quarta-feira, 1 de novembro de 2006

A carne e os açougues - Jayme Copstein

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deseja marcar o segundo mandato com crescimento econômico. É boa notícia desde que haja projeto verdadeiro neste sentido, sem o apelo a sonoros bordões, sem pé na realidade.
Seria proveitoso ao presidente a leitura de um discurso do professor Weber Figueiredo, paraninfando turma de engenheiros da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, em setembro de 2002. Pode ser localizado na Internet com facilidade.
O exemplo do professor Weber Figueiredo fala de uma vovó, fazendo uma bananada para vender a cinco reais o quilo. Um quilo de bananas custa apenas um real. Por que a diferença de preço?
A resposta é simples: quando se colhe um cacho de bananas cria-se apenas um emprego para o qual não se necessita de capacitação. Basta estender o braço e cortar o cacho. Quando a vovó faz a bananada, ela cria empregos na área do açúcar, do gás de cozinha e na indústria de fogões, panelas, talheres e embalagens.
A diferença entre a vovó e o colhedor de bananas é o conhecimento, a receita, a tecnologia para fazer a bananada. O exemplo pode ser aplicado à plaquinha do computador que pesa apenas 100 gramas e custa em torno de 250 dólares. Para pagar cada 100 gramas de plaquinha de computador, o Brasil precisa exportar 20 toneladas de ferro, ou seja, 200 mil vezes mais o peso em matéria-prima. A fabricação de placas de computador criou milhares de bons empregos lá no estrangeiro, enquanto que a extração do minério de ferro cria pouquíssimos e péssimos empregos no Brasil.
A mensagem do professor Weber é muito objetiva: sem conhecimento, não há desenvolvimento. Mas conhecimento não se adquire com bordões sonoros ou decretos. Menos ainda com a profusão de universidades que só fabricam diplomas sem gerar conhecimento. A verdade é que a abertura de novos açougues jamais resolveu o problema da falta de carne.

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