sexta-feira, 7 de julho de 2006

A aritmética dos espertos - Jayme Copstein

É possível fraudar pesquisas eleitorais?
A pergunta nasceu de troca de idéias com o jornalista Sérgio Reis, a respeito da falácia de que a atual eleição presidencial já estaria resolvida no primeiro turno, antes de começar a campanha.
A resposta é “sim”, mas não exclusivamente pesquisas eleitorais. Pode-se fraudar qualquer coisa, mas os institutos de especializados não teriam o menor interesse em fazê-lo. Ao contrário das aparências, eleições não têm grande importância para eles. Pesquisas eleitorais funcionam como propaganda da eficiência do trabalho..
O forte dos institutos de pesquisa é detectar o comportamento do homem comum, diante de determinadas situações, desde sentar-se na mesa do bar até empurrar o carrinho no supermercado. Tudo tem em vista a criação, o lançamento e a aceitação de novos ou revitalização de velhos produtos. O perfume do sabonete que embeleza 9 entre 10 estrelas de cinema ou a cor da embalagem da ração do cãozinho de estimação resultam de pesquisa.
É daí que vem o grosso do seu faturamento. Prever com grande aproximação o resultado de um pleito mostra como conhecem o ofício e enriquece sua confiabilidade. São extremamente técnicos e cuidadosos no levantamento dos dados, com mecanismos para prevenir fraudes. É o chamado universo de confiança, apurado repetindo a mesma pesquisa 100 vezes, na mesma camada da população. Em 95% dessas pesquisas obtém-se o mesmo o mesmo resultado; em 5% dos casos surgem disparates.
Os 95% repetidos constituem o universo de confiança. A pesquisa também é realizada várias em cada zona com pesquisadores diferentes, para evitar que preferências ideológicas ou até eventual desonestidade pessoal possa falsificar os resultados.
A fraude, pois, não é dos institutos, mas de quem interpreta as pesquisas. É o nosso famigerado jeitinho, que não passa de consumada malandragem.
No pleito deste ano, o “jeitinho” começou liquidando a eleição presidencial ainda no primeiro turno, excluindo dos dados recolhidos que 45% dos eleitores ainda não tinham decidido em quem votar ou mesmo se votariam em branco ou anulariam o voto. De forma que os 130 milhões de eleitores ficaram reduzidos a 60 milhões de votantes, bastando 30 milhões e 1 voto - menos de 30% dos 130 milhões de eleitor, para somar a maioria absoluta.
O jeitinho não parou aí. Como é preciso manter baixo o número dos votos válidos, uma bem orquestrada campanha de voto em branco ou anulação de voto foi estimulada, a partir da desilusão do eleitor com a corrupção generalizada da classe política. Sem dizer, também, que a recusa de participar na votação favorece o candidato de partido de militantes mais engajados e mais disciplinados. Em outras palavras, ao se omitir e reduzir à metade o universo dos votantes, o eleitor está votando em dobro no candidato que ele repudia mais do que os outros.

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