segunda-feira, 13 de novembro de 2006
As pontas da marosca - Jayme Copstein
É só juntar as pontas para perceber do que se trata. Tem continuação o projeto petista de restringir a liberdade de pensamento no país, através do controle da imprensa.
Começa Marco Aurélio Garcia, presidente interino do PT, mal fechada as urnas já assestando as baterias contra os jornalistas, convidando-os a uma auto-reflexão, mesmo que, fora do atual círculo do Planalto, não se conheça jornalista acusado de mensalões ou dossiês, mas apenas de tê-los denunciado, o que até há quatro anos era considerado dever ético e não crime de lesa-majestade contra Lula I e Único.
Não é voz isolada. Neste domingo, o ex-deputado petista Marcos Rolim, contagiado pela amnésia inaugurada por seu arqui-adversário Fernando Henrique Cardoso (“Esqueçam o que escrevi.”), deslembrou-se de um belo artigo que publicou em Zero Hora, em 24 de julho de 2005, intitulado “Sonhos roubados”, e lascou ontem, domingo, na mesma Zero Hora, um “A mídia perdeu as eleições” para acusar a imprensa de disputar a presidência da República com o sr. Luiz Inácio Lula da Silva, este sim, imune à amnésia mas atacado de errática ignorância – ora sabe, ora não sabe o que aconteceu.
Tem mais: entre as grosserias que militantes supostamente petistas enviam para contestar idéias ou argumentos que não lhes agradem, chamou-me a atenção a de um patrulheiro ideológico que não resistiu a chamar de “choro de perdedor”, a ressalva a programas assistencialistas – verdadeiras esmolas - feita em elogio ao projeto do senador petista Paulo Paim, instituindo um fundo específico para a capacitação profissional, democratizando o acesso ao conhecimento que verdadeiramente libera as pessoas para o exercício pleno da cidadania.
O que importa é a sincronia das três manifestações, diferentes apenas no jeito de expor a mesma posição. Tanta unanimidade só indica uma resolução “tirada” pela oligarquia partidária, no seguimento da ação começada com o fracassado Conselho Federal de Jornalismo e que terá continuidade na “democratização dos meios de comunicação social”, seja o que isso signifique, afora a montanha de “dinheiros não contabilizados” em bolsos politicamente corretos.
A tática é criar uma imagem negativa da imprensa para restringir a liberdade de informar. Fica bem clara a intenção na sugestão maliciosa de que foram os jornais e as emissoras de rádio e tevê que impediram a consagração triunfal de Lula no primeiro turno.
Ora, é só examinar o pânico do presidente-candidato e sua movimentação febril por todos os quadrantes da rosa dos ventos, no intervalo entre o primeiro e o segundo turno, para se perceber que ele gestionava reassegurar o apoio das oligarquias com as quais os governantes deste país tem se elegido, todos sem exceção, ele incluído na relação, desde o primeiro mandato.
Era claro o recado que os oligarcas lhe tinham mandado, diante da empáfia com que se conduzia, embalado pela diferença cavalar que as pesquisas de opinião lhe concediam. Tanto foi assim, tanto foi que ele entendeu o recado e se comprometeu a volta a ser um bom menino, comprova-o a transferência para Lula, no segundo turno, de mais de dois milhões dos votos obtidos por Alkimin no primeiro turno.
Não existe, sem um fato gritante que destrua a reputação de um político, tal migração de eleitores, a não ser dentro de uma esperta manobra para dizer ao sr. Luiz Inácio Lula da Silva que brincadeira tem hora e que ele se comportasse.
A comprovação, também, pode ser encontrada na sem-cerimônia com que o sr. Jader Barbalho, mesmo respondendo a processo por peculato no Supremo Tribunal, lidera as negociações para a formação do novo governo. Isso sem falar em outras figurinhas fáceis.
Chega, pois, de balelas em relação à imprensa e sua atuação. Ideologicamente a se dizente esquerda brasileira não necessita de pretextos. É só revirar o baú escondido no sótão e retirar de lá a afirmação de Lênin, de que é uma liberdade burguesa. E atentar às claras, sem subterfúgios, contra a ordem democrática.
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