quarta-feira, 4 de janeiro de 2006

O fim da picada - Jayme Copstein

O quadro que temos diante dos olhos nos mostra um paradoxo: o país vai bem, o governo e os políticos vão muito mal. Donde se deduz que o país andaria bem melhor, se a nossa política não tivesse se contaminado com toda a espécie de delinqüentes que transformaram o patrimônio público em butim de cangaceiros.
“É o fim da picada”, escreve Marcelo Carvalho, de Porto Alegre, ânimo demnolido e pensando até no voto branco ou no voto nulo, não levando em conta que a abstenção não impedirá o acesso dessas pessoas aos cargos eletivos.
O que estamos todos sentindo na carne, é o esgotamento do presidencialismo. Paulo Brossard em artigo publicado segunda-feiras em Zero Hora, sintentizou com notável precisão os seus defeitos e malefícios do sistema: trata os governos, sejam bons ou maus, com a mesma cega inflexibilidade.
O presidente tem dia e hora certa para sair, pouco importa que seja um estadista e devesse seguir conduzindo a Nação aos seus mais altos destinos; ou um demagogo incompetente que devesse ser alijado com urgência, por conduzir a Nação ao caos. O povo há de ficar lamentando a ausência prematura do primeiro, tão logo o mandato se esgote, há de sofrer e suportar a presença do segundo até que o interminável mandato se esgote.
O parlamentaristmo oferece a manutenção ou a correção do rumo, sempre dentro da mais absoluta legalidade. Os exemplos se multiplicam pelo mundo afora. Clássico é o da Inglaterra que chamou Winston Churchill, líder de personalidade forte, quase beirando ao autoritarismo, para resgatá-la da derrota que se desenhava na guerra contra os nazistas. Sobrevindo a paz, na primeira eleição havida, o eleitor inglês entregou reverentemente o boné a Sir Churchill porque os tempos eram outros. Estavam todos muitos agradecidos mas as necessidades do país tinham mudado.
Haverá quem pergunte, como de outras vezes em que o assunto foi abordado aqui – parlamentarismo com esses políticos que aí estão?
Não, com esses políticos que aí estão, conduzidos ao Congresso pela perversão chamada voto proporcional, não. Torna o mandato propriedade do eleito. Não tendo ele nenhuma satisfação a dar aos eleitores, com facilidade transforma o patrimônio público em butim, se cangaceiro for.
A reforma política mais urgente é a instituição do voto distrital. Aquele em que, olho no olho, o político diz ao eleitor do distrito o que se propõe a defender. Aquele em que, também olho no olho, o eleitor cassa o mandato do político se ele trair o voto que recebeu.

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