quarta-feira, 28 de junho de 2006

A força de um provérbio - Jayme Copstein

O comentário de ontem – Das espertezas burras – mexeu com as pessoas. Não por tentar mudar a intenção de votar em branco ou anular o voto, mas por abalar certezas sobre a pretensa “inteligência” de mostrar a “essa gente o que a gente pensa”.
Acaba-se mostrando que a “gente não pensa”. Se pensasse, “a gente” leria mais sobre a legislação eleitoral para se certificar da inutilidade e também do ridículo de um protesto que não protesta contra nada e só fortalece, por omissão, “isso que está aí”.
Chegam mensagens, pela Internet, opinando que seria mais interessante debater a obrigatoriedade do voto. Há também um equívoco, aqui. Obrigatório no Brasil não é votar, mas comparecer a uma seção eleitoral para apertar botões da urna eletrônica. Se é permitido “votar” em branco ou anular o voto, isso é não votar.
Desde que compareça em algum lugar e produza algum papel, a burocracia que também infesta o país fica feliz. Chega ao absurdo de permitir a um eleitor de Porto Alegre ir a Canoas, a 15 minutos de carro, para “justificar a ausência”, que só deveria ser permitida em caso de doença ou viagem inadiável. O curioso é que tanto a Justiça Eleitoral como os eleitores “espertos” se acham inteligentes e não se dão conta do ridículo da situação.
O voto obrigatório esconde matreirices dos politicões brasileiros. Obriga o eleitor analfabeto, supostamente fácil de ser corrompido, a comparecer à urna. E conta com a “inteligência” do “outro” eleitor, o que protesta com voto branco ou nulo, ou vai à praia, curtir a sua cervejinha, o seu churrasquinho, engordar a pança para depois se esganiçar, berrando contra os corruptos que tomaram conta do país.
Apesar de tudo, o voto obrigatório existe. A a situação que ela cria é esta. Enquanto não for revogado, ou substituído pelo distrital puro, vale a força do provérbio: quem cala, consente.

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