terça-feira, 24 de janeiro de 2006

Surdez histórica - Jayme Copstein

Faz dias que o veto norte-americano à venda de aviões militares da Embraer à Venezuela, está nos jornais. Posto no noticiário como atentado à soberania brasileira, agora é objeto de discordâncias entre o ministro – nem tanto – de Relações Exteriores, Celso Amorim, e o assessor – bem mais – de Relações Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia.
Enquanto Garcia, com inédita habilidade, sai da reta, alegando que se trata de uma questão comercial, envolvendo empresa privada sobre a qual o governo não tem a menor ingerência, Celso Amorim faz o gênero “pisaram nos meus calos”. Nenhum dos dois – ninguém, aliás – toca no ponto principal: ainda que esteja entre as maiores fábricas da indústria aeronáutica mundial, a Embraer trabalha com tecnologia importada, não só norte-americana, mas também italiana.
O cerne da tecnologia já vem pronto. Só é montado no Brasil. Não há possibilidade sequer de “pirateá-lo”, que ninguém é tolo de entregar o ouro sem mais aquela. Quem apenas intermedeia vendas, só pode entregar ao comprador o que o fabricante permite.
O nosso problema é a falta de pesquisa e conseqüente conhecimento tecnológico e científico. Em 1930, logo após a Revolução que arquivou a República Velha, Lindolfo Collor tentou chamar a atenção para esta debilidade diante do entusiasmo provocado pelo processo de industrialização do país. Sentenciou: “De indústria, o Brasil só tem o local do crime.”
Continua sendo verdade. Só que ninguém quer ouvir.

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