terça-feira, 17 de janeiro de 2006

A vez do Brasil - Jayme Copstein

Com a eleição de Michelle Basselet para a presidência do Chile, terão as mulheres adquirido presença na política latino-americana? Será apenas um acidente, um incidente ou um modismo, como tantos que banalizam o hoje-em-dia deste planeta? Ou estarão realmente ocupando o lugar que lhes cabe na sociedade, historicamente usurpado pelo homem?
O tema merece reflexão, principalmente para nós, brasileiros. A nossa imprensa, de maneira geral, tem tratado a vitória de Basselet com superficialidade. Não foi eleita por ser mulher, divorciada, socialista e agnóstica, ter dois filhos fora de casamento e manter o que se chama de união informal. Chegou lá porque é figura de proa de um governo que termina mandato com cerca de 70% de aprovação.
Os exemplos repetem-se em vários países do mundo subdesenvolvido, de predominância marcadamente masculina. Afora a Monróvia, que acaba de eleger a primeira presidente do continente africano, as pesquisas indicam que Lourdes Flores Nano poderá tornar-se a presidente do Peru em abril. Se for vencer o pleito, não será por ser o oposto de Michelle Basselet – uma líder conservadora – mas porque é a alternativa para um governo que termina o mandato com apenas 10% de aprovação.
Tudo isso nos diz respeito para que não percamos mais uma vez o trem da história. Nos últimos anos temos uma mulher, Denise Frossard, projetada para a notoriedade ao prender os temíveis bicheiros cariocas, em seu próprio gabinete de juíza, e que agora se agigantou no cenário político como um dos melhores deputados federais dos últimos 50 anos.
Denise Frossard concedeu entrevista para a revista News, órgão de divulgação da Livraria Cultura de São Paulo, edição deste mês e que ainda pode ser obtida gratuitamente ali no Bourbon Country. O seu pensamento sobre problemas brasileiros e as respectivas soluções é lúcido, sensato e com os pés fincados no chão, como poucas vezes percebe-se neste país.
A imprensa maior prestaria serviço melhor se reproduzisse a entrevista em questão. Só como pano de amostra, esta análise perfeita do Estado brasileiro: “(....) não cumpre as funções que, por definição universal, cabem ao Estado. Daí a cruel desigualdade social, a corrupção e a criminalidade recorrente. O Estado Brasileiro está voltado para atender aos partidos, às composições e aos interesses políticos, deixando de cumprir uma função fundamental, que é atender ao interesse público”.
Caberá ao eleitor, um dia, quem sabe em 2010, eleger Denise Frossard sua primeira presidente. É a alternativa para a fauna que polui e apodrece este aprazível pedaço de planeta.

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