quinta-feira, 15 de junho de 2006

O bonde errado - Jayme Copstein

Um jornalista brasileiro, fazendo cobertura da Copa do Mundo, mostra-se impressionado com os metrôs alemães, porque neles não há cancelas nem cobradores para verificar se as passagens foram pagas. Em ótica muito brasileira, o jornalista acrescenta que alguém pode viajar a vida inteira sem pagar passagem. Claro, se tiver sorte de não ser surpreendido pela fiscalização. Aí dá multa pesada e até cadeia.
Só é novidade para a América Latina. Logo após a Segunda Guerra Mundial, no fim dos anos 40 do século passado, a escassez de mão-de-obra obrigou a Europa a evitar o desperdício do trabalho de alguém verdadeiramente alfabetizado, na venda ou recolhimento de passagens de bondes, ônibus, metrô ou de trem.
O sistema só funciona, porém, se o usuário tem certeza da punição se tentar transgredi-lo. Além da multa, que pelos idos de 1974 era de 50 dólares, o espertalhão reincidente pode pegar cadeia, com a particularidade que pagará as despesas da prisão com diárias equivalente a de um hotel de não poucas estrelas.
Sonhar com algo assim em um país onde juízes libertam assaltantes e latrocidas para protestar contra a situação das cadeias, em lugar de exigir que sejam construídas com decência, é apenas mais um delírio no reino da insensatez. Só faria aumentar o preço da tarifa para aqueles que teimam em ser decentes neste país e, por isso mesmo, financiam toda a gatunagem, desde o mensalão do Planalto ao penetra do ônibus da esquina.

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