quarta-feira, 19 de julho de 2006

O jogo da verdade - Jayme Copstein

O julgamento de Suzane Richthofen e dos irmãos Cravinho é um espelho da hipocrisia que preside os julgamentos pelo Tribunal do Júri no Brasil. O que menos parece importar é a apuração da verdade.
A título de permitir o amplo exercício da defesa, temos apenas a imitação barata de filmes norte-americanos de terceira categoria. A única verdade apurada do espetáculo de mau-gosto é que “ampla defesa” não passa de carnaval para embotar o entendimento dos jurados, para dissimular impunidade à disposição de quem possa pagar bons advogados.
Há de tudo nesse julgamento, até agressão à própria legislação que define o ritual do nosso Júri. Depoimento de testemunhas em plenário só é admissível diante de fator superveniente – alguém que saiba algo não conhecido no correr do inquérito judicial, relevante para a apuração dos fatos.
O defensor dos Cravinho arrolou quase uma dezena de testemunhas, a mãe do acusado e vizinhos amistosos que, de repente, descobriram: os meninos são muito bonzinhos, apenas arteiros. Têm como passatempo predileto massacrar a bordunadas um casal milionário adormecido.
O advogado de Suzane não fica atrás. Admitiu publicamente estar escamoteando um argumento-bomba para o final do julgamento. Artimanha para confundir ainda mais os jurados, obstrução da justiça e infração à ética, só induz a uma indagação: por que o mesmo espetáculo de ampla defesa não está presente no julgamento daqueles assassinos e estupradores do casal de namorados Liana Friedenbach e Felipe Caffé?
A brutalidade foi a mesma nos dois crimes. A diferença é a herança milionária dos Richtofen.
É a única verdade em jogo.

________________________

Comentários:

Jaime Gimenez Jr:
Por falar em hipocrisia...se a Suzane fosse uma favelada talvez o assunto não estivesse nem no jornal do bairro.

Blog: Vocês já acessaram o site do Gimenez? Pois cheguem em www.jgimenez.fot.br que vale muito à pena. É um banho de bom humor e inteligência.

Anônimo: Discordo deste tipo de comentário, que "se Suzane fosse pobre". Acho o contrário, se Suzane fosse pobre, certamente um juiz "bem brasileiro", fazendo "justiça social" diria que ela é uma coitada, uma vítima da exclusão social, que "foi levada" a cometer o crime pela sociedade, quem sabe até mereceria uma indenização do governo por isso. E por favor, não me digam que não é bem assim: se alguém sem um tostão furado, por exemplo, roubar R$ 100.000,00, e for preso, não se é cobrado o dinheiro dele, afinal, ele é pobre, coitado. O prejuízo fica para quem foi roubado, e o ladrão sai livre leve e solto no máximo em meia dúzia de anos... É ou não é "totalmente excelente"??

Um comentário:

  1. Anônimo12:50 PM

    Discordo deste tipo de comentário, que "se Suzane fosse pobre". Acho o contrário, se Suzane fosse pobre, certamente um juiz "bem brasileiro", fazendo "justiça social" diria que ela é uma coitada, uma vítima da exclusão social, que "foi levada" a cometer o crime pela sociedade, quem sabe até mereceria uma indenização do governo por isso. E por favor, não me digam que não é bem assim: se alguém sem um tostão furado, por exemplo, roubar R$ 100.000,00, e for preso, não se é cobrado o dinheiro dele, afinal, ele é pobre, coitado. O prejuízo fica para quem foi roubado, e o ladrão sai livre leve e solto no máximo em meia dúzia de anos... É ou não é "totalmente excelente"??

    ResponderExcluir