segunda-feira, 30 de janeiro de 2006

Da democracia à ditadura - Jayme Copstein

As notícias que chegam da Venezuela não são muito animadoras no que diz respeito a ser possível outro mundo. O Fórum Social Mundial, que teve quatro exemplares realizações, em Porto Alegre, onde nasceu, não foi precisamente um sucesso, em Caracas.
O problema não é tanto do número de participantes – a metade dos que compareceram em Porto Alegre – nem a desorganização do evento. Os centros de debate foram colocados distantes uns dos outros. Não houve um esquema de transportes que os integrasse a contento.
Tudo é compreensível e desculpável. Não se poderá exigir, de quem pela primeira vez organiza o evento, a perfeição ou a quase perfeição. Por inspirações pouco felizes, temperadas com alguma megalomania, o Forum foi divido por três países, daí apenas 60 mil participações na Venezuela.
O coordenador da organização do evento tentou justificar a fragmentação dos centros de debate com uma suposta ocupação de terrenos baldios para não atrapalhar a vida da cidade. Mas os relatos dos repórteres que foram fazer a cobertura em Caracas, sugerem que a desorganização correu mais por conta das medidas de segurança impostas por Hugo Chaves do que pela inexperiência dos organizadores. A sua polícia andava catando até inocentes máquinas fotográficas, com medo dos seus supostos “inimigos”.
Aí é que reside a diferença entre Porto Alegre e Caracas. Aqui, tínhamos adversários da ideologia predominante no Fórum Social, mas como vivemos em uma democracia, mas não havia necessidade de polícia para contê-los. Em Caracas, o Fórum Social Mundial foi mais um lance de propaganda pessoal de Hugo Chaves, que como todo o ditador não tem adversários. Todos seus oponentes são inimigos – e inimigo não se poupa.
Aí é que os noticias desta troca infeliz, Porto Alegre por Caracas, tornam-se desanimadoras. Se esse mundo melhor, apregoado pelos mentores do Fórum, é uma ditadura no velho modelo latino-americano, vamos ter que esperar por outro idealismo, que comece com a palavra liberdade. Sem ela, não se constrói nenhum mundo – só se escraviza os mais fracos.

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