segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

A igualdade das ditaduras - Jayme Copstein

Nada mais igual a uma ditadura que outra ditadura, seja qual for o pretexto erigido como doutrina para justificar seus crimes. O pensamento me veio à cabeça nos idos de 1980, em Santiago do Chile, aonde eu fora como editor de turismo do velho Correio do Povo. Na rua, um policial me avisou dos minutos que faltavam para ser preso se não atendesse ao toque de recolher, à meia-noite.
Seis anos antes eu visitara Berlim Oriental, capital da Alemanha comunista. Era notável a semelhança da ladainha ideológica, recitada pelos dois jovens guias, o alemão e o chileno. O alemão só apontava monumentos construídos para lembrar os crimes cometidos pelos alemães contra a União Soviética, apesar dos quase 30 anos decorridos do fim da Segunda Guerra Mundial. O chileno passava versões sobre a conspiração comunista para escravizar os povos livres da América, apesar de Salvador Allende ter sido eleito legalmente em um pleito sem contestações.
Não consegui passar uma noite em Berlim Oriental. Era proibido. Fora incluído em uma excursão pela Internaziones, de quem era hóspede em Berlim Ocidental. Tudo cronometrado, a passagem pela fronteira marcada pelo Muro, após identificação com fotografia de frente e perfil, para ser conferido o retorno também na hora marcada. Ao entrar em Santiago, fui obrigado a comparecer a um departamento do governo, onde me fotografaram de frente e perfil e me forneceram uma carteira de identidade, confiscada na saída.
Todas essas coisas me voltam à lembrança com a morte do ditador fascista Augusto Pinochet, sem nunca ter sido julgado pelos seus crimes. Há alguns anos, o ditador alemão comunista Erich Honecker foi também indultado por sofrer de câncer e veio morrer no Chile.
Não é coincidência. Nada mais igual a uma ditadura que outra ditadura, seja qual for o pretexto erigido como doutrina para justificar seus crimes.

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