segunda-feira, 24 de julho de 2006

O demônio e suas circunstâncias - Jayme Copstein

É só uma palavra. Muda de formna, de acordo com as circunstância, mas é definitiva como sentença para condenar o “outro”, que também é “o outro” por imposição da religião ou da ideologia.
Chama-se isso “demonização”. A palavra “elite” é exemplo. Assaltam-se os cofres públicos, conspira-se contra a ordem democrática. São apenas “pequenos equívocos”. Não o roubo desenfreado, o atentado à liberdade, mas o deixar-se descobrir. O crime mesmo, a culpa, é de quem, indignado, denuncia. É uma “elite”, é uma minoria apegada seus privilégios e à moral burguesa. “Privilégios” e “burguesia” também é demonização.
Fica muito claro: o “demônio” é um só, eternamente inconformado.com os deuses que, como dizia Voltaire, inventam paraísos religiosos e políticos quando encontram otários.
Mudam as circunstâncias, variam as palavras, permanece a sentença. Na ordem dia, truculência. A de Israel. Não a do Hizbollah com seus 3.500 foguetes, de alcance médio, fornecidos pelo Irã, massacrando gente indefesa de áreas agrícolas.
Baalbeck, no Líbano, é atingida, a indignação cresce. Marcos Losekan conta em boletim da Globo que o Hizbollah instala suas plataformas de lançamento em cima de edifícios residenciais, escondendo-se no meio da população civil, para atacar sem ser revidado. A informação é fugaz. Evapora-se no boletim seguinte.
Nazaré é alvo premeditado dos foguetes do Hizbollah. Não há indignação, não se diz que monumentos históricos também são esconderijos de terroristas, não se fala que é a cidade de Jesus. Foi lá que ele nasceu. Lá não há nenhuma instalação militar.
Terá Jesus deixado de ser história e virado o demônio da vez?

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