sexta-feira, 25 de novembro de 2005

A Aids e o dilúvio - Jayme Copstein

Terá Deus substituído o dilúvio da Bíblia pela Aids, para acabar com a humanidade supostamente pecadora? Artigo de Demétrio Magnoli, na Folha de São Paulo de hoje, induz a esta reflexão, pelo menos no Brasil: o Ministério da Saúde põe em risco o combate a Aids, para esconder mais uma demagogia mal-sucedida do atual governo.
A comunicação do ministro Saraiva Felipe ao Conselho Nacional da Saúde, afirmando que “a taxa de expansão das infecções por HIV está controlada e que a proporção de casos da doença por habitante é baixa”, contradiz outra publicação do próprio Ministério da Saúde, o Boletim Epidemiológico, no qual se registra aumento da incidência da doença entre as mulheres e os pobres, os últimos dependendo da distribuição gratuita do coquetel para continuar vivendo.
Ao mentir que a doença está controlada no país, o governo esconde que era demagogia a acusação de junho ao Laboratório Abbot, de que bastavam US$ 0,25 por cápsula do remédio Kaletra, para obter lucros polpudos. O acordo fechado com a multinacional baixou de US$ 1,17 para US$ 0,63, redução substancial de quase metade, mas ainda assim três vezes acima do apregoado.
Qualquer pobre mortal sentir-se-ia orgulhoso em dizer: conseguimos uma boa redução. Quem, entretanto, delira como Luiz XV, rei da França, fica mais inclinado ao consolo de Madame Pompadour: “Depois de nós, o dilúvio”. E põe em risco o combate à Aids.

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