentalmente ao entrevistar Rachel de Queiroz para a Rádio Gaúcha, em 1989, quando a Editora José Olímpio reuniu sua obra adulta em cinco volumes. O nome de Castello Branco surgiu na entrevista porque eles eram primos distantes. O marechal tinha ido visitá-la, em Quixadá, no interior do Ceará. Foi de lá que partiu para a morte.
A hipótese de assassinato político já era rumor corrente, então. Rachel refutou a versão. Contou que, ao partir para Fortaleza, Castello pediu ao piloto do avião para sobrevoar, no trajeto, um conjunto habitacional, construído na região em seu tempo de presidente.
Tal como ocorrera com Salgado Filho, muitos anos antes, e iria acontecer com Ulysses Guimarães, poucos anos depois, o piloto se opôs, mas foi vencido pela teimosia de Castello. Diferente do caso de Salgado e Ulysses, em que havia problemas de mau tempo, o piloto alertou Castello que a área era reservada ao treinamento dos caças da FAB, portanto, vedada a aviões civis pelo alto risco de acidentes.
Não confere, também, com as informações que se tinha na época, suposto pronunciamento de Castello contra o regime para cuja instauração contribuíra como líder, não como figura secundária. Discordava do grupo de Costa e Silva e defendia a volta à democracia. Para tanto, desejava concorrer a uma cadeira no Senado. Era por isso que estava no Ceará.
sexta-feira, 8 de dezembro de 2006
Da ficção à realidade - Jayme Copstein
Um filme americano que sequer nos Estádios Unidos tem conseguido crítica favorável, despertou amargos protestos aqui no Brasil. Eu até me dispunha a comentá-lo com indignada solidariedade, não tivesse perdido a razão para fazê-lo diante da notícia do assalto sofrido pela presidente do Supremo Tribunal Federal.
A ministra Ellen Gracie e seu colega Gilmar Mendes vieram ao Rio de Janeiro participar de atividades oficiais. No trajeto do Aeroporto Tom Jobim para o hotel, foram atacados por bandidos que os deixaram a pé, levando o carro que os conduzia. Não se trata de ficção cinematográfica de quinta categoria, mas da descategorizada realidade brasileira, repetida diariamente, apenas com outros personagens menos importante do que uma das três maiores autoridades da República.
Desalentadora foi a explicação de um policial do Rio de Janeiro, atribuindo o assalto a falha da equipe de segurança do STF. Devia ter solicitado, segundo este policia, acompanhamento especial da Polícia Federal.
Ora, se nem mesmo a alta administração da República pode transitar pela Linha Vermelha, sem especiais cuidados da Polícia Federal, não se tem nada a reclamar de um filme que não passa de idiotice. Por deprimente que seja a sua história não conseguirá jamais ser pior que a realidade por nós vivida diariamente e estampada nos jornais, no rádio e na tevê.
A ministra Ellen Gracie e seu colega Gilmar Mendes vieram ao Rio de Janeiro participar de atividades oficiais. No trajeto do Aeroporto Tom Jobim para o hotel, foram atacados por bandidos que os deixaram a pé, levando o carro que os conduzia. Não se trata de ficção cinematográfica de quinta categoria, mas da descategorizada realidade brasileira, repetida diariamente, apenas com outros personagens menos importante do que uma das três maiores autoridades da República.
Desalentadora foi a explicação de um policial do Rio de Janeiro, atribuindo o assalto a falha da equipe de segurança do STF. Devia ter solicitado, segundo este policia, acompanhamento especial da Polícia Federal.
Ora, se nem mesmo a alta administração da República pode transitar pela Linha Vermelha, sem especiais cuidados da Polícia Federal, não se tem nada a reclamar de um filme que não passa de idiotice. Por deprimente que seja a sua história não conseguirá jamais ser pior que a realidade por nós vivida diariamente e estampada nos jornais, no rádio e na tevê.
O jeito da barreira - Jayme Copstein
O Supremo Tribunal Federal derrubou ontem, por unanimidade, a chamada cláusula de barreira, aprovada em 1995 pelo Congresso. Os ministros deram-se até ao luxo de ornamentar sua decisão com tiradas que de tiradas que julgaram inteligentes, como chamá-la de “cláusula de caveira”, “condenação à morte por inanição” e “retirada dos tubos que mantêm um doente vivo”. Em comum nos engenhosos trocadilhos, em forte concorrência ao humorismo do rádio e da tevê, a admissão de que os partidos atingidos pela barreira são moribundos, mantidos artificialmente com suculentas verbas públicas, ou seja, o dinheiro extorquido de todos nós através dos impostos.
É verdade que cláusulas de barreira não solucionam o problema da falta de representatividade do parlamento, eleito por esta aberração chamada voto proporcional que consegue eleger seis deputados federais de uma chapa que só tinha cinco candidatos, como foi o caso do Prona, em 2002.
Isso não tem a menor importância. Se alguém quisesse resolver alguma coisa, o voto distrital puro já teria sido implantado há muito. Este é mesmo um país gracioso, sobre o qual não se necessita criar anedotas porque seus homens públicos são por demais talentosos para o “jeitinho”.
No caso da cláusula da barreira, passaram-se onze anos, tempo mais do que suficiente para se decidir, antes das eleições, se era ou não inconstitucional. Mas como fazê-lo sem saber o bicho que ia dar?
Deu-se jeito.
É verdade que cláusulas de barreira não solucionam o problema da falta de representatividade do parlamento, eleito por esta aberração chamada voto proporcional que consegue eleger seis deputados federais de uma chapa que só tinha cinco candidatos, como foi o caso do Prona, em 2002.
Isso não tem a menor importância. Se alguém quisesse resolver alguma coisa, o voto distrital puro já teria sido implantado há muito. Este é mesmo um país gracioso, sobre o qual não se necessita criar anedotas porque seus homens públicos são por demais talentosos para o “jeitinho”.
No caso da cláusula da barreira, passaram-se onze anos, tempo mais do que suficiente para se decidir, antes das eleições, se era ou não inconstitucional. Mas como fazê-lo sem saber o bicho que ia dar?
Deu-se jeito.
quinta-feira, 7 de dezembro de 2006
O preço real - Jayme Copstein
A partir de março, o brasileiro vai sentir diretamente no bolso o preço da demagogia e da alienação. A demagogia é do ministro das Comunicações, pretendendo mostrar-se amigo dos pobres, barateando a tarifa telefônica, sem levar em conta que quase a metade da conta que pagamos todos os meses é imposto. A alienação é de amadores arvorados em defensores do consumidor, sem examinar que o atual sistema reduzia o preço ao garantir às empresas de telefonia um faturamento mínimo mensal.
Os defensores do consumidor queriam o preto no branco, nos mínimos detalhes. Saber quanto as telefônicas cobravam por cada perdigoto cuspido no bocal do aparelho. Agora vão ficar sabendo: o minuto excedente, que custava pouco menos de três centavos, passa agora a 31 centavos – dez vezes mais.
Já o novo pai dos pobres, ministro Hélio Costa sabe que das contas, mas prometeu, no ano passado, subsidiar as contas dessas pessoas com o dinheiro do Fust, o Fundo de Universalização de Serviços de Telecomunicações, hoje somando cerca de R$ 3 bilhões. Quando esses reais acabarem, os pobres cairão “na real”. Ficarão sem telefonia. O Fust, sem dinheiro.
Só restará apelar ao grande filósofo português Manoel, que acha desnecessário inventar anedota de brasileiro. Segundo ele, este é um país gracioso pela própria natureza, salve, salve, pátria amada e, também – quem puder.
Comentários:
Surfista Prateado: Dentro da "Revolução Bolivariana" a que estão nos submetendo aos poucos, como sapos colocados dentro de uma panela em fogo brando, nada mais surpreende. Dizia Roberto Campos que o Brasil tem saída, é o aeroporto, mas até com isso estão acabando... Provavelmente, quando o dinheiro do FUST acabar, aumentarão os impostos, porque já deve estar até na Constituição que o Estado deve providenciar o sagrado direito do cidadão fazer ligações, a "inclusão telefônica". É o Brasil, dividido entre os que tudo podem e os que tudo pagam.
Os defensores do consumidor queriam o preto no branco, nos mínimos detalhes. Saber quanto as telefônicas cobravam por cada perdigoto cuspido no bocal do aparelho. Agora vão ficar sabendo: o minuto excedente, que custava pouco menos de três centavos, passa agora a 31 centavos – dez vezes mais.
Já o novo pai dos pobres, ministro Hélio Costa sabe que das contas, mas prometeu, no ano passado, subsidiar as contas dessas pessoas com o dinheiro do Fust, o Fundo de Universalização de Serviços de Telecomunicações, hoje somando cerca de R$ 3 bilhões. Quando esses reais acabarem, os pobres cairão “na real”. Ficarão sem telefonia. O Fust, sem dinheiro.
Só restará apelar ao grande filósofo português Manoel, que acha desnecessário inventar anedota de brasileiro. Segundo ele, este é um país gracioso pela própria natureza, salve, salve, pátria amada e, também – quem puder.
Comentários:
Surfista Prateado: Dentro da "Revolução Bolivariana" a que estão nos submetendo aos poucos, como sapos colocados dentro de uma panela em fogo brando, nada mais surpreende. Dizia Roberto Campos que o Brasil tem saída, é o aeroporto, mas até com isso estão acabando... Provavelmente, quando o dinheiro do FUST acabar, aumentarão os impostos, porque já deve estar até na Constituição que o Estado deve providenciar o sagrado direito do cidadão fazer ligações, a "inclusão telefônica". É o Brasil, dividido entre os que tudo podem e os que tudo pagam.
quarta-feira, 6 de dezembro de 2006
Mistério da Anac - Jayme Copstein
Enfim, a Câmara de Deputados se sensibiliza para o caos em que mergulhou a aviação civil brasileira e ensaia a primeira providência: criação de uma comissão parlamentar externa para investigar os problemas do setor aéreo.
É bom que a Comissão concentre a atenção na Anac, a fantasiosa Agência Nacional de Aviação Civil, cuja responsabilidade na crise vai muito além da mera omissão ou incompetência de seu chefe, Milton Zuanazzi.
Há acusações muito sérias, de que a Anac concentra todos os seus esforços para dividir as linhas aéreas da Varig entre a Tam e a Gol. Trata-se de projeto da Casa Civil, ainda do tempo do deputado cassado José Dirceu, que estranhamente continua mexendo os cordéis no governo e também na própria Câmara Federal, onde se ocupa de reeleger o atual presidente Aldo Rebello.
Não se trata de acusação leviana. É suficiente pesquisar nos jornais a obsessão da Anac nesse sentido, rebelando-se contra quatro decisões judiciais que garantiram à nova Varig a manutenção das rotas que ela pudesse atender, para perceber-se que a Anac cuida do que não deve e descuida do que deve.
É bom que a Comissão concentre a atenção na Anac, a fantasiosa Agência Nacional de Aviação Civil, cuja responsabilidade na crise vai muito além da mera omissão ou incompetência de seu chefe, Milton Zuanazzi.
Há acusações muito sérias, de que a Anac concentra todos os seus esforços para dividir as linhas aéreas da Varig entre a Tam e a Gol. Trata-se de projeto da Casa Civil, ainda do tempo do deputado cassado José Dirceu, que estranhamente continua mexendo os cordéis no governo e também na própria Câmara Federal, onde se ocupa de reeleger o atual presidente Aldo Rebello.
Não se trata de acusação leviana. É suficiente pesquisar nos jornais a obsessão da Anac nesse sentido, rebelando-se contra quatro decisões judiciais que garantiram à nova Varig a manutenção das rotas que ela pudesse atender, para perceber-se que a Anac cuida do que não deve e descuida do que deve.
A cultura dos protestos - Jayme Copstein
O jornalista Ney Gastal, nítida vocação para irritantes instigâncias, remete mensagem convidando a quem interessar possa ao difícil exercício de pensar. É o contraponto a uma convocação para o clássico “abaixo-assinado”, devidamente sacramentado com bordão extraído do Hino Rio Grandense, protestando contra a sugerida fusão da Cultura ao Turismo, em uma única secretaria estadual no Rio Grande do Sul.
O “abaixo-assinado” foi redigido por quem, como assinala o Ney Gastal, é incapaz de juntar duas idéias, menos ainda colocar pontos e vírgulas em seus devidos lugares. Serve apenas para mostrar como o debate está mal colocado.
Gastal põe a questão no devido lugar, ao escrever textualmente: “Sou muito cético sobre ser a existência de uma Secretaria específica – ou não – que fará a diferença no panorama cultural. Ainda lembro dos tempos da SEC e da SMEC, onde Paulo Amorim e (Frederico) Lamacchia faziam chover com verbas limitadas, mas enorme criatividade”.
Conclui: “De modo geral, não consigo me livrar da impressão que a criação das secretarias específicas (na época aspiração de todos nós) resultou apenas em baitas cabidões de emprego e agremiações de amigos da patota no poder. E no evidente sumiço da inventividade”.
Digamos que, apesar das suas exigências, Ney Gastal não é muito inventivo, afora a coragem de dizer. Sua opinião é a mesma de uma multidão calada que gostaria de ver as instituições públicas, sejam quais forem, pouco importa se juntas ou separadas, de volta ao papel para que foram criadas.
O “abaixo-assinado” foi redigido por quem, como assinala o Ney Gastal, é incapaz de juntar duas idéias, menos ainda colocar pontos e vírgulas em seus devidos lugares. Serve apenas para mostrar como o debate está mal colocado.
Gastal põe a questão no devido lugar, ao escrever textualmente: “Sou muito cético sobre ser a existência de uma Secretaria específica – ou não – que fará a diferença no panorama cultural. Ainda lembro dos tempos da SEC e da SMEC, onde Paulo Amorim e (Frederico) Lamacchia faziam chover com verbas limitadas, mas enorme criatividade”.
Conclui: “De modo geral, não consigo me livrar da impressão que a criação das secretarias específicas (na época aspiração de todos nós) resultou apenas em baitas cabidões de emprego e agremiações de amigos da patota no poder. E no evidente sumiço da inventividade”.
Digamos que, apesar das suas exigências, Ney Gastal não é muito inventivo, afora a coragem de dizer. Sua opinião é a mesma de uma multidão calada que gostaria de ver as instituições públicas, sejam quais forem, pouco importa se juntas ou separadas, de volta ao papel para que foram criadas.
terça-feira, 5 de dezembro de 2006
Pechinchas - Jayme Copstein
Parece que surra em dose dupla, na mulher e na sogra, está mesmo em liquidação para magistrados no Estado de São Paulo. Cento e setenta e cinco reais é o valor da multa paga por um juiz de direito do interior paulista, porque a agressão, cometida em março de 2004, foi considerada crime de pequeno potencial ofensivo.
Claro que as duas mulheres, do alto de seus arranhões, equimoses e esparadrapos discordaram do “barato”. Foram elas que apanharam. A “liquidação” da sova, entretanto, não ficou por aí.
A história, meio complicada, tem relato da revista eletrônica Consultor Jurídico. O juiz encontrou no computador de casa, uma mensagem da mulher a um suposto amante. Na mesma hora deu-lhe uma surra e a expulsou de casa. Quando a sogra veio com a filha, para tentar a reconciliação do casal, espancou as duas e as botou porta afora.
Como era conduta incompatível com a toga, afora o procedimento penal, um processo disciplinar foi aberto no Conselho Superior da Magistratura que lhe aplicou simplesmente a pena de censura, a despeito de ter o juiz intimado, sem mais aquela, a Policia Militar a destacar dois soldados, um na porta de sua casa, outro na do colégio das crianças, para impedir a mulher de ver os filhos do casal.
Com tudo isso, o juiz achou a censura do Conselho Superior de Magistratura uma demasia e apelou para o Órgão Especial do Tribunal de Justiça de São Paulo, baseado em algo que o saber universal ainda não conseguiu decifrar: o sexo dos anjos. Quem deveria julgar o juiz: o Conselho Superior ou o Órgão Especial?
Após breves dois anos e nove meses de profundas reflexões, não chegaram a nenhuma conclusão, mas o assunto foi encerrado porque a punição estava prescrita.
Claro que as duas mulheres, do alto de seus arranhões, equimoses e esparadrapos discordaram do “barato”. Foram elas que apanharam. A “liquidação” da sova, entretanto, não ficou por aí.
A história, meio complicada, tem relato da revista eletrônica Consultor Jurídico. O juiz encontrou no computador de casa, uma mensagem da mulher a um suposto amante. Na mesma hora deu-lhe uma surra e a expulsou de casa. Quando a sogra veio com a filha, para tentar a reconciliação do casal, espancou as duas e as botou porta afora.
Como era conduta incompatível com a toga, afora o procedimento penal, um processo disciplinar foi aberto no Conselho Superior da Magistratura que lhe aplicou simplesmente a pena de censura, a despeito de ter o juiz intimado, sem mais aquela, a Policia Militar a destacar dois soldados, um na porta de sua casa, outro na do colégio das crianças, para impedir a mulher de ver os filhos do casal.
Com tudo isso, o juiz achou a censura do Conselho Superior de Magistratura uma demasia e apelou para o Órgão Especial do Tribunal de Justiça de São Paulo, baseado em algo que o saber universal ainda não conseguiu decifrar: o sexo dos anjos. Quem deveria julgar o juiz: o Conselho Superior ou o Órgão Especial?
Após breves dois anos e nove meses de profundas reflexões, não chegaram a nenhuma conclusão, mas o assunto foi encerrado porque a punição estava prescrita.
segunda-feira, 4 de dezembro de 2006
Tempos idos, tempos vindos - Jayme Copstein
Sem a ênfase devida na mídia, entra em votação no Senado, nos próximos dias, projeto que permite a homologação pura e simples no cartório, de divórcios, partilhas e inventários em que as partes estejam de acordo. Esta providência simples deve contribuir bastante para desafogar os tribunais, obrigados a intervir mesmo onde não eram chamados.
Há quem atribua caráter moralizador à intervenção não solicitada dos juízes, como se o banquete de papel, servido aos carunchos na montanha de processos que se acumulam nos Foros, exorcizasse a desonestidade. Basta atentar para a irregularidade de incontáveis registros de propriedade, decorrente da incapacidade de herdeiros pagarem custas de processos, ou patrimônios dilapidados pelos juros extorsivos sobre as dívidas do “de cujos”, para saber-se que não é bem assim.
A burocracia que entrava a Justiça no Brasil nunca teve caráter moralizador. A maior parte das vezes nasceu da necessidade de El-Rei, de criar sinecuras para seus apaniguados.
Nem El-Rei nem seus fidalgos existem mais. São tempos passados. O Brasil deixou de ser colônia em 1822, mas só agora, depois de alguns séculos, é que esses tempos começam a se encerrar no Brasil.
Há quem atribua caráter moralizador à intervenção não solicitada dos juízes, como se o banquete de papel, servido aos carunchos na montanha de processos que se acumulam nos Foros, exorcizasse a desonestidade. Basta atentar para a irregularidade de incontáveis registros de propriedade, decorrente da incapacidade de herdeiros pagarem custas de processos, ou patrimônios dilapidados pelos juros extorsivos sobre as dívidas do “de cujos”, para saber-se que não é bem assim.
A burocracia que entrava a Justiça no Brasil nunca teve caráter moralizador. A maior parte das vezes nasceu da necessidade de El-Rei, de criar sinecuras para seus apaniguados.
Nem El-Rei nem seus fidalgos existem mais. São tempos passados. O Brasil deixou de ser colônia em 1822, mas só agora, depois de alguns séculos, é que esses tempos começam a se encerrar no Brasil.
O lápis, o dedo e a mula - Jayme Copstein
O Ministério Público juntou-se aos senadores do 13º salário do bolsa família, aos deputados que aumentam seus subsídios e aos juízes que se negam a cumprir leis salariais legalmente fixadas e por eles aceitas. O seu Conselho Nacional aprovou hoje resolução que acaba com o subteto definido pela Constituição, para os vencimentos dos promotores públicos estaduais. Com isso, passam todos a 24.500 reais por mês, pouco importando a precariedade dos Tesouros Estaduais.
Quando se pergunta a qualquer membro dessas ilustres confrarias, de onde vai sair o dinheiro para pagá-los, os argumentos da resposta começam com um lápis mágico, mostrando que a pretensão só é exorbitante na aparência. Pelo contrário, na prática resultará em economia pela agilização dos serviços, sem que ninguém consiga, até agora, perceber na teoria ou sentir na prática em que consiste esta agilização, que já tem barbas brancas pelo tempo em que é prometida.
Quando se muda a pergunta – qual a contribuição que cada um pode dar para resolver esta crise em que se debate a nação – o lápis se transforma em dedo, apontado para os... “outros”: combater à corrupção, sem quartel!
Olha-se em redor, tudo o que vem à mente é uma velha marcha carnavalesca: “Que me importa que a mula manque, o que eu quero é rosetar.”
Quando se pergunta a qualquer membro dessas ilustres confrarias, de onde vai sair o dinheiro para pagá-los, os argumentos da resposta começam com um lápis mágico, mostrando que a pretensão só é exorbitante na aparência. Pelo contrário, na prática resultará em economia pela agilização dos serviços, sem que ninguém consiga, até agora, perceber na teoria ou sentir na prática em que consiste esta agilização, que já tem barbas brancas pelo tempo em que é prometida.
Quando se muda a pergunta – qual a contribuição que cada um pode dar para resolver esta crise em que se debate a nação – o lápis se transforma em dedo, apontado para os... “outros”: combater à corrupção, sem quartel!
Olha-se em redor, tudo o que vem à mente é uma velha marcha carnavalesca: “Que me importa que a mula manque, o que eu quero é rosetar.”
sexta-feira, 1 de dezembro de 2006
O espírito dos números - Jayme Copstein
O jornal O Estado de São Paulo estampa hoje a informação de que, em pelo menos sete Estados – Rio Grande do Norte, Paraíba, Espírito Santo, Rondônia, Amapá, Roraima e Rio Grande do Sul – a manutenção do Judiciário e o pagamento dos seus salários privilegiados superam todo o gasto com a segurança pública. Em outros seis – São Paulo, Maranhão, Ceará, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Sergipe – a relação fica entre 90 e 100%.
No caso do Judiciário não se está contando o pagamento de aposentadorias. Entram no orçamento na rubrica de gastos previdenciários, enquanto na segurança pública são incluídos toda polícia civil, a militar e ainda os presídios.
Não são números criados pela mídia, para fazer sensacionalismo, neste momento em que a toga chama a atenção pela sua investida contra limites de remuneração por ela aceitos e fixados dentro da mais estrita legalidade e também por sua falta de cooperação. Foram colhidos nos balanços da execução orçamentária de 13 Estados, apresentados à Secretaria do Tesouro Nacional, conforme exige a lei. Chama a atenção também fato de que apenas Espírito Santo e Ceará não têm nenhum dos 2978 servidores que ganham acima do teto máximo estadual de R$ 22.111,25.
Não passa pela cabeça de ninguém que estes números sirvam para atribuir ao Judiciário parte da responsabilidade pela falta de segurança. Mesmo sendo exceção, é no Espírito Santo que o crime organizado tem fundas raízes.
São apenas um argumento para fomentar na magistratura gaúcha maior identificação com a realidade do orçamento estadual.
No caso do Judiciário não se está contando o pagamento de aposentadorias. Entram no orçamento na rubrica de gastos previdenciários, enquanto na segurança pública são incluídos toda polícia civil, a militar e ainda os presídios.
Não são números criados pela mídia, para fazer sensacionalismo, neste momento em que a toga chama a atenção pela sua investida contra limites de remuneração por ela aceitos e fixados dentro da mais estrita legalidade e também por sua falta de cooperação. Foram colhidos nos balanços da execução orçamentária de 13 Estados, apresentados à Secretaria do Tesouro Nacional, conforme exige a lei. Chama a atenção também fato de que apenas Espírito Santo e Ceará não têm nenhum dos 2978 servidores que ganham acima do teto máximo estadual de R$ 22.111,25.
Não passa pela cabeça de ninguém que estes números sirvam para atribuir ao Judiciário parte da responsabilidade pela falta de segurança. Mesmo sendo exceção, é no Espírito Santo que o crime organizado tem fundas raízes.
São apenas um argumento para fomentar na magistratura gaúcha maior identificação com a realidade do orçamento estadual.
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