quarta-feira, 12 de julho de 2006

Patrimônios - Jayme Copstein

Noticiário recente, destacado em todos os jornais, se não chega a insinuar o enriquecimento ilícito do presidente da República, levantou suspeitas sem nenhum fundamento. Mestre Carlos Brickmann, em sua coluna no Observatório da Imprensa, recorda aos coleguinhas lições básicas de jornalismo. Escreveu:
“A manchete sobre o patrimônio de Lula, que dobrou durante seu Governo (embora não seja nada de excepcional para um homem cujas despesas, praticamente todas, são pagas pelo Governo), traz um erro de conceito: se não há qualquer suspeita sobre o aumento de patrimônio, a manchete não se justifica. Se há suspeita, o aumento de patrimônio deve ser investigado. E, se do trabalho de reportagem resultar alguma acusação, esta sim deve ser manchete.”
Brickamnn acertou na mosca. Nossa imprensa retroage a conceitos que pareciam superados há longo tempo e nos trazem de volta o jornalismo panfletário do fim do Império e de parte da República, até esgotar-se no clímax de Carlos Lacerda e Samuel Wainer.
De novidade nem os apelidos para desmoralizar desafetos pessoais ou políticos. O que pode ter sido acrescentado são meros exercícios de ficção, impingidos como análise das pesquisas de opinião que não existiam naquela época.
O concreto é a filosofia de que o desmentido de uma notícia é outra notícia, melhor ainda. Foi herdada dos tablóides franceses que começaram a circular logo após o fim da guerra e se defrontavam com falta de credibilidade. Os jornais tradicionais tinham todos colaborado com os nazistas, ninguém mais os comprava e era preciso recapturar o leitor através das manchetes gritantes e de um pesado sensacionalismo.
É uma filosofia inadequada para os tempos de hoje em que o jornalismo impresso confronta-se é com a agilidade da mídia eletrônica, com a instantaneidade da internet, do rádio e da tevê. Não é retroagindo aos tempos da bodurna que se vai resolver a crise. O provável é perder-se a credibilidade, conquistada após a memorável reforma editorial do Jornal do Brasil, feita por Alberto Dines, e que equiparou qualitativamente o jornalismo brasileiro aos melhores do mundo.

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