terça-feira, 18 de julho de 2006

Santos Dumont, seu lugar no céu - Jayme Copstein

Comemora-se este ano o centenário do primeiro vôo bem sucedido de um artefato mais pesado do que o ar. É o que hoje chamamos de avião. Naquela época era aeroplano. A efeméride reacende a velha polêmica que confunde a primazia do vôo com a invenção do próprio avião.
Quem inventou o avião? Ninguém. Resultou de longo aperfeiçoamento, começado sabe-se lá quando, que tem até historinha de grego: Ícaro, despencando do céu porque chegou muito perto do Sol e a cera que prendia suas asas derreteu.
Quem voou primeiro com algo mais pesado que o ar, que conseguisse subir com energia gerada dentro do próprio artefato, foi indiscutivelmente Santos Dumont. Está registrado oficialmente como recorde no Aeroclube de Paris, testemunhado por uma multidão e perpetuado por filmes e fotografias.
O vôo dos irmãos Wright, também documentado pela imprensa, em 1903, três anos antes, sequer se aproximava deste feito. Mal-comparando, era como se fosse um desses aviõezinhos de papel que a gente lança com a força do braço. Muito maior e pesado, precisava de uma catapulta para planar no ar. Não haveria braço que o fizesse decolar.
O problema é que a polêmica esconde, até de nós, brasileiros, o lugar bem mais importante que Santos Dumont ocupa na história da aviação. Deve ser equiparado a Cristóvão Colombo e a todos os descobridores que libertaram o homem para a civilização. Foi ele quem percebeu que os balões flutuam no ar como os barcos flutuam na água. Neles adaptou um motor de automóvel aos balões, para não depender do vento, e também o leme que permitiu navegar para a esquerda e para a direita e voltar para o ponto de partida. Sem isso, os balões não teriam nenhuma utilidade prática.
Mais tarde, o problema se apresentou com os aviões, para fazê-los subir e descer sem que se esborrachassem no chão. De novo, funcionou o gênio de Santos Dumont. As asas do seu 14 Bis eram dotadas de caixas que se moviam para cima e para baixo, fazendo com que o ar impelisse o avião para o alto ou o trouxesse suavemente para a terra. Sem essa descoberta, não teria havido aviação. Sem Santos Dumont, teria demorado muito mais para ser descoberto.

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