O ladrão que furta para comer, não vai nem leva ao Inferno; os que não só vão, mas levam, são os ladrões de maior calibre e de mais alta esfera. Não são só ladrões os que cortam bolsas ou espreitam os que se vão banhar para lhes colher a roupa; os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem se atribuem o governo das províncias ou a administração das cidades, os quais já com manha, já com força roubam e despojam os povos.
Os ladrões pequenos roubam um homem, os grandes gatunos roubam cidades e países. Os ladrões pequenos furtam por sua conta e risco; os grandes gatunos roubam sem temor perigo.
Se alguém acha que estas palavras referem-se aos tempos escabrosos que vivemos hoje no Brasil, enganou-se. São parte do Sermão do Bom Ladrão, escrito pelo padre Antônio Vieira em 1665, para ser pronunciado na Igreja da Misericórdia de Lisboa.
Passados 341 anos, o mesmo sermão poderia ser pregado na Catedral de Brasília. O padre Vieira denunciava a corrupção que corroia as entranhas do império português e veio, afinal, a destruí-lo.
É a mesma desgraça que impede o Brasil de prosperar e enriquecer, e seu povo, de viver em paz e ser feliz. E que pode destruí-lo também.
sexta-feira, 20 de janeiro de 2006
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