terça-feira, 3 de janeiro de 2006

O cantochão de São Jeferson - Jayme Copstein

Enfim, alguém das entranhas do Congresso, porém de indiscutível idoneidade moral, denuncia também o que há muito tempo temos feito aqui: um acordo para abafar o escândalo do mensalão e assegurar impunidade aos corruptos.
É o deputado Osmar Serraglio, impecável relator da CPI dos Correios, que alerta a Nação sobre o que chama de “engenharia”, no caso eufemismo e rima perfeita de patifaria.
O deputado Serraglio preserva uma linguagem contida, com toda a certeza para não se expor a um processo de cassação por denunciar a bandalheira. É só o que falta, dentro do museu de horrores em que se transformou a Câmara Federal, punir a decência. Por isso, talvez não tenha falado também do projeto mais canalha da história parlamentar brasileira: a anistia dos mensalistas cassados.
A imprensa repete o pecado anterior do mensalão, de cuja existência todos sabiam nos corredores do Congresso e só veio a furo porque Roberto Jeferson, desentendido com seus parceiros, decidiu jogar o esterco no ventilador. Ninguém fala que o maremoto de Jeferson, refluiu após ele ameaçar Zé Dirceu em público com os seus “mais baixo instintos”. Cobriu a cabeça de cinzas e o perdoou franciscanamente. Nos corredores, o coro está entoando o cantochão: “É dando que se recebe”.

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