quarta-feira, 29 de novembro de 2006

A vergonha das estatais - Jayme Copstein

Bela análise das relações entre governo e imprensa, foi publicada hoje pela Folha São Paulo. Está contida em entrevista do presidente da Radiobrás, Eugênio Bucci. Deveria merecer estudo sério nos cursos de comunicação, além de motivar um debate nacional.
Bucci é presidente da Radiobrás, a agência estatal de notícias, que existe no Brasil como nos demais países democráticos. A entrevista é conseqüência de pressões de líderes do PT, para que deixe de ser uma agência de notícias de verdade e se transforme em ridículo instrumento de louvaminhas de algum “guia dos povos”, como nas jurássicas ditaduras que ainda persistem pelo mundo.
A intenção é clara tanto nas críticas à linha editorial da Radiobrás como na proposta de se incentivarem veículos “independentes”, através de gordas subvenções públicas. Como alguém pode ser independente se aceita ser pago por um governo para esconder as mazelas deste mesmo governo, foge ao entendimento. Isso sem falar que daria origem a dinheiros de mensalões e dossiês. Que nunca seriam denunciados.
Eugênio Bucci tem discernimento e coragem para dizer que cabe à imprensa analisar o governo e não o governo analisar a imprensa. Reconhece, entretanto, que jamais houve qualquer ingerência do Palácio do Planalto na Radiobrás.
Foi por isso sua equipe pôde fazer o trabalho ater agora, sempre noticiando apenas o fato e seu contexto, sem opiniões pessoais ou análises críticas.
“Cobrimos o mensalão com normalidade, buscando informações oficiais em vários lugares onde isso estava sendo apurado, nas estatais, no Ministério Público ou no Congresso. As falas das autoridades do governo entram nas reportagens da Radiobrás entre aspas, são falas de fontes que nós ouvimos, não são parte de um programa, de uma plataforma expressa da Radiobrás. Ela não existe para assumir a defesa de autoridades, ela existe para bem informar o cidadão.”
Ninguém sabe se Eugênio Bucci continuará presidindo a Radiobrás, O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda não lhe falou nada a respeito. Talvez seja difícil, a julgar-se por críticas de militantes petistas, acusando a Rádiobrás de ter vergonha de ser estatal e não ter uma narrativa própria do governo Lula, seja o que isso queira dizer.
É uma pena se não for mantido. Sua grande virtude é exatamente ter vergonha suficiente para não transformar uma agência de notícias em uma sinecura para os sanguessugas de plantão. Os que fariam aquela narrativa própria, qual seja de dizer que a gatunagem do mensalão só tinha por objetivo salvar a pátria.

Nenhum comentário:

Postar um comentário