Será que a Câmara Federal pretendeu desviar a atenção da imoralidade em que refocila, aprovando a tolice da deputada Iara Bernardi, mandando discriminar “brasileiros e brasileiras”, nos documentos oficiais? Se foi, revela outra imoralidade: desatenção, omissão e ausência, quando não está em jogo “o quanto vou levar” ou “o que vem do orçamento para meu feudo eleitoral”.
Não há nenhuma novidade na papagaiada. Foi inaugurada por Zé Sarney, na época chamado ladrão de terras com todas as letras, mas hoje o mais chegado amigo de infância do presidente da República. Depois a linha caiu nas frases feitas de Fernando Collor de Mello, do qual não se precisa repetir o que foi dito. Seus acusadores hoje rezam pela mesma cartilha em que ele se fez político.
O mais grave de tudo é até onde desceu a ignorância neste país. Afinal, a deputada Iara Bernardi é professora, e noções mínimas de semântica, a ciência do significado das palavras, deveriam constar de seu currículo.
A palavra “gênero” não significa sexo – macho e fêmea – mas designa seres ou objetos agrupados por características comuns. Todos, homens e mulheres, pertencemos ao gênero homo, e naturalmente à espécie homo sapiens, para designar os antropóides dotados de inteligência. Será que teremos de discriminar, também, a “mulier sapiens”?
É exatamente o que propôs, sem nenhuma inteligência, a deputada Iara Bernardi.