quarta-feira, 12 de julho de 2006

Problemas de ortografia - Jayme Copstein

Ninguém fique triste com a perda da Copa do Mundo, apesar de todas as pesquisas de opinião nos assegurarem o hexacampeonato. Claro, temos de nos indignar porque em campo não nos estenderam um tapete vermelho para desfilarmos nossa soberania, em flagrante desrespeito às intenções dos apostadores da bolsa de Londres que elegeram a nossa vitória por dez a um.
Tudo tem compensações na vida. Se não somos hexacampeões de futebol e a Itália, imaginem o horror, já ameaça nossa hegemonia com seu tetracampeonato, temos outra façanha a comemorar: a invenção do voto bocal, aquele que dispensa o eleitor até de votar. Basta que revele ao pesquisador de opinião em quem pretende votar, para que os jornais estampem a vitória por maioria absoluta de intenção de votos válidos. Isso, é claro, “se as eleições fossem hoje”.
As especulações não levam em conta que a mais de 60 dias do pleito, as pesquisas mostram os 20% de eleitores indecisos ou que pretendem anular o voto e podem mudar de opinião até 1º de outubro. As eleições não são hoje.
O problema não é de intenções. O inferno delas está cheio, sem cogitar sejam boas ou más. O problema é a ortografia do voto bocal. Como se escreve esse “bocal” – com ou sem cedilha? Não é uma questão acessória diante da legislação que permite manipulações, mas proíbe jornalistas de rádio de tevê de abordar especificamente temas eleitorais.
Haverá boçalidade maior do que essa?

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