quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

O tédio de ser vice - Jayme Copstein

É só examinar a relação dos vices desta república, desde que lhes foi permitida a carona na votação do titular, para surgir a interrogação: quantos deles conseguiriam se eleger síndicos do prédio onde moram, se tivessem de enfrentar as urnas.
A legislação é clara. O papel do vice é substituir o titular nos impedimentos. Mas como esses impedimentos são poucos e pífios, os vices acabam sempre sofrendo da mais incurável das moléstias, a do tédio. Desandam a falar do que não sabem e até do que não lhes cabe.
Getúlio Vargas dizia ser necessário manter os vices muitos ocupados para que não preenchessem seus ócios com conspirações. Sua experiência com eles não era nada boa. Ao longo dos 18 anos de poder, só teve dois: João Neves da Fontoura, vice quando Getulio presidia o Rio Grande do Sul e com ele brigou por não entender que lhe estava sendo reservado papel maior na Revolução de 30; e Café Filho, que conspirou para depô-lo em 1954.
Tem gente a propor a volta do sistema antigo, em que o vice dispute o cargo com seus próprios méritos. Também não vai solucionar o problema. Se caroneiros, já perturbam tanto, imaginem com o apoio das urnas. Aí mesmo é que não ficariam quietos.

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