O que os eleitores brasileiros indignados ainda não perceberam é que o problema do país não está nos políticos corruptos que se elegem. É no sistema de voto proporcional que possibilita e facilita a eleição de qualquer cafajeste, desde que bem dotado para a demagogia.
O que é o voto proporcional? É uma lista de candidatos, organizada por um partido, na qual o eleitor indica apenas quem ele desejaria eleger. O número de votos obtidos por cada lista, que tem o nome de legenda, dá aquele partido certo número de cadeiras. Daí o nome de voto proporcional: o número de cadeiras conquistadas é proporcional à quantidade de votos alcançados.
O problema começa aí. Como o vota na lista, o eleitor não vota em ninguém. Apenas indica o candidato de sua preferência. O seu voto pode ser atribuído a qualquer nome daquela lista.
Tomemos como exemplo o Rio Grande do Sul, cujo quociente eleitoral – o número mínimo de votos para eleger um deputado federal – foi de 130 mil na última eleição. Se o eleitor votou em um candidato que fez 150 mil votos, a preferência dos 20 mil eleitores excedentes será atribuída a outro candidato no qual não tinham intenção de votar, ao mais das vezes um desconhecido, quando não um cafajeste em quem jamais votariam.
Foi o que aconteceu em São Paulo, na última eleição federal, quando Enéas Carneiro fez mais de 2 milhões de votos. Deu ao seu partido, o Prona, o direito de eleger seis deputados federais – ele e outros cinco. Os 2 milhões de eleitores queriam Enéas Carneiro. Bastavam 300 mil votos. Sobraram 1.700 mil votos, transferidos para candidatos que além de não ter mais do que 600 votos nem de São Paulo eram. Tinham fraudado o domicílio eleitoral.
Pior ainda o ridículo da situação criada: como o Prona só tinha registrado quatro candidatos além de Enéas Carneiro, não pôde aproveitar a sexta vaga. Digamos que tivesse registrado alguém, e esse alguém, desinteressado, não tivesse sequer votado em si mesmo. Eis um dogma a ser acrescentado aos muitos que fazem as delícias do Judiciário brasileiro: poderia considerar-se eleito quem não recebeu sequer um voto, mas estava legalmente registrado como candidato e, portanto, apto a ocupar a vaga conquistada?
Digamos que a situação seja oposta. O eleitor votou em um candidato que não fez votos suficientes para se eleger. O seu voto e o dos demais eleitores, que preferiam aquele candidato, acabaram mesmo despejados em outro, o mais das vezes, repita-se, um desconhecido, quando não um cafajeste em quem ele jamais votaria.
Cria-se, também, uma situação absurda. Como o sistema transfere os votos automaticamente de um candidato a outro, o eleitor não sabe em quem está votando. O pior: o eleito não sabe quem votou nele. Logo não tem compromissos com ninguém.
Pior ainda: o candidato não disputa a vaga com candidatos adversários, mas sim com os candidatos do mesmo partido. Os seus adversários são os seus próprios correligionários. Isso faz também com ele não crie raízes naquele partido. Afinal, os seus inimigos estão ali e não nos outros partidos. Daí a bacanal do mensalão. Não sabendo que o elegeu, tendo de sobreviver dentro do seu próprio partido, só tem compromissos consigo mesmo.
Portanto, o problema não está nos cafajestes que se elegem, mas no sistema pervertido que possibilita e facilita a eleição de qualquer de qualquer cafajeste.
Sem mudar este sistema, não tem túnel à vista, menos mais luz no seu fim. É puro abismo em que mergulha o país.
___________________________________________
Comentários:
1. Danilo (Porto Alegre, RS, Brasil): Qual sistema considera adequado, Jayme?
Blog do Jayme - Voto distrital puro. O tema será abordado a partir de segunda-feira, após a análise de um conto de vigário chamado "voto de lista".
2. Valdir A. von Mühlen (Porto Alegre, RS, Brasil) : Muito bom. O caminho é por aí.
3. Edson(São Paulo, SP, Brasil): Concordo que o voto proporcional está na raiz de nossas mazelas, mas não é votando dentro dele que esta situação vai mudar. É preciso uma reforma política profunda que não será feita pelos que se refestelam com o status quo, mas que deveria ser exigida pela sociedade civil nos quatro cantos do país.
Blog do Jayme - Tens razão em parte. Se não é votando dentro do voto proporcional, menos ainda não votando se consegue mudar alguma coisa. Que tal pesquisar a biografia dos candidatos, escolher e impor a condição do voto distrital ao escolhido? No mínimo abre o debate. E o que dizes de sairmos às ruas, para pedir uma nova Assembléia Nacional Constituinte EXCLUSIVA, eleita já pelo voto distrital. Deve encurtar caminho.
4. Alexandre Clos (Porto Alegre, RS, Brasil): Bastante esclarecedor. Merece atenção e análise por parte dos descontentes que ainda não sabem o rumo a tomar nas próximas eleições. Como seria possível adotar o voto distrital puro?
Blog do Jayme – É preciso criar uma forte corrente de opinião pública. Por favor, veja a resposta ao Edson, de São Paulo.
sexta-feira, 30 de junho de 2006
As raposas encabuladas - Jayme Copstein
A propósito da campanha para anular o voto ou votar em branco, Luiz Hofmeister, de Santa Cruz do Sul, lembra com muita oportunidade: foi a elevada abstenção dos eleitores que legitimou a ditadura de Hugo Chavez na Venezuela. Com a totalidade do parlamento na mão, mudou a Constituição, submeteu o Judiciário e criou as condições para se perpetuar legalmente no poder.
Nenhuma novidade, por sinal. Os primeiros a se utilizarem da tática de desmoralizar as instituições foram os nazistas. Conquistaram o poder graças à omissão de eleitores desiludidos. Depois, não havia o que os contivesse. É história conhecida de todos.
O que pouca sabe é que a Alemanha daquela época tinha algo em comum com o Brasil de hoje – o voto proporcional, responsável pelo pervertido congresso que hoje envergonha e infelicita a nossa nação. E que está servindo também de instrumento neste projeto de impor ao país uma ditadura de extrema esquerda.
O que também não é novidade. O voto proporcional foi copiado pelo sr. Getúlio Vargas, em 1934, com o único objetivo de desmoralizar o parlamento e retornar à ditadura da qual ele se tornara chefe, com a Revolução de 30. Bastaram três anos para que pudesse implantar o Estado Novo, com o apoio da opinião pública.
Como se observa, é uma velha artimanha, um conto de vigário, que conta com a ingenuidade e o desconhecimento do eleitor sobre o próprio processo político do qual ele é a parte mais importante. Edison, que não sei de onde é, escreve: “Já que o candidato indesejável será eleito de qualquer jeito, o voto nulo pelo menos demonstra numericamente o descontentamento do eleitor. ‘O cara’ vai saber que não está com a bola cheia.”
Edison projeta no “cara” a sua própria formação moral, os seus próprios escrúpulos. Como se algum corrupto, apanhado com o rabo na ratoeira, avermelhasse o rosto e exclamasse\: “Ó, como estou envergonhado!”
Vale uma fábula: as raposas invadem o galinheiro, proclamando que a partir daquele momento, elas e as galinhas viverão em paz para sempre. Depois devoram as penosas e, de barriga estufada, às gargalhadas, dizem uma para as outras: “E elas acreditaram!”
O que o Paulo, o Edison e todos os inconformado deste país não perceberam ainda é a necessidade de eleger um Congresso decente, que possa ser controlado pelo eleitor, por isso mesmo representativo e forte, para controlar, por sua vez, o presidente da República.
O obstáculo é o voto proporcional. É preciso com urgência exigir a mudança para o voto distrital, que permite ao eleitor, inclusive, retomar o mandato do seu deputado, se ele não corresponder, seja pelo comportamento pessoal seja por descumprir os compromissos que assumiu quando se elegeu.
Nenhuma novidade, por sinal. Os primeiros a se utilizarem da tática de desmoralizar as instituições foram os nazistas. Conquistaram o poder graças à omissão de eleitores desiludidos. Depois, não havia o que os contivesse. É história conhecida de todos.
O que pouca sabe é que a Alemanha daquela época tinha algo em comum com o Brasil de hoje – o voto proporcional, responsável pelo pervertido congresso que hoje envergonha e infelicita a nossa nação. E que está servindo também de instrumento neste projeto de impor ao país uma ditadura de extrema esquerda.
O que também não é novidade. O voto proporcional foi copiado pelo sr. Getúlio Vargas, em 1934, com o único objetivo de desmoralizar o parlamento e retornar à ditadura da qual ele se tornara chefe, com a Revolução de 30. Bastaram três anos para que pudesse implantar o Estado Novo, com o apoio da opinião pública.
Como se observa, é uma velha artimanha, um conto de vigário, que conta com a ingenuidade e o desconhecimento do eleitor sobre o próprio processo político do qual ele é a parte mais importante. Edison, que não sei de onde é, escreve: “Já que o candidato indesejável será eleito de qualquer jeito, o voto nulo pelo menos demonstra numericamente o descontentamento do eleitor. ‘O cara’ vai saber que não está com a bola cheia.”
Edison projeta no “cara” a sua própria formação moral, os seus próprios escrúpulos. Como se algum corrupto, apanhado com o rabo na ratoeira, avermelhasse o rosto e exclamasse\: “Ó, como estou envergonhado!”
Vale uma fábula: as raposas invadem o galinheiro, proclamando que a partir daquele momento, elas e as galinhas viverão em paz para sempre. Depois devoram as penosas e, de barriga estufada, às gargalhadas, dizem uma para as outras: “E elas acreditaram!”
O que o Paulo, o Edison e todos os inconformado deste país não perceberam ainda é a necessidade de eleger um Congresso decente, que possa ser controlado pelo eleitor, por isso mesmo representativo e forte, para controlar, por sua vez, o presidente da República.
O obstáculo é o voto proporcional. É preciso com urgência exigir a mudança para o voto distrital, que permite ao eleitor, inclusive, retomar o mandato do seu deputado, se ele não corresponder, seja pelo comportamento pessoal seja por descumprir os compromissos que assumiu quando se elegeu.
quinta-feira, 29 de junho de 2006
O mugido das vacas magras - Jayme Copstein
Os brasileiros preparem-se para os anos das vacas magras. Já começaram a mugir com o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, apresentando de missão, após resistir ao limite de suas forças ao premeditado desmonte do agronegócio
A trama envolve os subterrâneos do governo Lula. Na superfície, age como os insetos sugadores de sangue que lubrificam a tromba com substância anestésica para a vítima não sentir a picada. É o Lulinha paz e amor, é a governabilidade, é lo respeito à convivência democrático. Por baixo, a conspiração para impor modelos que não deram certo em lugar algum do mundo.
O que se viu, nesses últimos três anos e meio, foi Roberto Rodrigues lutando com denodo, porém em vão, para refinanciar os produtores e colocá-los de novo, com preços competitivos, no mercado internacional. Na contrapartida, o dinheiro correu generoso para os assentamentos do MST e os programas de agricultura familiar.
Os números deste último ano de governo de Lula, comparados com os do primeiro ano, quando recebeu o que ele chama de “herança maldita” do governo Fernando Henrique Cardoso, mostram o desastre : enquanto em 2003, safra plantada em 2002, colheram-se 123 milhões de toneladas de grãos, este ano a produção já descerá a meros 110 milhões. Treze 13 bilhões de quilos a menos. As previsões mostram números piores para 2007.
A verdadeira causa da renúncia do ministro Roberto Rodrigues pode ser deduzida da advertência do presidente da Farsul, Carlos Sperotto, entrevistado pelo jornalista Políbio Braga(*) , Sperotto alerta que, em julho, os ministros do Mercosul reúnem-se para traçar uma política para áreas de agricultura e pecuária.
Com a presença da Venezuela, como membro pleno do Mercosul, dignamente Roberto Rodrigues recusou-se a receber ordens de Hugo Chaves. Do alto de seus petrodólares, erigido em novo guru da esquerda latino-americana, Chaves vai conduzir o rebanho ao abismo. É inimigo figadal do agronegócio.
_________________________
(*)O jornal eletrônico do jornalista Políbio Braga é encontrado em www.polibiobraga.com.br. Recomenda-se a sua leitura diária, para aprofundamento das informações veiculadas pela mídia convencional.
A trama envolve os subterrâneos do governo Lula. Na superfície, age como os insetos sugadores de sangue que lubrificam a tromba com substância anestésica para a vítima não sentir a picada. É o Lulinha paz e amor, é a governabilidade, é lo respeito à convivência democrático. Por baixo, a conspiração para impor modelos que não deram certo em lugar algum do mundo.
O que se viu, nesses últimos três anos e meio, foi Roberto Rodrigues lutando com denodo, porém em vão, para refinanciar os produtores e colocá-los de novo, com preços competitivos, no mercado internacional. Na contrapartida, o dinheiro correu generoso para os assentamentos do MST e os programas de agricultura familiar.
Os números deste último ano de governo de Lula, comparados com os do primeiro ano, quando recebeu o que ele chama de “herança maldita” do governo Fernando Henrique Cardoso, mostram o desastre : enquanto em 2003, safra plantada em 2002, colheram-se 123 milhões de toneladas de grãos, este ano a produção já descerá a meros 110 milhões. Treze 13 bilhões de quilos a menos. As previsões mostram números piores para 2007.
A verdadeira causa da renúncia do ministro Roberto Rodrigues pode ser deduzida da advertência do presidente da Farsul, Carlos Sperotto, entrevistado pelo jornalista Políbio Braga(*) , Sperotto alerta que, em julho, os ministros do Mercosul reúnem-se para traçar uma política para áreas de agricultura e pecuária.
Com a presença da Venezuela, como membro pleno do Mercosul, dignamente Roberto Rodrigues recusou-se a receber ordens de Hugo Chaves. Do alto de seus petrodólares, erigido em novo guru da esquerda latino-americana, Chaves vai conduzir o rebanho ao abismo. É inimigo figadal do agronegócio.
_________________________
(*)O jornal eletrônico do jornalista Políbio Braga é encontrado em www.polibiobraga.com.br. Recomenda-se a sua leitura diária, para aprofundamento das informações veiculadas pela mídia convencional.
quarta-feira, 28 de junho de 2006
A força de um provérbio - Jayme Copstein
O comentário de ontem – Das espertezas burras – mexeu com as pessoas. Não por tentar mudar a intenção de votar em branco ou anular o voto, mas por abalar certezas sobre a pretensa “inteligência” de mostrar a “essa gente o que a gente pensa”.
Acaba-se mostrando que a “gente não pensa”. Se pensasse, “a gente” leria mais sobre a legislação eleitoral para se certificar da inutilidade e também do ridículo de um protesto que não protesta contra nada e só fortalece, por omissão, “isso que está aí”.
Chegam mensagens, pela Internet, opinando que seria mais interessante debater a obrigatoriedade do voto. Há também um equívoco, aqui. Obrigatório no Brasil não é votar, mas comparecer a uma seção eleitoral para apertar botões da urna eletrônica. Se é permitido “votar” em branco ou anular o voto, isso é não votar.
Desde que compareça em algum lugar e produza algum papel, a burocracia que também infesta o país fica feliz. Chega ao absurdo de permitir a um eleitor de Porto Alegre ir a Canoas, a 15 minutos de carro, para “justificar a ausência”, que só deveria ser permitida em caso de doença ou viagem inadiável. O curioso é que tanto a Justiça Eleitoral como os eleitores “espertos” se acham inteligentes e não se dão conta do ridículo da situação.
O voto obrigatório esconde matreirices dos politicões brasileiros. Obriga o eleitor analfabeto, supostamente fácil de ser corrompido, a comparecer à urna. E conta com a “inteligência” do “outro” eleitor, o que protesta com voto branco ou nulo, ou vai à praia, curtir a sua cervejinha, o seu churrasquinho, engordar a pança para depois se esganiçar, berrando contra os corruptos que tomaram conta do país.
Apesar de tudo, o voto obrigatório existe. A a situação que ela cria é esta. Enquanto não for revogado, ou substituído pelo distrital puro, vale a força do provérbio: quem cala, consente.
Acaba-se mostrando que a “gente não pensa”. Se pensasse, “a gente” leria mais sobre a legislação eleitoral para se certificar da inutilidade e também do ridículo de um protesto que não protesta contra nada e só fortalece, por omissão, “isso que está aí”.
Chegam mensagens, pela Internet, opinando que seria mais interessante debater a obrigatoriedade do voto. Há também um equívoco, aqui. Obrigatório no Brasil não é votar, mas comparecer a uma seção eleitoral para apertar botões da urna eletrônica. Se é permitido “votar” em branco ou anular o voto, isso é não votar.
Desde que compareça em algum lugar e produza algum papel, a burocracia que também infesta o país fica feliz. Chega ao absurdo de permitir a um eleitor de Porto Alegre ir a Canoas, a 15 minutos de carro, para “justificar a ausência”, que só deveria ser permitida em caso de doença ou viagem inadiável. O curioso é que tanto a Justiça Eleitoral como os eleitores “espertos” se acham inteligentes e não se dão conta do ridículo da situação.
O voto obrigatório esconde matreirices dos politicões brasileiros. Obriga o eleitor analfabeto, supostamente fácil de ser corrompido, a comparecer à urna. E conta com a “inteligência” do “outro” eleitor, o que protesta com voto branco ou nulo, ou vai à praia, curtir a sua cervejinha, o seu churrasquinho, engordar a pança para depois se esganiçar, berrando contra os corruptos que tomaram conta do país.
Apesar de tudo, o voto obrigatório existe. A a situação que ela cria é esta. Enquanto não for revogado, ou substituído pelo distrital puro, vale a força do provérbio: quem cala, consente.
terça-feira, 27 de junho de 2006
Das espertezas burras - Jayme Copstein
Faz moda na Internet uma nova modalidade da velha esperteza burra, responsável por muitos ridículos e algumas tragédias neste país. Trata-se de um chamado “partido do voto nulo”, que prega o que o próprio nome está dizendo – anular o voto para anular as próprias eleições.
Os mentores da asnice com toda a certeza já cansaram de votar em cacarecos e macacos “tiões” e também de atar um nariz de palhaço na cara, para se sentirem espirituosos e inteligentes. Agora criaram a bobajada, a partir da leitura mal feita da legislação eleitoral, achando que metade mais um de votos nulos pode anular a eleição.
Anularia eleição no Brasil se a metade mais um dos votos colhidos nas seções eleitorais fossem comprovadamente fraudados, isto é, mudado o destino que o eleitor pretendeu dar ao seu voto. É a única hipótese, quase uma impossibilidade, depois do advento da urna eletrônica.
Vamos raciocinar: o eleitor não tem como fraudar o próprio voto. Se o anulou é porque era essa a sua vontade, ele a expressou livremente, não tem o que alegar. Em conseqüência, não tem como anular a eleição.
Digamos que 70 por cento do eleitorado brasileiro decidam anular o voto. Simplesmente os 30 por cento restantes é que decidirão por todos. O resultado é completamente oposto ao que essa idiotice pretendeu: vão se eleger os de sempre, exatamente aqueles que o eleitor quis banir da vida pública.
Lembram-se de Enéas com seus 2 milhões de votos? Ele se elegeu deputado federal e mais cinco outros candidatos do seu partido, nenhum deles com mais de 400 votos. E só não elegeu um sexto deputado, porque não tinha candidato inscrito. Se tivesse um sexto candidato inscrito e esse candidato só tivesse o seu próprio voto, ele estaria eleito.
Melhor andariam os eleitores se concentrassem a atenção em todos os números das recentes pesquisas de intenção de voto. Os quase 50% que cabem a Luiz Inácio Lula da Silva estão sendo computados só sobre votos válidos. Quando se acrescentam ao cálculo os 45% de nulos, brancos e indecisos, o percentual desce para 30%.
Se alguém não concorda com a reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva ou com a eventual vitória de Geraldo Alkimin, não é anulando voto ou votando em branco que vai conseguir impor seu ponto de vista.
Os mentores da asnice com toda a certeza já cansaram de votar em cacarecos e macacos “tiões” e também de atar um nariz de palhaço na cara, para se sentirem espirituosos e inteligentes. Agora criaram a bobajada, a partir da leitura mal feita da legislação eleitoral, achando que metade mais um de votos nulos pode anular a eleição.
Anularia eleição no Brasil se a metade mais um dos votos colhidos nas seções eleitorais fossem comprovadamente fraudados, isto é, mudado o destino que o eleitor pretendeu dar ao seu voto. É a única hipótese, quase uma impossibilidade, depois do advento da urna eletrônica.
Vamos raciocinar: o eleitor não tem como fraudar o próprio voto. Se o anulou é porque era essa a sua vontade, ele a expressou livremente, não tem o que alegar. Em conseqüência, não tem como anular a eleição.
Digamos que 70 por cento do eleitorado brasileiro decidam anular o voto. Simplesmente os 30 por cento restantes é que decidirão por todos. O resultado é completamente oposto ao que essa idiotice pretendeu: vão se eleger os de sempre, exatamente aqueles que o eleitor quis banir da vida pública.
Lembram-se de Enéas com seus 2 milhões de votos? Ele se elegeu deputado federal e mais cinco outros candidatos do seu partido, nenhum deles com mais de 400 votos. E só não elegeu um sexto deputado, porque não tinha candidato inscrito. Se tivesse um sexto candidato inscrito e esse candidato só tivesse o seu próprio voto, ele estaria eleito.
Melhor andariam os eleitores se concentrassem a atenção em todos os números das recentes pesquisas de intenção de voto. Os quase 50% que cabem a Luiz Inácio Lula da Silva estão sendo computados só sobre votos válidos. Quando se acrescentam ao cálculo os 45% de nulos, brancos e indecisos, o percentual desce para 30%.
Se alguém não concorda com a reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva ou com a eventual vitória de Geraldo Alkimin, não é anulando voto ou votando em branco que vai conseguir impor seu ponto de vista.
segunda-feira, 26 de junho de 2006
A impunidade por profissão - Jayme Copstein
Zero Hora de domingo teve extensa matéria sobre furos legais que garantem a impunidade na área do crime e fazem do Brasil o paraíso dos delinqüentes.
Nada de novo ou de original no tema. A libertinagem jurídica entronizou-se no país para livrar a cara de Sérgio Fleury, beleguim da ditadura, inspirada em sofismas paridos nos bares de Paris ou seus congêneres de outras capitais européias.
A inovação, se é que deturpação possa ser chamada assim, correu por conta do analfabetismo dos legisladores, incapazes de redigir leis com clareza e correção, e da malandragem dos rábulas de porta de cadeia, na substituição dos “s” por cifrões. Não havendo dinheiro para financiar o processo, os palavrões da libertinagem tornam-se ininteligíveis e o destino irremediável dos pobres diabos é a cadeia mesmo.
O curioso é o nome atribuído a certos profissionais entre nós. Chamar de especialista em leis quem busca no rabicho de uma vírgula o “furo” para assegurar impunidade a um criminoso, do ponto de vista ético é contra-senso. Especialista é quem se dedica ao aperfeiçoamento de algo, buscando o progresso e o bem-estar aos seus concidadãos. Chamar de especialista a quem empunha a lâmina de uma faca para matar é equipará-lo ao médico que empunha a lâmina de um bisturi para curar.
O mesmo raciocínio aplica-se a quem, em vez de propor o aperfeiçoamento das leis, aproveita suas falhas para encher o bolso sem inquirir a origem do dinheiro. Afora ser imoral, a equiparação é absolutamente injusta.
Eu sou Jayme Copstein. Pensem a respeito e tenham muito bom-dia.
Nada de novo ou de original no tema. A libertinagem jurídica entronizou-se no país para livrar a cara de Sérgio Fleury, beleguim da ditadura, inspirada em sofismas paridos nos bares de Paris ou seus congêneres de outras capitais européias.
A inovação, se é que deturpação possa ser chamada assim, correu por conta do analfabetismo dos legisladores, incapazes de redigir leis com clareza e correção, e da malandragem dos rábulas de porta de cadeia, na substituição dos “s” por cifrões. Não havendo dinheiro para financiar o processo, os palavrões da libertinagem tornam-se ininteligíveis e o destino irremediável dos pobres diabos é a cadeia mesmo.
O curioso é o nome atribuído a certos profissionais entre nós. Chamar de especialista em leis quem busca no rabicho de uma vírgula o “furo” para assegurar impunidade a um criminoso, do ponto de vista ético é contra-senso. Especialista é quem se dedica ao aperfeiçoamento de algo, buscando o progresso e o bem-estar aos seus concidadãos. Chamar de especialista a quem empunha a lâmina de uma faca para matar é equipará-lo ao médico que empunha a lâmina de um bisturi para curar.
O mesmo raciocínio aplica-se a quem, em vez de propor o aperfeiçoamento das leis, aproveita suas falhas para encher o bolso sem inquirir a origem do dinheiro. Afora ser imoral, a equiparação é absolutamente injusta.
Eu sou Jayme Copstein. Pensem a respeito e tenham muito bom-dia.
sexta-feira, 23 de junho de 2006
A dança dos gatunos - Jayme Copstein
Enfim, uma proposta decente, defendida por um candidato à presidência da República: parlamentarismo. Vem de Geraldo Alkimin, administrador íntegro e competente, como demonstram os anos que governou São Paulo. Pena que talvez não seja levada em conta pelo eleitorado, por vir de um político sério, de postura que não cabe no perfil espaventoso de rei Momo, cujo carnaval ameaça prorrogar-se por mais quatro anos no Palácio do Planalto.
Geraldo Alkimin constata o que qualquer cabeça no lugar perceberá, caso se detenha a buscar a origem da nossa interminável crise: o esgotamento do presidencialismo como modelo político. Imposto pelo golpe militar que proclamou a república, em seus 117 anos de sucessivos desastres, afora várias ditaduras e a permanente instabilidade, agora descambou definitivamente para o despudor. O que temos hoje como arremedo de alianças eleitorais é uma coreografia dos gatunos de ontem bailando com os gatunos de hoje e acenando gazuas para os gatunos de amanhã.
Falta, entretanto, à proposta de Geraldo Alkimin, a instituição do voto distrital puro, para devolver representatividade à Câmara dos Deputados. O voto proporcional que hoje adotamos, nada mais é que uma perversão. Reserva ao eleitor apenas o triste papel de assegurar impunidade, sem revogação possível, como se tem visto, através de mandatos conferidos a bandalhos endinheirados ou a demagogos dotados de poder de sedução.
Sem o voto distrital puro, não haverá país viável.
Geraldo Alkimin constata o que qualquer cabeça no lugar perceberá, caso se detenha a buscar a origem da nossa interminável crise: o esgotamento do presidencialismo como modelo político. Imposto pelo golpe militar que proclamou a república, em seus 117 anos de sucessivos desastres, afora várias ditaduras e a permanente instabilidade, agora descambou definitivamente para o despudor. O que temos hoje como arremedo de alianças eleitorais é uma coreografia dos gatunos de ontem bailando com os gatunos de hoje e acenando gazuas para os gatunos de amanhã.
Falta, entretanto, à proposta de Geraldo Alkimin, a instituição do voto distrital puro, para devolver representatividade à Câmara dos Deputados. O voto proporcional que hoje adotamos, nada mais é que uma perversão. Reserva ao eleitor apenas o triste papel de assegurar impunidade, sem revogação possível, como se tem visto, através de mandatos conferidos a bandalhos endinheirados ou a demagogos dotados de poder de sedução.
Sem o voto distrital puro, não haverá país viável.
quinta-feira, 22 de junho de 2006
O fim da Varig - Jayme Copstein
A Varig agoniza em seu leito de morte como um ente querido. A família faz o que pode, gasta o que não tem, apela para o sobrenatural, mas sabe que tudo é em vão. Está em vésperas de completar 80 anos e é a única sobrevivente, em todo mundo, das empresas pioneiras que “em tempos heróicos, rasgaram o horizonte para traçar os caminhos do céu”.
É uma metáfora antiga, usada e abusada pela propaganda daquela época. Fosse mera questão de lirismo, a solução seria fácil. Bastaria convocar os poetas de plantão Em dois rabiscos, criariam figuras geniais para fazer os seus aviões “flutuarem no firmamento”. O problema, porém, é de DNA incompatível com a época em que vivemos, onde também não há mais lugar para o acendedor de lampiões ou o sineiro das igrejas.
Todas as empresas pioneiras de navegação aérea nasceram como estatais ou segundo um modelo que, no Brasil, previa subsídios por quilômetro voado para cobrir eventuais prejuízos. Entre as que se criaram no país, a Varig foi a única que se estruturou verdadeiramente como empresa.
Rubem Berta, dotado de excepcional visão para o futuro daquela atividade ainda no nascedouro, utilizou os subsídios em investimentos para desenvolver um padrão de qualidade que incluía pontualidade e segurança. Os aviões da Varig, a não ser que o tempo não permitisse, saíam sempre na hora certa. Era a companhia com o menor número de acidentes e incidentes em todo o mundo. Talvez pouca gente saiba hoje em dia, mas foi Berta quem criou a refeição aquecida nos vôos internacionais.
Nos anos 60, com o jato transformando a aviação em transporte de massas, o modelo de subsídios caducou. Todas as empresas estatais, em todo o mundo, acabaram privatizadas. No Brasil, a única que tinha condições de voar por suas próprias asas, era a Varig. Foi por isso que absorveu as demais companhias subsidiadas e não por favores do regime militar como quis fazer crer a maledicência dos perdedores.
Nesta ocasião, praticamente com o monopólio construído, Berta profetizou o que poderia acontecer se a Varig deixasse de ser uma empresa para se transformar em ação entre amigos. Ele a havia estruturado, também para preservá-la de aventureiros supervenientes ao mundo do capital, segundo o modelo social-democrata alemão, com os funcionários participando da gestão. O risco existia e ele advertiu: “A Varig só quebra se os seus funcionários assim o desejarem”.
O resto é da história recente e está nos jornais: excesso de gente, com “empregos” em vez de “trabalho”, manipulados por pequenos feudos, calcados no modelo sindical, que se preservavam com concessão de supostos privilégios aos liderados e impediam decisões empresariais, como racionalização das atividades, redução de pessoal e contenção de despesas.
É doloroso não só sepultar a história bonita da Varig pioneira, mas também presenciar o sofrimento e o desespero de uma multidão de funcionários devotados, engambelados por fictícias benemerências de quem os conduzia ao abismo.
É pena que não se tenha mais nada a fazer.
É uma metáfora antiga, usada e abusada pela propaganda daquela época. Fosse mera questão de lirismo, a solução seria fácil. Bastaria convocar os poetas de plantão Em dois rabiscos, criariam figuras geniais para fazer os seus aviões “flutuarem no firmamento”. O problema, porém, é de DNA incompatível com a época em que vivemos, onde também não há mais lugar para o acendedor de lampiões ou o sineiro das igrejas.
Todas as empresas pioneiras de navegação aérea nasceram como estatais ou segundo um modelo que, no Brasil, previa subsídios por quilômetro voado para cobrir eventuais prejuízos. Entre as que se criaram no país, a Varig foi a única que se estruturou verdadeiramente como empresa.
Rubem Berta, dotado de excepcional visão para o futuro daquela atividade ainda no nascedouro, utilizou os subsídios em investimentos para desenvolver um padrão de qualidade que incluía pontualidade e segurança. Os aviões da Varig, a não ser que o tempo não permitisse, saíam sempre na hora certa. Era a companhia com o menor número de acidentes e incidentes em todo o mundo. Talvez pouca gente saiba hoje em dia, mas foi Berta quem criou a refeição aquecida nos vôos internacionais.
Nos anos 60, com o jato transformando a aviação em transporte de massas, o modelo de subsídios caducou. Todas as empresas estatais, em todo o mundo, acabaram privatizadas. No Brasil, a única que tinha condições de voar por suas próprias asas, era a Varig. Foi por isso que absorveu as demais companhias subsidiadas e não por favores do regime militar como quis fazer crer a maledicência dos perdedores.
Nesta ocasião, praticamente com o monopólio construído, Berta profetizou o que poderia acontecer se a Varig deixasse de ser uma empresa para se transformar em ação entre amigos. Ele a havia estruturado, também para preservá-la de aventureiros supervenientes ao mundo do capital, segundo o modelo social-democrata alemão, com os funcionários participando da gestão. O risco existia e ele advertiu: “A Varig só quebra se os seus funcionários assim o desejarem”.
O resto é da história recente e está nos jornais: excesso de gente, com “empregos” em vez de “trabalho”, manipulados por pequenos feudos, calcados no modelo sindical, que se preservavam com concessão de supostos privilégios aos liderados e impediam decisões empresariais, como racionalização das atividades, redução de pessoal e contenção de despesas.
É doloroso não só sepultar a história bonita da Varig pioneira, mas também presenciar o sofrimento e o desespero de uma multidão de funcionários devotados, engambelados por fictícias benemerências de quem os conduzia ao abismo.
É pena que não se tenha mais nada a fazer.
quarta-feira, 21 de junho de 2006
Briga de gatos - Jayme Copstein
Parece mentira. Parece, mas não é. Fernando Collor de Mello acaba de declarar, de público, seu apoio à reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva. E de parte de Lula ou de seus correligionários não se ouviu um pio sequer de repúdio. Assim sendo, nas próximas eleições, o “quadrilheiro” de Alagoas e “Lula e seus asseclas” do mensalão, tal como ambos se definiram em entrevistas ao jornalista Milton Neves, estarão de mãozinhas dadas, como um casal de gatinhos enamorados.
Quem chamou a atenção para a mais inimaginável aliança da política brasileira, foi o jornalista Carlos Brickmann, em sua coluna no Diário do Grande ABC, São Paulo. Brickmann alinha ainda outros desses casamentos do diabo, como diriam os franceses. No fim dos anos 80, liderados por Mário Covas, políticos do PMDB, em nome da ética e porque não queriam a companhia de alguém como Orestes Quércia, saíram do partido para fundar o PSDB. Agora os tucanos oferecem a própria alma em troca do apoio de Quércia à candidatura de José Serra ao governo de São Paulo e a de Geraldo Alkimin á presidência da República.
O único obstáculo é o osso transbordante de tutano que Lula oferece aos lábios sedentos de Quércia, para obter seu apoio à reeleição. No passado, conforme lembra Carlos Brickmann, Quércia disse que Lula não merecia ser eleito, porque jamais dirigira sequer um carrinho de pipoca. Lula respondeu que nunca tinha roubado a pipoca do carrinho. Agora, Lula quer Quércia e o PMDB juntos em sua reeleição, dando-lhes o que pedirem em troca do apoio.
Por falar em gatos enamorados, contam que Noé e sua mulher, assistiam ao desembarque dos casais da arca encalhada no Monte Ararat, ao fim do dilúvio. Era um desfile monótono, o leão e a leoa, o elefante e a elfa, o casal de zebras e por aí afora, todos de passo certo, até aparecerem o gato e a gata. Vinham acompanhados de cinco gatinhos que não estavam na conta.
Noé virou-se para a mulher e disse: “Não te falei que aquilo não era briga?! Aí está!”.
Noé sabia tudo de malandragem. De acordo com a Bíblia, ele tinha 500 anos de idade. A mesma do Brasil.
Quem chamou a atenção para a mais inimaginável aliança da política brasileira, foi o jornalista Carlos Brickmann, em sua coluna no Diário do Grande ABC, São Paulo. Brickmann alinha ainda outros desses casamentos do diabo, como diriam os franceses. No fim dos anos 80, liderados por Mário Covas, políticos do PMDB, em nome da ética e porque não queriam a companhia de alguém como Orestes Quércia, saíram do partido para fundar o PSDB. Agora os tucanos oferecem a própria alma em troca do apoio de Quércia à candidatura de José Serra ao governo de São Paulo e a de Geraldo Alkimin á presidência da República.
O único obstáculo é o osso transbordante de tutano que Lula oferece aos lábios sedentos de Quércia, para obter seu apoio à reeleição. No passado, conforme lembra Carlos Brickmann, Quércia disse que Lula não merecia ser eleito, porque jamais dirigira sequer um carrinho de pipoca. Lula respondeu que nunca tinha roubado a pipoca do carrinho. Agora, Lula quer Quércia e o PMDB juntos em sua reeleição, dando-lhes o que pedirem em troca do apoio.
Por falar em gatos enamorados, contam que Noé e sua mulher, assistiam ao desembarque dos casais da arca encalhada no Monte Ararat, ao fim do dilúvio. Era um desfile monótono, o leão e a leoa, o elefante e a elfa, o casal de zebras e por aí afora, todos de passo certo, até aparecerem o gato e a gata. Vinham acompanhados de cinco gatinhos que não estavam na conta.
Noé virou-se para a mulher e disse: “Não te falei que aquilo não era briga?! Aí está!”.
Noé sabia tudo de malandragem. De acordo com a Bíblia, ele tinha 500 anos de idade. A mesma do Brasil.
terça-feira, 20 de junho de 2006
A revogação das palavras - Jayme Copstein
No muito que se está escrevendo sobre o centenário de nascimento, poucos se referem à leitura preferida de Mário Quintana: contos policiais. O poeta chegou a ter uma bela coleção do “Ellery Queen”, revista especializada que a Globo autêntica, a do Rio Grande do Sul, traduzia e editava mensalmente. A partir de certa época, tudo aquilo lido, relido e decorado, o poeta trocava suas edições por outras que ainda não vira, no sebo do Martins Livreiro. Eram amicíssimos.
Bons tempos aqueles. Será que ainda existe a Ellery Queen? Se existe, anda matando cachorro a grito. Também Ágata Christie, para não morrer de fome, teria de escrever sobre orgasmos múltiplos, pela inutilidade de montar encaroçados enigmas a desafiar a argúcia do inspetor Poirot. O desfecho seria óbvio: o assassino fugiu para o Brasil onde ficou impune e foi feliz para sempre.
“Elementar, meu caro”, diria o dr. Watson, dando uma solene banana para o chato do Sherlock Holmes.
Ficará acaso zangado o bom-mocismo pateta que permitiu aos rábulas de porta de cadeia “construir” – a palavra está na moda - uma doutrina de canonização dos criminosos e caninamente a ela se submeter, a troco de uma cadeira à esquerda (antigamente, era à direita) de Deus Pai?
Pouco importa a resposta. O enigma criado é tão medíocre, apesar de indignante, que não exige sutilezas cerebrinas para decifrá-lo. Qualquer faxineira, da mais remota delegacia de qualquer barro perdido da periferia, sabe que toda a algaravia jurídica, chamada de alternativa, resumiu-se em revogar palavras. Na velha frase que até os marginais respeitavam – “um vai para a cadeia, o outro para o cemitério” – a cadeia foi para o lixo, sobrou apenas o cemitério para as vítimas.
Bons tempos aqueles. Será que ainda existe a Ellery Queen? Se existe, anda matando cachorro a grito. Também Ágata Christie, para não morrer de fome, teria de escrever sobre orgasmos múltiplos, pela inutilidade de montar encaroçados enigmas a desafiar a argúcia do inspetor Poirot. O desfecho seria óbvio: o assassino fugiu para o Brasil onde ficou impune e foi feliz para sempre.
“Elementar, meu caro”, diria o dr. Watson, dando uma solene banana para o chato do Sherlock Holmes.
Ficará acaso zangado o bom-mocismo pateta que permitiu aos rábulas de porta de cadeia “construir” – a palavra está na moda - uma doutrina de canonização dos criminosos e caninamente a ela se submeter, a troco de uma cadeira à esquerda (antigamente, era à direita) de Deus Pai?
Pouco importa a resposta. O enigma criado é tão medíocre, apesar de indignante, que não exige sutilezas cerebrinas para decifrá-lo. Qualquer faxineira, da mais remota delegacia de qualquer barro perdido da periferia, sabe que toda a algaravia jurídica, chamada de alternativa, resumiu-se em revogar palavras. Na velha frase que até os marginais respeitavam – “um vai para a cadeia, o outro para o cemitério” – a cadeia foi para o lixo, sobrou apenas o cemitério para as vítimas.
segunda-feira, 19 de junho de 2006
Antes que seja tarde - Jayme Copstein
Em nome do bom-senso e para preservar vidas inocentes, é necessário que se contenham malucos messiânicos, do tipo João Pedro Stédile ou Bruno Maranhão. Faça-se com urgência, antes que ocorra uma tragédia semelhante ou até pior que a de Carajás, no Estado do Pará, quando a irresponsabilidade criminosa de líderes do MST jogou uma massa de pobres coitados contra a Polícia Militar.
A advertência não se origina em conspirações direitistas para sustar agitações autodenominadas populares, mas em revelação de uma insuspeita senhora cubana, Aleida Guevara, médica pediatra de profissão, cuja maior credencial nas hostes da extrema esquerda lhe veio por herança, como brasão de nobreza: é filha de Che Guevara.
Ela estava no Brasil para participar do encerramento do 14ª Convenção Nacional de Solidariedade a Cuba. Em visita ao assentamento do MST em Caruaru, Pernambuco, contou que Stédile e Evo Morales conversaram por telefone durante a recente crise da nacionalização do petróleo e do gás bolivianos.
Morales explicou a Stédile que "as diferenças não eram com o povo brasileiro, mas com as empresas capitalistas". Sem levar conta, em sua alienação, que a única empresa atingida pela expropriação foi a nossa estatal Petrobrás, Stédile ofereceu os préstimos do MST, que tem “treinamento para este tipo de ação”.
As palavras são da filha de Che Guevara. Ela achou muito bonito o gesto de Stédile”, mas não contou se Evo Morales levou na conta da basófia e desconversou, tal como fez o presidente russo, Vladimir Putin, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lhe propôs o eixo Brasília-Moscou contra a União Européia. Afinal, o MST parece mais bem treinado em financiar-se com dinheiros públicos do que para qualquer outro tipo de ação.
Até onde o MST poderá contar com a precaução dos que não desejam repetir a tragédia de Carajás é uma incógnita. No momento em que as arruaças comandadas por psicopatas obsessivos se transformarem em ações internacionais, tudo mudará de figura, com conseqüências imprevisíveis. Aí não terão valia os discursos messiânicos.
Prevalecerá a lei dos mais fortes.
A advertência não se origina em conspirações direitistas para sustar agitações autodenominadas populares, mas em revelação de uma insuspeita senhora cubana, Aleida Guevara, médica pediatra de profissão, cuja maior credencial nas hostes da extrema esquerda lhe veio por herança, como brasão de nobreza: é filha de Che Guevara.
Ela estava no Brasil para participar do encerramento do 14ª Convenção Nacional de Solidariedade a Cuba. Em visita ao assentamento do MST em Caruaru, Pernambuco, contou que Stédile e Evo Morales conversaram por telefone durante a recente crise da nacionalização do petróleo e do gás bolivianos.
Morales explicou a Stédile que "as diferenças não eram com o povo brasileiro, mas com as empresas capitalistas". Sem levar conta, em sua alienação, que a única empresa atingida pela expropriação foi a nossa estatal Petrobrás, Stédile ofereceu os préstimos do MST, que tem “treinamento para este tipo de ação”.
As palavras são da filha de Che Guevara. Ela achou muito bonito o gesto de Stédile”, mas não contou se Evo Morales levou na conta da basófia e desconversou, tal como fez o presidente russo, Vladimir Putin, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lhe propôs o eixo Brasília-Moscou contra a União Européia. Afinal, o MST parece mais bem treinado em financiar-se com dinheiros públicos do que para qualquer outro tipo de ação.
Até onde o MST poderá contar com a precaução dos que não desejam repetir a tragédia de Carajás é uma incógnita. No momento em que as arruaças comandadas por psicopatas obsessivos se transformarem em ações internacionais, tudo mudará de figura, com conseqüências imprevisíveis. Aí não terão valia os discursos messiânicos.
Prevalecerá a lei dos mais fortes.
sexta-feira, 16 de junho de 2006
A voz dos fatos - Jayme Copstein
Quando se completam 61 anos da paz na Europa, 12 das 15 maiores economias da Terra deixam de lado os cifrões e disputam o título mundial de futebol. A Alemanha é o terceiro país mais rico do mundo, o Brasil, o último da lista.
Em 1945, quando terminou a Segunda Mundial, a Alemanha estava destruída e dividida. Até para não morrer de fome, os alemães dependiam dos exércitos inimigos que a haviam dizimado. O pão, a carne, o leite, tudo era racionado em algumas gramas por semana e o patrimônio de todos os cidadãos se reduzira a algo em torno de 50 dólares por pessoa. O resto fora confiscado pelo governo, para reconstruir a nação.
Naquele mesmo ano, a situação do Brasil era privilegiada. Seu exército formava entre os vencedores. O país não devia um vintém a quem quer que fosse. Pelo contrário: tinha créditos de mais de um bilhão de dólares: cerca de 300 milhões, devidos pelos Estados Unidos, em torno de 800 milhões, pela Inglaterra.
Dois anos depois, em 1947, a Alemanha recebeu, entre ajuda do Plano Marshall e empréstimos, o mesmo bilhão de dólares que o Brasil não precisava pedir a ninguém porque era seu.
Foram anos de sacrifício para os alemães, investindo até o último vintém na reconstrução da sua economia. Não se necessita, para marcar a diferença, falar dos pentes vagabundos de matéria plástica, importados dos Estados Unidos, que se comprava de qualquer camelô, aqui no Brasil, a cinco por um cruzeiro, a moeda da época. Mais significativo foi pagar os 800 milhões de dólares pelas ferrovias que os ingleses detinham no país, cuja concessão estava vencida e em poucos meses seriam devolvidas de graça.
A transação foi tão escandalosa, que a própria oposição britânica no parlamento, em Londres, protestou com veemência. No Brasil, não se disse uma palavra. A imprensa naquele tempo era mais cordata, ninguém se queixava dela.
Quando se completam 61 anos da paz na Europa, 12 das 15 maiores economias da Terra deixam de lado os cifrões e disputam o título mundial de futebol. A Alemanha é o terceiro país mais rico do mundo, o Brasil, o último da lista. Não se necessita explicar por quê. Os fatos falam por si mesmos.
Em 1945, quando terminou a Segunda Mundial, a Alemanha estava destruída e dividida. Até para não morrer de fome, os alemães dependiam dos exércitos inimigos que a haviam dizimado. O pão, a carne, o leite, tudo era racionado em algumas gramas por semana e o patrimônio de todos os cidadãos se reduzira a algo em torno de 50 dólares por pessoa. O resto fora confiscado pelo governo, para reconstruir a nação.
Naquele mesmo ano, a situação do Brasil era privilegiada. Seu exército formava entre os vencedores. O país não devia um vintém a quem quer que fosse. Pelo contrário: tinha créditos de mais de um bilhão de dólares: cerca de 300 milhões, devidos pelos Estados Unidos, em torno de 800 milhões, pela Inglaterra.
Dois anos depois, em 1947, a Alemanha recebeu, entre ajuda do Plano Marshall e empréstimos, o mesmo bilhão de dólares que o Brasil não precisava pedir a ninguém porque era seu.
Foram anos de sacrifício para os alemães, investindo até o último vintém na reconstrução da sua economia. Não se necessita, para marcar a diferença, falar dos pentes vagabundos de matéria plástica, importados dos Estados Unidos, que se comprava de qualquer camelô, aqui no Brasil, a cinco por um cruzeiro, a moeda da época. Mais significativo foi pagar os 800 milhões de dólares pelas ferrovias que os ingleses detinham no país, cuja concessão estava vencida e em poucos meses seriam devolvidas de graça.
A transação foi tão escandalosa, que a própria oposição britânica no parlamento, em Londres, protestou com veemência. No Brasil, não se disse uma palavra. A imprensa naquele tempo era mais cordata, ninguém se queixava dela.
Quando se completam 61 anos da paz na Europa, 12 das 15 maiores economias da Terra deixam de lado os cifrões e disputam o título mundial de futebol. A Alemanha é o terceiro país mais rico do mundo, o Brasil, o último da lista. Não se necessita explicar por quê. Os fatos falam por si mesmos.
quinta-feira, 15 de junho de 2006
O bonde errado - Jayme Copstein
Um jornalista brasileiro, fazendo cobertura da Copa do Mundo, mostra-se impressionado com os metrôs alemães, porque neles não há cancelas nem cobradores para verificar se as passagens foram pagas. Em ótica muito brasileira, o jornalista acrescenta que alguém pode viajar a vida inteira sem pagar passagem. Claro, se tiver sorte de não ser surpreendido pela fiscalização. Aí dá multa pesada e até cadeia.
Só é novidade para a América Latina. Logo após a Segunda Guerra Mundial, no fim dos anos 40 do século passado, a escassez de mão-de-obra obrigou a Europa a evitar o desperdício do trabalho de alguém verdadeiramente alfabetizado, na venda ou recolhimento de passagens de bondes, ônibus, metrô ou de trem.
O sistema só funciona, porém, se o usuário tem certeza da punição se tentar transgredi-lo. Além da multa, que pelos idos de 1974 era de 50 dólares, o espertalhão reincidente pode pegar cadeia, com a particularidade que pagará as despesas da prisão com diárias equivalente a de um hotel de não poucas estrelas.
Sonhar com algo assim em um país onde juízes libertam assaltantes e latrocidas para protestar contra a situação das cadeias, em lugar de exigir que sejam construídas com decência, é apenas mais um delírio no reino da insensatez. Só faria aumentar o preço da tarifa para aqueles que teimam em ser decentes neste país e, por isso mesmo, financiam toda a gatunagem, desde o mensalão do Planalto ao penetra do ônibus da esquina.
Só é novidade para a América Latina. Logo após a Segunda Guerra Mundial, no fim dos anos 40 do século passado, a escassez de mão-de-obra obrigou a Europa a evitar o desperdício do trabalho de alguém verdadeiramente alfabetizado, na venda ou recolhimento de passagens de bondes, ônibus, metrô ou de trem.
O sistema só funciona, porém, se o usuário tem certeza da punição se tentar transgredi-lo. Além da multa, que pelos idos de 1974 era de 50 dólares, o espertalhão reincidente pode pegar cadeia, com a particularidade que pagará as despesas da prisão com diárias equivalente a de um hotel de não poucas estrelas.
Sonhar com algo assim em um país onde juízes libertam assaltantes e latrocidas para protestar contra a situação das cadeias, em lugar de exigir que sejam construídas com decência, é apenas mais um delírio no reino da insensatez. Só faria aumentar o preço da tarifa para aqueles que teimam em ser decentes neste país e, por isso mesmo, financiam toda a gatunagem, desde o mensalão do Planalto ao penetra do ônibus da esquina.
O sultão da farinha - Jayme Copstein
Leitores de Zero Hora debatem a depredação da Câmara dos Deputados. Um pergunta se o governo federal vai prender os vândalos que se abrigam sob bandeiras de justiça social, mas consumiram nos últimos meses mais de 5 milhões de reais dos cofres públicos, doados pelo sr. Luiz Inácio Lula da Silva. É só dividir: considerando-se a valor exagerado de 210 reais para cada uma, cesta básica, é bem mais do que 23 mil cestas básicas o preço daquela bagunça.
A indagação é desanimadora. O eleitor brasileiro não tem a menor idéia do que seja democracia. Desconhece a Constituição que rege a vida do país e ignora que só a Justiça é que pode julgar e prender ou liberar alguém.
A idéia generalizada sobre o presidente da República, entretanto, é a do Grande Pai, dono da chave de uma masmorra, para prender desafetos e opositores, e também de prodigiosa cornucópia de onde tira mamatas rendosas, aposentadorias privilegiadas e até mensalões para os amigos do peito. Para os demais, a lei com todos os seus rigores.
É uma espécie de sultão de mil e uma noites, que tanto dá a filha em casamento com a metade do seu reino por dote como manda decapitar, por incompetência, os decifradores do pega-trouxa – 2 e 2 são 4 ou 22? Como sabeis, somos os donos da verdade e só os “nossos” conhecem a resposta certa.
Com esta visão, melhor dito, sob esta cegueira, pouco importa se doutor, operário ou professor na presidência da República. Fiquemos com a sabedoria dita popular: acaba tudo farinha do mesmo saco.
A indagação é desanimadora. O eleitor brasileiro não tem a menor idéia do que seja democracia. Desconhece a Constituição que rege a vida do país e ignora que só a Justiça é que pode julgar e prender ou liberar alguém.
A idéia generalizada sobre o presidente da República, entretanto, é a do Grande Pai, dono da chave de uma masmorra, para prender desafetos e opositores, e também de prodigiosa cornucópia de onde tira mamatas rendosas, aposentadorias privilegiadas e até mensalões para os amigos do peito. Para os demais, a lei com todos os seus rigores.
É uma espécie de sultão de mil e uma noites, que tanto dá a filha em casamento com a metade do seu reino por dote como manda decapitar, por incompetência, os decifradores do pega-trouxa – 2 e 2 são 4 ou 22? Como sabeis, somos os donos da verdade e só os “nossos” conhecem a resposta certa.
Com esta visão, melhor dito, sob esta cegueira, pouco importa se doutor, operário ou professor na presidência da República. Fiquemos com a sabedoria dita popular: acaba tudo farinha do mesmo saco.
quarta-feira, 14 de junho de 2006
O desafio - Jayme Copstein
Há poucos dias, o sr. Luiz Inácio Lula da Silva desafiou a oposição a desenrolar o carretel de denúncias contra seu governo e seu partido. Parece convencido que as atuais pesquisas de opinião, indicando reeleição já no primeiro turno do próximo pleito, são irrevogáveis. Por isso, julga que já não há mais nada que possa atingi-lo.
Ainda que a capacidade do sr. Luiz Inácio Lula da Silva de se superar pareça infinita, este é seu erro mais crasso por ele cometido. Sem dar-se conta de que é o único candidato em campanha em uma campanha eleitoral que ainda não começou, por conta própria já criou um arranca-rabo com o jogador de futebol Ronaldo Nazário, a quem até pediu desculpas, apesar de por ele ter sido chamado de bêbado.
Tampouco a oposição precisou se mexer, para novas denúncias de corrupção pipocarem na caçarola do Planalto. Vieram à tona revelações sobre preferências do ministro da Justiça, ilustre advogado criminalista, em receber honorários em paraísos fiscais, longe dos olhos da Receita Federal. Ninguém precisa dizer uma só palavra a respeito. É só começar a repetir as palavras do próprio dr. MárcioThomaz Bastos – “caixa dois é coisa de bandido” – que algum efeito há surtir.
Até agora, o sr. Luiz Inácio Lula da Silva defendia-se do escândalo do mensalão, dizendo que ignorava o que estava acontecendo. Só que a alegação não vale para os candidatos a deputado federal pelo PT de São Paulo: todos os mensalistas confessos e absolvidos no escandaloso acordão da Câmara Federal estão concorrendo à renovação dos mandatos.
Qual será a desculpa agora? A de que todos roubam, eles apenas inovaram a nobre arte, inventando o transporte de dólares em cuecas?
O excelentíssimo senhor presidente da República tem pela frente uma árdua campanha. O eleitor brasileiro, um desafio ainda muito mais difícil.
Ainda que a capacidade do sr. Luiz Inácio Lula da Silva de se superar pareça infinita, este é seu erro mais crasso por ele cometido. Sem dar-se conta de que é o único candidato em campanha em uma campanha eleitoral que ainda não começou, por conta própria já criou um arranca-rabo com o jogador de futebol Ronaldo Nazário, a quem até pediu desculpas, apesar de por ele ter sido chamado de bêbado.
Tampouco a oposição precisou se mexer, para novas denúncias de corrupção pipocarem na caçarola do Planalto. Vieram à tona revelações sobre preferências do ministro da Justiça, ilustre advogado criminalista, em receber honorários em paraísos fiscais, longe dos olhos da Receita Federal. Ninguém precisa dizer uma só palavra a respeito. É só começar a repetir as palavras do próprio dr. MárcioThomaz Bastos – “caixa dois é coisa de bandido” – que algum efeito há surtir.
Até agora, o sr. Luiz Inácio Lula da Silva defendia-se do escândalo do mensalão, dizendo que ignorava o que estava acontecendo. Só que a alegação não vale para os candidatos a deputado federal pelo PT de São Paulo: todos os mensalistas confessos e absolvidos no escandaloso acordão da Câmara Federal estão concorrendo à renovação dos mandatos.
Qual será a desculpa agora? A de que todos roubam, eles apenas inovaram a nobre arte, inventando o transporte de dólares em cuecas?
O excelentíssimo senhor presidente da República tem pela frente uma árdua campanha. O eleitor brasileiro, um desafio ainda muito mais difícil.
segunda-feira, 12 de junho de 2006
O nome da Justiça - Jayme Copstein
Zero Hora de domingo destaca a história de um casal de porto-alegrenses: Mauro Silva da Silveira e Catiana Maciel Gonçalves.
Não se precipitem. Não são ladrões de banco nem assaltantes de rua. Menos ainda mensalistas iracundos que fizeram opção pela pobreza (dos outros!) – mas se cevam em dinheiros escusos e acusam, mas não combatem, a gatunagem de terceiros. Até a aceitam em acordo repulsivos porque, como sabeis, uma ladroeira justifica a outra.
Mauro Silva da Silveira e Catiana Maciel Gonçalves, duas pessoas humildes, são exemplo de trabalho, honestidade e perseverança. Ele aprendeu a profissão de motorista, porque era a que estava ao alcance dos trocados que poupava como entregador de jornais. Com isso, progrediu na vida: agora, com muito orgulho, é taxista.
Ela, a Catiana, o jornal não diz. É uma pena. Presumivel dona de casa, discute cada vintém do preço quando compra na quitanda da esquina, para que o casal possa viver com decência, sem dever dinheiro ou favores a quem quer que seja.
Durante seis anos, 2190 longos dias – querem o cálculo em horas? – durante 52560 horas, Mauro e Catiana juntaram toda a moeda pequena que lhes caísse nas mãos – vintém por vintém – até completar o preço de uma tevê de 29 polegadas. Quanta roupa nova, quanto churrasco de domingo, quanto passeio ficou pra trás, é fácil de imaginar. Com o dinheiro na mão, comprando a vista, ainda obtiveram 100 reais de abatimento no preço.
A mesma edição dominical de Zero Hora destaca a história de Sonáli Zluhan. Filha de funcionários federais aposentados, estudou em escola de elite, o Colégio de Aplicação da UFRGS, formou-se em Direito, também pela UFRGS, casou-se e divorciou-se duas vezes, ingressou na magistratura do Rio Grande do Sul e hoje é a juíza da 3ª Vara Criminal de Caxias do Sul.
Sonáli Zluhan gosta de trajar jeans que já saem da fábrica com artísticos rasgões. Deixou de usar “piercing” porque irritava a pele. Tem seis tatuagens pelo corpo, das quais só foi mostrada a que fica atrás da orelha direita. A legenda de Zero Hora diz que é chinês e traduz: “Ama mais o próximo do que a ti mesmo. Contempla e respeita a natureza. Esse é o caminho do mundo”.
Parece pouca tatuagem para tanta norma de vida. Algo assim tão comprido, a exemplo das novelas, deve continuar pelas cinco tatuagens restantes. Mas não foram mostradas, só a da orelha direita.
A reportagem também não esclarece se a carreira da juíza Sonáli Zluhan, a exemplo do taxista Mauro Silva da Silveira, foi financiada com o suor do seu próprio rosto, como preceitua o nosso prosaico Gênesis, que apesar de turrão, não divide a sociedade em castas intransponíveis.
Nem era esse o motivo da reportagem. A juíza Sonáli Zluhan veio para as páginas de Zero Hora porque, como todos nós, está indignada com a omissão das autoridades na questão dos presídios, masmorras medievais sem que o Judiciário, em algum tempo, proteste e exija solução com a mesma veemência com que alguns de seus integrantes reivindicam questões do interesse da classe.
A juíza Sonáli Zluhan materializa sua desconformidade libertando criminosos de periculosidade reconhecida, como o Doca, condenado por roubo e extorsão e em liberdade condicional, flagrado ao entrar no Presídio com drogas. Solto alguns dias depois, participou de latrocínio em que foi morto o irmão do bispo de Caxias do Sul.
A magistrada defende sua liberalidade, argumentando que ninguém viu, ainda, um criminoso de colarinho branco cumprindo pena. Ao que tudo indica, a mesma legislação que permite a liberação de latrocidas é que mantém fora dos cárceres os grandes gatunos do país. E também, aqui, falta a veemência que todos desejaríamos do Judiciário contra essas leis.
A juíza Sonáli Zluhan lamenta a morte do irmão do bispo de Caxias, mas se justifica, dizendo que não como prever que o detento por roubo e porte de drogas se transformaria em assassino.
A gente fica pensando. A magistrada não tem como adivinhar, também, que um dos criminosos que ela libera possa um dia cruzar o caminho de Mauro Silva da Silveira e Catiana Maciel Gonçalves, o casal de porto-alegrenses que gastou seis anos da sua vida, poupando vintém por vintém, para comprar um televisor.
Já imaginaram, o casal ajoelhado, depois, vendo os gatunos levarem o amado televisor, dando a graças a Deus que lhes restou a vida, essa vida pobre, espoliada, sofrida, esmagada pela ganância, não só dos grandes gatunos, mas também de uma elite que se ceva em privilégios de todo o tipo?
Será que, de sã consciência, poderíamos chamar isso de Justiça?
Não se precipitem. Não são ladrões de banco nem assaltantes de rua. Menos ainda mensalistas iracundos que fizeram opção pela pobreza (dos outros!) – mas se cevam em dinheiros escusos e acusam, mas não combatem, a gatunagem de terceiros. Até a aceitam em acordo repulsivos porque, como sabeis, uma ladroeira justifica a outra.
Mauro Silva da Silveira e Catiana Maciel Gonçalves, duas pessoas humildes, são exemplo de trabalho, honestidade e perseverança. Ele aprendeu a profissão de motorista, porque era a que estava ao alcance dos trocados que poupava como entregador de jornais. Com isso, progrediu na vida: agora, com muito orgulho, é taxista.
Ela, a Catiana, o jornal não diz. É uma pena. Presumivel dona de casa, discute cada vintém do preço quando compra na quitanda da esquina, para que o casal possa viver com decência, sem dever dinheiro ou favores a quem quer que seja.
Durante seis anos, 2190 longos dias – querem o cálculo em horas? – durante 52560 horas, Mauro e Catiana juntaram toda a moeda pequena que lhes caísse nas mãos – vintém por vintém – até completar o preço de uma tevê de 29 polegadas. Quanta roupa nova, quanto churrasco de domingo, quanto passeio ficou pra trás, é fácil de imaginar. Com o dinheiro na mão, comprando a vista, ainda obtiveram 100 reais de abatimento no preço.
A mesma edição dominical de Zero Hora destaca a história de Sonáli Zluhan. Filha de funcionários federais aposentados, estudou em escola de elite, o Colégio de Aplicação da UFRGS, formou-se em Direito, também pela UFRGS, casou-se e divorciou-se duas vezes, ingressou na magistratura do Rio Grande do Sul e hoje é a juíza da 3ª Vara Criminal de Caxias do Sul.
Sonáli Zluhan gosta de trajar jeans que já saem da fábrica com artísticos rasgões. Deixou de usar “piercing” porque irritava a pele. Tem seis tatuagens pelo corpo, das quais só foi mostrada a que fica atrás da orelha direita. A legenda de Zero Hora diz que é chinês e traduz: “Ama mais o próximo do que a ti mesmo. Contempla e respeita a natureza. Esse é o caminho do mundo”.
Parece pouca tatuagem para tanta norma de vida. Algo assim tão comprido, a exemplo das novelas, deve continuar pelas cinco tatuagens restantes. Mas não foram mostradas, só a da orelha direita.
A reportagem também não esclarece se a carreira da juíza Sonáli Zluhan, a exemplo do taxista Mauro Silva da Silveira, foi financiada com o suor do seu próprio rosto, como preceitua o nosso prosaico Gênesis, que apesar de turrão, não divide a sociedade em castas intransponíveis.
Nem era esse o motivo da reportagem. A juíza Sonáli Zluhan veio para as páginas de Zero Hora porque, como todos nós, está indignada com a omissão das autoridades na questão dos presídios, masmorras medievais sem que o Judiciário, em algum tempo, proteste e exija solução com a mesma veemência com que alguns de seus integrantes reivindicam questões do interesse da classe.
A juíza Sonáli Zluhan materializa sua desconformidade libertando criminosos de periculosidade reconhecida, como o Doca, condenado por roubo e extorsão e em liberdade condicional, flagrado ao entrar no Presídio com drogas. Solto alguns dias depois, participou de latrocínio em que foi morto o irmão do bispo de Caxias do Sul.
A magistrada defende sua liberalidade, argumentando que ninguém viu, ainda, um criminoso de colarinho branco cumprindo pena. Ao que tudo indica, a mesma legislação que permite a liberação de latrocidas é que mantém fora dos cárceres os grandes gatunos do país. E também, aqui, falta a veemência que todos desejaríamos do Judiciário contra essas leis.
A juíza Sonáli Zluhan lamenta a morte do irmão do bispo de Caxias, mas se justifica, dizendo que não como prever que o detento por roubo e porte de drogas se transformaria em assassino.
A gente fica pensando. A magistrada não tem como adivinhar, também, que um dos criminosos que ela libera possa um dia cruzar o caminho de Mauro Silva da Silveira e Catiana Maciel Gonçalves, o casal de porto-alegrenses que gastou seis anos da sua vida, poupando vintém por vintém, para comprar um televisor.
Já imaginaram, o casal ajoelhado, depois, vendo os gatunos levarem o amado televisor, dando a graças a Deus que lhes restou a vida, essa vida pobre, espoliada, sofrida, esmagada pela ganância, não só dos grandes gatunos, mas também de uma elite que se ceva em privilégios de todo o tipo?
Será que, de sã consciência, poderíamos chamar isso de Justiça?
Voto de lista, puro engodo - Jayme Copstein
Algumas pessoas andam com idéias de jumento na cabeça. Querem inutilizar o voto para anular as eleições. O caos em que o país mergulharia, sem presidente e sem congresso eleitos, não é levado em conta, mesmo que a fantasia sadomasoquista tivesse pé na realidade.
Não tem. O que anula eleição é ilegalidade na coleta dos votos. Urnas fraudadas, por exemplo. Assim mesmo, haveria necessidade de que contivessem mais de 50 por centos dos sufrágios.
O máximo que poderá acontecer aos anulantes de votos, se persistirem no equívoco, será ficarem sem representação política. Com toda a certeza, o outro lado vai votar com firmeza para eleger sua maioria de bandidos e legitimar toda a sorte de bandalheiras que bem entenderem.
Asneiras e maluquices à parte, o sistema eleitoral é o item mais importante da reforma política que deverá ocupar as atenções da próxima legislatura. Uma arapuca – a do voto de lista – está sendo montada como varinha de condão para acalmar o eleitor indignado. É mais uma mudança para não mudar coisíssima alguma. É assombroso que até um político do porte do sr. Tarso Genro defenda tal excrescência, como o fez domingo, em artigo (Concertando a reforma) na Folha de São Paulo.
Por que não o voto distrital puro ou misto?
Nós já temos o voto de lista, apenas com o eleitor, não o partido, indicando quem será eleito para os mandatos conquistados pela legenda partidária. Significa, pois, esse voto de lista pretendido, trocar seis por meia dúzia, mas – anotem, aí está a arapuca – transferindo a indicação dos eleitos para os velhos malandros que proliferam em todas as legendas, alguns até transformando-as em balcão de negócios.
O sr. Tarso Genro conhece na própria carne a manipulação das oligarquias partidárias. Ou será outro o motivo pelo qual deixou de ser o presidente nacional do PT, quando estourou o escândalo do mensalão?
Não tem. O que anula eleição é ilegalidade na coleta dos votos. Urnas fraudadas, por exemplo. Assim mesmo, haveria necessidade de que contivessem mais de 50 por centos dos sufrágios.
O máximo que poderá acontecer aos anulantes de votos, se persistirem no equívoco, será ficarem sem representação política. Com toda a certeza, o outro lado vai votar com firmeza para eleger sua maioria de bandidos e legitimar toda a sorte de bandalheiras que bem entenderem.
Asneiras e maluquices à parte, o sistema eleitoral é o item mais importante da reforma política que deverá ocupar as atenções da próxima legislatura. Uma arapuca – a do voto de lista – está sendo montada como varinha de condão para acalmar o eleitor indignado. É mais uma mudança para não mudar coisíssima alguma. É assombroso que até um político do porte do sr. Tarso Genro defenda tal excrescência, como o fez domingo, em artigo (Concertando a reforma) na Folha de São Paulo.
Por que não o voto distrital puro ou misto?
Nós já temos o voto de lista, apenas com o eleitor, não o partido, indicando quem será eleito para os mandatos conquistados pela legenda partidária. Significa, pois, esse voto de lista pretendido, trocar seis por meia dúzia, mas – anotem, aí está a arapuca – transferindo a indicação dos eleitos para os velhos malandros que proliferam em todas as legendas, alguns até transformando-as em balcão de negócios.
O sr. Tarso Genro conhece na própria carne a manipulação das oligarquias partidárias. Ou será outro o motivo pelo qual deixou de ser o presidente nacional do PT, quando estourou o escândalo do mensalão?
sexta-feira, 9 de junho de 2006
Pioneirismos - Jayme Copstein
O sr. Luiz Inácio Lula da Silva costuma citar, com exaustiva insistência, feitos de seu governo, jamais praticados, ocorridos ou alcançados por outro governo na História do Brasil. Este complexo de inventor da roda é até desculpável, porque sua falta de escolaridade lhe escamoteia o conhecimento da história do país que ele governa.
Em um ponto, entretanto, ele terá razão e por isso será perpetuado em nossa crônica política: é o primeiro presidente da República a ser chamado publicamente de bêbado por um jogador de futebol, que afirmou também ter muitas outras perguntas a lhe fazer.
E pára por aí o pioneirismo do sr. Luiz Inácio Lula da Silva. Não foi o primeiro presidente da República a envolver-se nos bastidores da seleção de futebol. A primazia é do sr. Garrastazu Médici, o general-comandante do terceiro governo militar, que pediu a escalação do sr. Dadá Maravilha. Talvez Médici não tenha levado o mesmo troco de algum atacante,irritado por ter de ceder seu lugar ao preferido do “chefe”, porque naquele tempo a imprensa não teria como publicar o desabafo. O desabusado e os repórteres iriam todos para a cadeia.
Este ponto deveria ser explicado ao sr. Ronaldo Nazário, quando ele atribui à imprensa a “desinformação” que levou Lula – o tratamento íntimo é do próprio Ronaldo – a acreditar em boatos de uma crescente barriga. Ao que se sabe, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lê pouco dos jornais, mas assiste muito da televisão. Com a imagem viva e colorida não necessita das tronitroâncias do sr. Galvão Bueno, para se saber se um atleta está gordo ou magro.
A tanto quanto se sabe, e se lê, e se ouve, e se vê, o sr. Ronaldo Nazário tem tratamento privilegiado por parte da imprensa que o chama de Ronaldo Fenômeno. Falar que está se tornando mais volumoso do que o desejável, só denota a preocupação de alertá-lo que a obesidade pode terminar com a sua carreira.
É coisa de amigo. Prestasse ele atenção a esses pormenores, com toda a certeza não seria tão ingrato com os jornalistas.
Em um ponto, entretanto, ele terá razão e por isso será perpetuado em nossa crônica política: é o primeiro presidente da República a ser chamado publicamente de bêbado por um jogador de futebol, que afirmou também ter muitas outras perguntas a lhe fazer.
E pára por aí o pioneirismo do sr. Luiz Inácio Lula da Silva. Não foi o primeiro presidente da República a envolver-se nos bastidores da seleção de futebol. A primazia é do sr. Garrastazu Médici, o general-comandante do terceiro governo militar, que pediu a escalação do sr. Dadá Maravilha. Talvez Médici não tenha levado o mesmo troco de algum atacante,irritado por ter de ceder seu lugar ao preferido do “chefe”, porque naquele tempo a imprensa não teria como publicar o desabafo. O desabusado e os repórteres iriam todos para a cadeia.
Este ponto deveria ser explicado ao sr. Ronaldo Nazário, quando ele atribui à imprensa a “desinformação” que levou Lula – o tratamento íntimo é do próprio Ronaldo – a acreditar em boatos de uma crescente barriga. Ao que se sabe, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lê pouco dos jornais, mas assiste muito da televisão. Com a imagem viva e colorida não necessita das tronitroâncias do sr. Galvão Bueno, para se saber se um atleta está gordo ou magro.
A tanto quanto se sabe, e se lê, e se ouve, e se vê, o sr. Ronaldo Nazário tem tratamento privilegiado por parte da imprensa que o chama de Ronaldo Fenômeno. Falar que está se tornando mais volumoso do que o desejável, só denota a preocupação de alertá-lo que a obesidade pode terminar com a sua carreira.
É coisa de amigo. Prestasse ele atenção a esses pormenores, com toda a certeza não seria tão ingrato com os jornalistas.
Uma nova indústria - Jayme Copstein
De novo uma sentença da Justiça induz a refletirmos se não se está incentivando no país a indústria da indenização por danos morais. Uma juíza de São Paulo acaba de condenar a American Airlines a pagar 175 mil reais a cada agente federal de plantão no desembarque internacional do Aeroporto de Cumbicas, quando o piloto Dale Hersch fez um gesto obsceno ao ser fotografado para identificação.
É algo absolutamente novo em matéria de direito porque ao assumir a autoridade pública para reprimir o ilícito, o agente se despe das suas prerrogativas privadas. É desacatado como autoridade e não ofendido como pessoa física. Do contrário, teríamos o que os bacharéis chamam de “bis in idem”, ou seja, dois crimes dentro de um só crime, uma impossibilidade igual a de dois corpos ocuparem o mesmo lugar no espaço simultaneamente..
O piloto em questão foi preso em flagrante por crime de desacato e levado à Justiça criminal. Mais teriam os nossos magistrados a reivindicar, em matéria de danos morais, pelos prejuízos que lhes causa à imagem a legislação feita por rábulas de porta de cadeia para garantir impunidade aos clientes. O piloto pagou uma dessas irrisórias e hilárias fianças, e o juiz nada pôde fazer senão liberá-lo para que viajasse de volta ao seu país. Ficou com o ônus de soltar mais um delinqüente. Isso, sim, é que é desgostante.
Houve no passado algo parecido, no absurdo alegado, com a postulação dos agentes federais de São Paulo. No início dos anos 60, os estivadores paralisaram os portos de todo o país porque desejavam obter um curioso salário-pudor. Homens muito sensíveis, como se sabe, sentiam-se ofendidos quando descarregavam caixotes de vasos sanitários, papel higiênico ou absorventes femininos.
Não conseguiram porque, naquele tempo, não havia, como hoje, juízes tão suscetíveis às almas hipersensíveis.
É algo absolutamente novo em matéria de direito porque ao assumir a autoridade pública para reprimir o ilícito, o agente se despe das suas prerrogativas privadas. É desacatado como autoridade e não ofendido como pessoa física. Do contrário, teríamos o que os bacharéis chamam de “bis in idem”, ou seja, dois crimes dentro de um só crime, uma impossibilidade igual a de dois corpos ocuparem o mesmo lugar no espaço simultaneamente..
O piloto em questão foi preso em flagrante por crime de desacato e levado à Justiça criminal. Mais teriam os nossos magistrados a reivindicar, em matéria de danos morais, pelos prejuízos que lhes causa à imagem a legislação feita por rábulas de porta de cadeia para garantir impunidade aos clientes. O piloto pagou uma dessas irrisórias e hilárias fianças, e o juiz nada pôde fazer senão liberá-lo para que viajasse de volta ao seu país. Ficou com o ônus de soltar mais um delinqüente. Isso, sim, é que é desgostante.
Houve no passado algo parecido, no absurdo alegado, com a postulação dos agentes federais de São Paulo. No início dos anos 60, os estivadores paralisaram os portos de todo o país porque desejavam obter um curioso salário-pudor. Homens muito sensíveis, como se sabe, sentiam-se ofendidos quando descarregavam caixotes de vasos sanitários, papel higiênico ou absorventes femininos.
Não conseguiram porque, naquele tempo, não havia, como hoje, juízes tão suscetíveis às almas hipersensíveis.
O bom menino - Jayme Copstein
O presidente da Câmara, Aldo Rebello é uma figura melancólica no cenário político brasileiro. Oriundo das correntes totalitárias de esquerda, cujo projeto naufragou em todos os países onde foi tentado, tem convivência difícil com a democracia. Não que conspire contra a liberdade, porque nem sabe o que vai fazer com ela. Nasceu para ser mandado.
Desde que o país voltou à normalidade democrática, a contribuição mais ambiciosa de Rebelo foi um desenxabido projeto, banindo os estrangeirismos da língua portuguesa. Era uma irrealidade xiita, que desconsiderava palavras nascidas no idioma dos criadores de nova tecnologia. A maior parte delas não há como traduzir.
Depois disso, Rebelo recolheu-se à insignificância. De lá foi retirado por José Dirceu, que necessitava na Câmara Federal de um presidente dócil, para encaminhar o “acordão” e absolver a corriola.
Rebelo foi bom menino, naquelas sessões-comédia em que a bem pensada falta de quorum garantiu impunidade aos mensalistas. Só faltou a parte final, a da anistia ao próprio José Dirceu – Roberto Jéferson na carona – provavelmente por temor à opinião pública, cuja reação foi bem além do previsto. Punha em risco a reeleição de Lula. Por isso ficou para depois.
Pois Aldo Rebelo, diante do estupidez praticada pelo MLST, mostra-se apenas perplexo, conectado em uma chorosa lamentação – como Bruno Maranhão, seu amigo do peito, por ele recebido sempre que desejasse e até sem hora marcada, pôde fazer isso?
A resposta é simples: é tudo pela causa, companheiro. Bons meninos só servem para isso.
Desde que o país voltou à normalidade democrática, a contribuição mais ambiciosa de Rebelo foi um desenxabido projeto, banindo os estrangeirismos da língua portuguesa. Era uma irrealidade xiita, que desconsiderava palavras nascidas no idioma dos criadores de nova tecnologia. A maior parte delas não há como traduzir.
Depois disso, Rebelo recolheu-se à insignificância. De lá foi retirado por José Dirceu, que necessitava na Câmara Federal de um presidente dócil, para encaminhar o “acordão” e absolver a corriola.
Rebelo foi bom menino, naquelas sessões-comédia em que a bem pensada falta de quorum garantiu impunidade aos mensalistas. Só faltou a parte final, a da anistia ao próprio José Dirceu – Roberto Jéferson na carona – provavelmente por temor à opinião pública, cuja reação foi bem além do previsto. Punha em risco a reeleição de Lula. Por isso ficou para depois.
Pois Aldo Rebelo, diante do estupidez praticada pelo MLST, mostra-se apenas perplexo, conectado em uma chorosa lamentação – como Bruno Maranhão, seu amigo do peito, por ele recebido sempre que desejasse e até sem hora marcada, pôde fazer isso?
A resposta é simples: é tudo pela causa, companheiro. Bons meninos só servem para isso.
quarta-feira, 7 de junho de 2006
Hora da verdade - Jayme Copstein
É notável que o noticiário não esteja enfatizando a presença de 42 menores entre os mais de 500 arruaceiros que invadiram ontem a Câmara Federal. Mais notável ainda é o silêncio da deputada petista do Rio Grande do Sul, Maria do Rosário, sempre veemente na defesa de suas idéias e empenhada na aprovação da Lei da Palmada, mas sem levantar a voz nem se fazer presente para protestar contra a utilização de crianças em perturbações da ordem.
Por sorte, a Polícia do Distrito Federal mostrou mais sensibilidade que os demagogos de plantão, invisíveis nesta hora. Imediatamente separou os menores e recolheu um grupo de 15 crianças e adolescentes, acompanhados por 10 mães, para um alojamento do próprio movimento dos sem-terra, na cidade-satélite de Guará. Outros 27 guris, idade variando entre 12 e 17 anos, desacompanhados dos pais ou responsáveis, mas também envolvidos criminosamente na arruaça, foram removidos para o SOS Criança de Taguatinga.
A Justiça do Menor e do Adolescente não pode mais fechar os olhos, como tem feito até agora, em episódios similares. Há algum tempo, aqui no Rio Grande do Sul, um bebê de colo morreu desidratado porque um líder de acampamento proibiu os pais de procurar socorro médico. Nada aconteceu a esse líder, ao que se sabe.
Que a Justiça faça o seu papel. E que o eleitor também não se omita. Que exija a explicação: por que tanto horror a uma palmada, se arriscar a vida de crianças em delírios ideológicos é politicamente correto? Onde fica sinceridade dos propósitos?
Por sorte, a Polícia do Distrito Federal mostrou mais sensibilidade que os demagogos de plantão, invisíveis nesta hora. Imediatamente separou os menores e recolheu um grupo de 15 crianças e adolescentes, acompanhados por 10 mães, para um alojamento do próprio movimento dos sem-terra, na cidade-satélite de Guará. Outros 27 guris, idade variando entre 12 e 17 anos, desacompanhados dos pais ou responsáveis, mas também envolvidos criminosamente na arruaça, foram removidos para o SOS Criança de Taguatinga.
A Justiça do Menor e do Adolescente não pode mais fechar os olhos, como tem feito até agora, em episódios similares. Há algum tempo, aqui no Rio Grande do Sul, um bebê de colo morreu desidratado porque um líder de acampamento proibiu os pais de procurar socorro médico. Nada aconteceu a esse líder, ao que se sabe.
Que a Justiça faça o seu papel. E que o eleitor também não se omita. Que exija a explicação: por que tanto horror a uma palmada, se arriscar a vida de crianças em delírios ideológicos é politicamente correto? Onde fica sinceridade dos propósitos?
Hora da decisão - Jayme Copstein
A democracia brasileira chegou à hora da decisão e o seu destino nas mãos do Judiciário. O que vem por aí, se a imposição da ordem e da lei ou confrontos sangrentos desembocando em ditaduras boçais, dependerá da lucidez e também da coragem dos magistrados de encararem objetivamente a gravidade do momento.
O autodenominado Movimento de Libertação dos Sem-Terra cometeu crimes contra a ordem política e social, depredação de patrimônio público, desacato à autoridade, agressão com risco a vida de terceiros. Tudo agravado com premeditação, o que leva também ao crime de formação de quadrilha pelo número de pessoas envolvidas no planejamento da ação.
Não há porque tergiversar. Há imagens gravadas dos acontecimentos e há confissões expressas de premeditação, como a do engenheiro-civil Paulo Armando Del Castilho Andrade, aposentado do Banco do Brasil, cujo perfil nem remotamente se encaixa no de um agricultor sem-terras. Líder do MLST, afirmou a Zero Hora de hoje, que sim, que a invasão foi planejada.
Não há, também, porque levar na conta da motivação política já rendeu impunidade e polpudas indenizações e privilégios a sádicos assassinos. A democracia pode admitir todas as correntes de pensamento, menos as que pretendem e conspiram para sua destruição.
É por isso que o nazismo é proscrito na Alemanha. Nem por isso, a Alemanha deixa de ser uma democracia perfeita.
O autodenominado Movimento de Libertação dos Sem-Terra cometeu crimes contra a ordem política e social, depredação de patrimônio público, desacato à autoridade, agressão com risco a vida de terceiros. Tudo agravado com premeditação, o que leva também ao crime de formação de quadrilha pelo número de pessoas envolvidas no planejamento da ação.
Não há porque tergiversar. Há imagens gravadas dos acontecimentos e há confissões expressas de premeditação, como a do engenheiro-civil Paulo Armando Del Castilho Andrade, aposentado do Banco do Brasil, cujo perfil nem remotamente se encaixa no de um agricultor sem-terras. Líder do MLST, afirmou a Zero Hora de hoje, que sim, que a invasão foi planejada.
Não há, também, porque levar na conta da motivação política já rendeu impunidade e polpudas indenizações e privilégios a sádicos assassinos. A democracia pode admitir todas as correntes de pensamento, menos as que pretendem e conspiram para sua destruição.
É por isso que o nazismo é proscrito na Alemanha. Nem por isso, a Alemanha deixa de ser uma democracia perfeita.
terça-feira, 6 de junho de 2006
A vez da OAB - Jayme Copstein
A jornalista Rosane Oliveira, na página 10 da Zero Hora de hoje, tem uma indagação muito pertinente: Antônio Carlos Magalhães chamou Lula Inácio Lula da Silva de malandro – isso é elogio ou crítica?
É a pergunta de resposta mais difícil no Brasil dos nossos dias, onde a decência foi rotulada como traste tão inútil que sequer alguém se deu ao trabalho de jogá-la na lata do lixo. Rola pelos esgotos. Do presidente da República ao mais chinelão assaltante de esquina, todos estão “na sua”. Só falta alguém gritar “salve-se quem puder”.
Aparentemente, a primeira tentativa de solver o enigma vem da OAB, através de pedido à procuradoria-geral da República, para aprofundar as investigações e esclarecer o envolvimento pessoal do presidente no mensalão e outras mumunhas ainda não rotuladas. Por mais fundamento que tenha o pedido, não deveria ser a primeira, a segunda ou a terceira – sabe-se lá o número que deveria receber a tentativa.
Melhor a OAB andaria, em todos os sentidos, se já tivesse tido resposta pronta e exemplar, há muito tempo, a advogados envolvidos em episódios repulsivos, que não vêm de hoje e são sistematicamente sepultados no silêncio da corporação. O mais recente e escandaloso, além dos asseclas do Marcola, é o do Caso Richtofen em que todas as malandragens estão sendo praticadas com o objetivo único de assegurar impunidade aos assassinos.
A propósito, outra pergunta de resposta não tão difícil: se não estivesse em jogo a fortuna dos Richtofen, este processo já não teria terminado há muito tempo?
É a pergunta de resposta mais difícil no Brasil dos nossos dias, onde a decência foi rotulada como traste tão inútil que sequer alguém se deu ao trabalho de jogá-la na lata do lixo. Rola pelos esgotos. Do presidente da República ao mais chinelão assaltante de esquina, todos estão “na sua”. Só falta alguém gritar “salve-se quem puder”.
Aparentemente, a primeira tentativa de solver o enigma vem da OAB, através de pedido à procuradoria-geral da República, para aprofundar as investigações e esclarecer o envolvimento pessoal do presidente no mensalão e outras mumunhas ainda não rotuladas. Por mais fundamento que tenha o pedido, não deveria ser a primeira, a segunda ou a terceira – sabe-se lá o número que deveria receber a tentativa.
Melhor a OAB andaria, em todos os sentidos, se já tivesse tido resposta pronta e exemplar, há muito tempo, a advogados envolvidos em episódios repulsivos, que não vêm de hoje e são sistematicamente sepultados no silêncio da corporação. O mais recente e escandaloso, além dos asseclas do Marcola, é o do Caso Richtofen em que todas as malandragens estão sendo praticadas com o objetivo único de assegurar impunidade aos assassinos.
A propósito, outra pergunta de resposta não tão difícil: se não estivesse em jogo a fortuna dos Richtofen, este processo já não teria terminado há muito tempo?
segunda-feira, 5 de junho de 2006
As pinoquices de Berzoini - Jayme Copstein
Só daqui a um mês saberemos se o sonho do hexacampeonato mundial de futebol foi alcançado na Alemanha, mas o Nobel da Pinoquice já está assegurado a um brasileiro ilustre. Ricardo Berzoini, presidente do PT, acaba de marcar todos os pontos possíveis, afirmando que o mensalão não existiu e a imprensa é a responsável pela impunidade dos corruptos.
Não é fácil achar coerência nas afirmações de Berzoini. Se não existiu mensalão, não houve corruptos a punir, portanto não há impunidade. Como a imprensa pode ser responsável por algo que não existe?
Pena que a leniência de Berzoini com o mensalão não estivesse em exercício quando pretendeu pôr a velharada de 90 anos em fila, tipo campo de concentração, para acabar com a imoralidade da Previdência Social. O reumatismo e a osteoporose eram argumentos bem mais sólidos para inocentá-los que os levantados por ele em favor dos deputados João Paulo Cunha e Professor Luizinho.
Segundo Berzoini João Paulo Cunhas, então presidente da Câmara não votava e o Professor Luizinho, então líder do governo, pelo cargo, votava sempre com o governo. Como ambos admitiram o recebimento dos famigerados “dinheiros não contabilizados”, se não foi dentro do esquema do mensalão, como quer Berzoini, mais do que corrupção, foi gatunagem pura e simples.
Berzoini está mesmo querendo dizer que, não houvesse imprensa para noticiar, ninguém ficaria sabendo e o mensalão não existiria. É simples. Como simples, também, e o entendimento do empenho de Lula e do PT, em criar o Conselho Federal de Jornalismo.
Não é fácil achar coerência nas afirmações de Berzoini. Se não existiu mensalão, não houve corruptos a punir, portanto não há impunidade. Como a imprensa pode ser responsável por algo que não existe?
Pena que a leniência de Berzoini com o mensalão não estivesse em exercício quando pretendeu pôr a velharada de 90 anos em fila, tipo campo de concentração, para acabar com a imoralidade da Previdência Social. O reumatismo e a osteoporose eram argumentos bem mais sólidos para inocentá-los que os levantados por ele em favor dos deputados João Paulo Cunha e Professor Luizinho.
Segundo Berzoini João Paulo Cunhas, então presidente da Câmara não votava e o Professor Luizinho, então líder do governo, pelo cargo, votava sempre com o governo. Como ambos admitiram o recebimento dos famigerados “dinheiros não contabilizados”, se não foi dentro do esquema do mensalão, como quer Berzoini, mais do que corrupção, foi gatunagem pura e simples.
Berzoini está mesmo querendo dizer que, não houvesse imprensa para noticiar, ninguém ficaria sabendo e o mensalão não existiria. É simples. Como simples, também, e o entendimento do empenho de Lula e do PT, em criar o Conselho Federal de Jornalismo.
Aí tem - Jayme Copstein
Extraordinários, ao longo dos escândalos da Era Lula, os esforços do governo e do PT para impedir o aprofundamento das investigações no crime de Santo André. A obsessão de abafar a verdade e sepultá-lo na vala do crime comum, iniciou-se com o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh tentando supostamente impedir antagonistas de obter dividendos eleitorais em 2002..
Os petistas admitiram e atribuíram à fragilidade da condição humana a montanha dos dinheiros “não contabilizados”. Mas descem a cortina de ferro sobre o assassinato de Celso Daniel. Agora é o senador Garibaldi Alves (PMDB), relator da CPI dos Bingos, que se mostra suscetível a apelos governistas e anuncia a intenção de retirar do relatório final o pedido de indiciamento de Gilberto Carvalho, chefe-de-gabinete do presidente da República.
O senador, songamonga típico, cujo interrogatório de aparente ingenuidade arrasava depoentes, surge com uma candura postiça, achando que “não há tanta suspeita” sobre Gilberto Carvalho. Mal levantara a hipótese, porém, foi desmentido por assessores: no início da semana passada, recebera o relatório preliminar da CPI, com elementos suficientes para indiciar o chefe-de-gabinete na morte de Celso Daniel.
O senador saiu pela tangente: não tivera tempo para ler o relatório. Anda ocupado como candidato ao governo do Rio Grande do Norte, com a campanha eleitoral que legalmente ainda nem começou. Vai dar uma olhada, depois fala a respeito.
Tenham paciência,mas aí tem cumbuca. E da grossa.
Os petistas admitiram e atribuíram à fragilidade da condição humana a montanha dos dinheiros “não contabilizados”. Mas descem a cortina de ferro sobre o assassinato de Celso Daniel. Agora é o senador Garibaldi Alves (PMDB), relator da CPI dos Bingos, que se mostra suscetível a apelos governistas e anuncia a intenção de retirar do relatório final o pedido de indiciamento de Gilberto Carvalho, chefe-de-gabinete do presidente da República.
O senador, songamonga típico, cujo interrogatório de aparente ingenuidade arrasava depoentes, surge com uma candura postiça, achando que “não há tanta suspeita” sobre Gilberto Carvalho. Mal levantara a hipótese, porém, foi desmentido por assessores: no início da semana passada, recebera o relatório preliminar da CPI, com elementos suficientes para indiciar o chefe-de-gabinete na morte de Celso Daniel.
O senador saiu pela tangente: não tivera tempo para ler o relatório. Anda ocupado como candidato ao governo do Rio Grande do Norte, com a campanha eleitoral que legalmente ainda nem começou. Vai dar uma olhada, depois fala a respeito.
Tenham paciência,mas aí tem cumbuca. E da grossa.
sexta-feira, 2 de junho de 2006
A diferença - Jayme Copstein
Um artigo de Nelson Motta, Portugal Tropical, publicado hoje pela Folha de São Paulo, é o ponto final na arrastada polêmica de muitos anos, cá por estas bandas. Motta compara dois países semelhantes em população e extensão territorial: um, mais provido de recursos naturais, Cuba, o outro, o nosso velho Portugal.
A trajetória política dos dois países guarda semelhança, também, em alguns trechos do caminho. Portugal esteve submetido à uma prolongada ditadura fascista, Cuba permanece AINDA sob uma ditadura comunista.
O regime fascista de Salazar nunca teve acesso a mananciais de dinheiro como os que jorraram da União Soviética para o regime de Fidel Castro. Mas após a redemocratização e conseqüente ingresso na União Européia, Portugal igualou-se a Cuba no tempo – 30 anos – em tem recebido substancial ajuda da comunidade do Velho Mundo.
Nelson Motta, em seu artigo da Folha de São Paulo, comparando a história recente dos dois países, mostra a diferença, não entre socialismo e liberalismo, mas entre democracia e totalitarismo.
Em Portugal, “ninguém passa fome, os desempregados e aposentados têm seus direitos respeitados, ninguém morre por falta de médico ou de remédios, há escola para todos, ótimas universidades, salários dignos. Plenas liberdades democráticas. (...) Nem na saúde pública e na educação, de que tanto se orgulha, Cuba conseguiu resultados melhores do que Portugal. E sacrificou os sonhos e a liberdade de várias gerações.”
Pena que não foi acrescentada outra diferença: a poupança somada de todos os presidentes e primeiros-ministros portugueses com toda a certeza não se iguala aos 900 milhões de dólares que fazem de Fidel um dos homens mais ricos do mundo.
Foi só o que faltou no artigo de Nelson Motta que tem um fecho perfeito: “E ainda há quem queira nos tornar uma imensa Cuba.”.
A trajetória política dos dois países guarda semelhança, também, em alguns trechos do caminho. Portugal esteve submetido à uma prolongada ditadura fascista, Cuba permanece AINDA sob uma ditadura comunista.
O regime fascista de Salazar nunca teve acesso a mananciais de dinheiro como os que jorraram da União Soviética para o regime de Fidel Castro. Mas após a redemocratização e conseqüente ingresso na União Européia, Portugal igualou-se a Cuba no tempo – 30 anos – em tem recebido substancial ajuda da comunidade do Velho Mundo.
Nelson Motta, em seu artigo da Folha de São Paulo, comparando a história recente dos dois países, mostra a diferença, não entre socialismo e liberalismo, mas entre democracia e totalitarismo.
Em Portugal, “ninguém passa fome, os desempregados e aposentados têm seus direitos respeitados, ninguém morre por falta de médico ou de remédios, há escola para todos, ótimas universidades, salários dignos. Plenas liberdades democráticas. (...) Nem na saúde pública e na educação, de que tanto se orgulha, Cuba conseguiu resultados melhores do que Portugal. E sacrificou os sonhos e a liberdade de várias gerações.”
Pena que não foi acrescentada outra diferença: a poupança somada de todos os presidentes e primeiros-ministros portugueses com toda a certeza não se iguala aos 900 milhões de dólares que fazem de Fidel um dos homens mais ricos do mundo.
Foi só o que faltou no artigo de Nelson Motta que tem um fecho perfeito: “E ainda há quem queira nos tornar uma imensa Cuba.”.
quinta-feira, 1 de junho de 2006
Psicografias brasileiras - Jayme Copstein
Recente decisão do Tribunal do Júri de Viamão, Rio Grande do Sul, reconhecendo como prova uma carta psicografada da vítima assassinada, inocentando a ré, não é em si alarmante. Não seria a primeira decisão jovial da Justiça brasileira, graças a advogados ardilosos, capazes de arrancar até sentenças contrárias à lei da gravidade. Afinal, juízes devem decidir de acordo com as “realidades da vida”, seja lá o que isso signifique. Uma das realidades da vida é que as águas dos rios não entornam em “riba da gente”, mesmo a Terra sendo redonda. Donde se conclui que Newton é muito bom lá pras inglesas dele. Aqui no Brasil é diferente, squindô, squindô.
Preocupante mesmo será o dia em que a pesquisa do DNA for substituída pela confissão do morto, também psicografada por algum vivo, de ter estuprado uma formiga. Do “conúbio” nasceu um hipopótamo, com direito a quinhão na herança já partilhada antes mesmo de Cabral desembarcar na Bahia e as vergonhas cerradinhas das nossas índias hipnotizarem Pero Vaz Caminha.
O problema é que a formiga era apaixonada por um tamanduá que andava dando bandeira por aí e queria ser comida por ele, em versão politicamente correta da grande ópera “A morta virgem”. Como se frustrou nas três aspirações - não foi papada, não morreu e até ficou mal-falada – merece substancial indenização por danos morais.
De onde sairá o dinheiro? O contribuinte brasileiro olhe para o próprio bolso.
Lá vai encontrar a resposta.
Preocupante mesmo será o dia em que a pesquisa do DNA for substituída pela confissão do morto, também psicografada por algum vivo, de ter estuprado uma formiga. Do “conúbio” nasceu um hipopótamo, com direito a quinhão na herança já partilhada antes mesmo de Cabral desembarcar na Bahia e as vergonhas cerradinhas das nossas índias hipnotizarem Pero Vaz Caminha.
O problema é que a formiga era apaixonada por um tamanduá que andava dando bandeira por aí e queria ser comida por ele, em versão politicamente correta da grande ópera “A morta virgem”. Como se frustrou nas três aspirações - não foi papada, não morreu e até ficou mal-falada – merece substancial indenização por danos morais.
De onde sairá o dinheiro? O contribuinte brasileiro olhe para o próprio bolso.
Lá vai encontrar a resposta.
Assinar:
Postagens (Atom)