terça-feira, 12 de dezembro de 2006

De Bismarck a Orestes Quércia - Jayme Copstein

Nada de novo sob o Sol, diz o Eclesiastes. Os jornais de hoje dão destaque à espirituosa declaração do presidente Lula Inácio Lula da Silva, renegando sua militância à esquerda.
É plágio mal-feito de um chiste de Bismarck, o chanceler alemão do século 19, que dizia com menos palavras e mais contundência: quem não foi socialista aos 18 anos ou continua sendo aos 60, é um tolo.
Mas comparar Lula a Bismarck é uma demasia. Mais apropriado seria falar-se em Orestes Quércia, que confessadamente faliu o Banespa para reeleger seu sucessor, Luiz Fleury, no governo de São Paulo. Naquele tempo não havia reeleição, caso contrário os paulistas teriam Quércia em dose dupla.
Se Lula bagunçou a economia para se reeleger é uma interrogação ainda sem resposta. Quebrar o Brasil ele não quebrou porque é tarefa impossível por mais que o roubem tão desbragadamente os seus políticos. Mas os primeiros sinais de alarma, que algo começa a se deteriorar, estão em pesquisa da Federação do Comércio de São Paulo, mostrando elevada taxa 76% de endividamento entre trabalhadores que percebem de um e três salários mínimos. Sessenta por cento deles estão com as contas em atraso. Nas faixas salariais superiores, o endividamento cai, mas o média geral é de 43%. Ou seja, quase a metade da população assalariada enfrenta dívidas, como o resultado do crédito fácil, com fins nitidamente eleitoreiros, propagado quase como aumento de salário, pois não vinha acompanhado da advertência que o dinheiro teria de ser devolvido mais adiante.
A frase espirituosa pode ser de Bismarck. O espírito da coisa, entretanto, é de Quércia.

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