terça-feira, 26 de dezembro de 2006

Quem paga, manda - Jayme Copstein

Não é só através de regulamentações manhosas, com fingidos moralismos que se estrangula a liberdade de expressão. Há uma outra velhacaria na qual se especializaram os governantes brasileiros – o suborno dos meios de comunicação, dissimulado sob a capa de propaganda.
É o jornalista Carlos Brickmann, de São Paulo, quem chama a atenção sobre o assunto, em artigo para o Observatório da Imprensa.
Brickmann pergunta:
“Qual o maior anunciante do Brasil? Será a Coca-Cola, a Ambev? Talvez a Unilever, com todas as suas marcas? Ou as onipresentes Casas Bahia, com seu ‘quer pagar quanto?’ Seriam as campanhas eleitorais, caso os horários fossem pagos? Só a que levou Lula à reeleição custou mais de R$ 100 milhões!”
Brickmann responde. Prestem, a atenção no restante do artigo:
“Nada disso: o maior anunciante do Brasil, por incrível que pareça, é o Governo Federal. Em 2007, a verba a ser torrada em publicidade é de R$ 412 milhões! E, considerando-se que o Governo não tem concorrentes nem vende nada, para que irá gastar tanto dinheiro – seu, meu, nosso dinheiro - em propaganda?
“Não, não estamos esquecendo as empresas estatais que disputam o mercado. Estas têm verbas próprias, além dos R$ 412 milhões. O Banco do Brasil tem quase R$ 200 milhões para gastar, muito mais do que o Bradesco – e o Bradesco, consistentemente, ano após ano, tem conseguido resultados melhores. Há meio milhão para o Conselho Nacional de Justiça; há R$ 400 mil para o Senado - como diria o poeta Ascenso Ferreira, “para que? Para nada.
“Que é que podem propagandear o Senado, ou o Conselho Nacional de Justiça? O Ministério da Defesa terá verba publicitária de meio milhão de reais. Seu principal problema, no momento, é a crise dos aeroportos. De que adianta gastar dinheiro, o nosso dinheiro, para explicar o inexplicável?
“As publicações sempre tiveram de conquistar o público, para depois conquistar anunciantes. A coisa parece agora mais simples: circulação, qualificação do público, número de leitores por exemplar, custo por telespectador, nada disso é muito importante. Com toda essa verba, basta apoiar o Governo e seus políticos preferidos. A gente paga. E eles mandam.”
Os artigos de Carlos Brickmann são encontrados também em sua página na Internet – www.brickmann.com.br. Leitura obrigatória para quem deseja mergulhar mais fundo nos bastidores da mídia, são remetidos, por e-mail, a quem solicitar para brickmann@brickmann.com.br.

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